Ferramenta mantém perfil tuitando após a morte do usuário
Algoritmo analisa postagens, interpreta gostos e sintaxe e inteligência artificial tenta imitar tweets e manter conta ativa após a morte do usuário
O que você acha de manter seu perfil no Twitter publicando mensagens para seus seguidores mesmo depois da sua morte? Ou que tal escrever uma mensagem que só será revelada aos seus amigos depois que você se for? Enquanto a vida após a morte continua sendo um mistério para a humanidade, a vida online pode seguir adiante: basta que o usuário faça essa decisão enquanto ainda vive e se registre em canais específicos, como o recém-lançado Gerenciador de Contas Inativas (Innactive Account Manager, em inglês), do Google.
As opções são crescentes. Um desses serviços é o LivesOn. Ainda em fase de programação e prestes a entrar no ar, a ferramenta cria um perfil secundário e privado com um único seguidor: o usuário. Esse perfil analisa as postagens que esse usuário faz em vida, tentando interpretar o que ele gosta, quem ele segue, sua sintaxe e que tipos de conteúdo publica.
É só depois da morte que a "magia" realmente acontece: segundo o criador do serviço, a inteligência artificial da ferramenta, depois de analisar essas informações, continua publicando tweets, imitando as postagens do usuário quando era vivo. Isso só ocorre, porém, se um "executor" escolhido pelo dono do perfil der a permissão para que essas postagens se tornem públicas.
"Para mim, isso não é mais esquisito que qualquer vida após a morte prometida por uma religião organizada, ou do que a ameaça de um inferno. É um sinal dos nossos tempos, vamos explorar isso", afirmou o criador do serviço, Dave Beedwood, em entrevista ao Terra.
"Eu acho que é uma noção muito interessante, o que constitui o que somos, se o algoritmo pode refletir as sinapses de alguém que amamos. Pode ser incrivelmente irritante ou assustador, ou pode ser reconfortante", afirmou Beedwood, reforçando que o algoritmo de inteligência artificial do serviço é apenas o começo do experimento. "Mas eu acho que pode ser feito."
Para ele, o serviço vai muito além dessa visão futurista de uma inteligência artificial tuitando após a morte. "Nosso produto será capaz de criar algo útil para a vida de hoje. Isto é, a criação de outro você, que você vai ajudar a ensinar e crescer. Este outro você, então, será capaz de ajudá-lo com a sobrecarga de informação que vivenciamos hoje. Enquanto você continua com o trabalho, a sua versão LivesOn vasculha a internet e encontra as coisas que você gosta, notícias, entretenimento etc", avalia.
A ideia para o projeto surgiu em 2011, durante trabalhos na agência de publicidade em que trabalha e onde realiza diversos trabalhos em mídia social. Hoje, uma equipe de cinco pessoas trabalha na programação para colocar o LivesOn no ar. Ele começará a funcionar apenas em inglês, mas pode ganhar versões em outros idiomas, dependendo da procura.
Como funciona o LivesOn |
Ao se inscrever no serviço, a inteligência artificial analisa o perfil do Twitter do usuário, aprendendo sobre gostos e o modo de escrever; |
Ele cria uma conta privada e começa a tuitar a partir dessa análise. Em vida, o usuário pode enviar feedbacks para melhorar o serviço; |
Quando o usuário morrer, um "executor" escolhido para essa função decide se esses tweets criados pela inteligência artificial devem ou não se tornar públicos. |
"Ele levanta uma questão séria, mas também é apenas uma experiência - nada, nada pode realmente fazer isso ainda. É um longo caminho de aprendizagem e tentativas", disse. Algumas pessoas tomaram o LivesOn como ofensa e pensaram que estamos tentando trazer de volta os mortos, o que não é o caso. Quando expliquei como realmente funciona, eles mudaram de opinião", disse o criador do LivesOn.
Outro serviço semelhante é o If I Die. Criado por uma empresa israelense fundada em 2010, o aplicativo no Facebook permite que os usuários escrevam uma mensagem ou gravem suas últimas palavras em vídeo. O aplicativo irá postar a mensagem póstuma assim que três amigos de confiança, que devem ser selecionados pelo dono do perfil quando ele instala o app, confirmarem a sua morte.
Segundo o diretor de marketing do serviço, Erez Rubinstein, o If I Die já conta com mais de 200 mil usuários. Ao contrário do LivesOn, que não tem planos para começar a transformar o experimento em dinheiro, o If I Die já tem uma versão premium. "Lançamentos recentemente a opção de envio de mensagens privadas, que permite que você deixe uma mensagem particular para uma pessoa de sua escolha, via e-mail ou Facebook", afirmou Rubinstein ao Terra.
Apesar de ter transformado o serviço baseado em morte em negócio, ainda há espaço para o bom humor. No ano passado, a companhia criou um concurso que pretende tornar famoso o seu vencedor. Para vencer a promoção, o participante deve fazer uma única coisa: morrer. Chamado de If I Die 1st (Se eu morrer primeiro), o concurso vai publicar uma mensagem do primeiro usuário a morrer no site de tecnologia americano Mashable, que tem 20 milhões de visitantes mensais
A expectativa dos organizadores é que a exibição global alcance 200 milhões de pessoas. Lançado em agosto de 2012, o concurso previa que o primeiro participante pudesse morrer (e, portanto, vencer o concurso), em 19 meses e 10 dias.