Mandic: 'faltam dois zeros para meu app valer US$ 1 bilhão'
Em um ano de existência, o Mandic Magic foi baixado por cerca de cinco milhões de pessoas no mundo inteiro, despertando interesse de investidores, que avaliam o negócio em US$ 60 milhões
Aleksander Mandic diz precisar de “apenas” mais dois zeros para ser alçado ao patamar dos bilionários da tecnologia. Embora a afirmação seja pretensiosa, ela vem de um dos primeiros milionários da internet brasileira, fundador da Mandic BBS em 1990. A partir de um PC 286 e uma linha telefônica, Mandic criou uma empresa com faturamento de US$ 10 milhões. Depois de vender o provedor em 1997, ele ajudou a criar o iG e retomou a Mandic como serviço de e-mail, que foi adquirida pelo fundo Riverwood por US$ 100 milhões em 2012.
O paulistano com descendência eslava é um exemplo claro do self-made man, que não chegou aos estudos superiores, mas sempre teve muita dedicação e espírito empreendedor. Se ele disser que foi sorte é mera brincadeira, porque o dia dele é dividido em duas partes: 12 horas ele trabalha e nas outras 12 horas pensa no que pode fazer para melhorar o seu negócio.
E é mais ou menos isso que ocorre agora com o aplicativo Mandic Magic, uma espécie de rede social que agrupa senhas de wifis próximos do usuário. Em um ano de existência, a ideia simples foi baixada por cerca de cinco milhões de pessoas no mundo inteiro, despertando interesse de investidores, que avaliaram o negócio em US$ 60 milhões, segundo o próprio Mandic. Confira entrevista com Aleksander Mandic:
Eu era um daqueles que esperava dar meia-noite para entrar na BBS e pagar apenas um pulso (telefônico). Quando começou a Mandic BBS sozinho, tinha alguma ideia de como ela se tornaria grande?
Tudo sempre foi susto. Começou devagar, mas explodiu em 25 de agosto de 1995, quando foi liberado o uso comercial da internet no Brasil. Lembro que nessa data eu tinha 10 mil usuários na base, e quatro meses depois tinha 40 mil. A coisa começou a crescer com o fenômeno da internet. Em 1994, nem eu, nem ninguém sonhava que a internet seria isso. A história se repete com o Mandic Magic. Fizemos o aplicativo para uso pessoal, não para vender. No primeiro dia houve quatro downloads. Um do (programador) Eduardo Mauro, um meu, outro da mulher dele e outro da minha namorada. No dia seguinte, foram dez downloads. Depois de umas duas semanas, o Eduardo me liga e diz que tivemos 40 na parte da manhã. Às 13h, foi para 100 na última hora. No fim da tarde, 1 mil. Abrimos uma champanhe, e no fim do dia tivemos 3 mil. Só ontem tivemos 33 mil cadastros.
Pelos números é possível ver como as coisas estão aceleradas agora. Existe espaço atualmente para enriquecer a partir do nada como fez com a Mandic BBS nos anos 1990, quando o Brasil não estava no foco e a internet era coisa de louco? Está mais fácil ou mais difícil?
Tem coisas mais fáceis. Agora você não precisa ter um servidor seu para fazer o download do aplicativo. Se tiver uma chuva de downloads não precisa se preocupar com a banda. Além disso, não é preciso fazer um site, apenas criar uma página no Facebook. O que está mais difícil? Praticamente tudo existe. Se você começar a fazer alguma coisa, é difícil não ter concorrente. Tivemos sorte com o Mandic Magic.
Alguma empresa já mostrou interesse em adquirir o aplicativo? Quanto acha que ele vale hoje?
Já recebemos proposta de investimento e estamos conversando. O meu sonho é fazer o Mandic Magic virar uma empresa de nove zeros. É possível, porque o WhatsApp e o Waze já fizeram. Ainda falta um montão, mas US$ 60 milhões está valendo. Sete zeros já temos. Procura-se mais dois zeros (risos).
Você investe em startups? É um daqueles “investidores-anjos”?
Não. Todo mundo vem com ideias pedindo dinheiro para mim. Eu digo: pessoal, a gente está na mesma canoa. Eu tenho muitas ideias também, mas não tenho o dinheiro. Eu poderia investir meu próprio capital no Mandic Magic, mas não é essa minha filosofia. Na Mandic BBS (em 1990) eu investi. Peguei o dinheiro das férias, cerca de US$ 1,2 mil na época e comprei um modem.
Em 2010 você tentou se eleger deputado. Por que não deu certo? Pretende concorrer novamente?
Foi uma ideia do (ex-prefeito de São Paulo Gilberto) Kassab. Após o fenômeno Obama de usar a internet para se eleger nos Estados Unidos, ele veio para mim e falou para me candidatar. Tive apenas 11 mil votos. Fiquei decepcionado, porque precisava de 100 mil para entrar. Mas o Afif Domingos ficou encantado, e disse que é muito difícil ter 500 votos na primeira candidatura. Mas não vou tentar novamente, não é o meu perfil.
Qual a sua opinião sobre a velocidade da internet no Brasil? O que é possível fazer para melhorar?
Melhorou muito com o 4G. O problema é o que você chama de Brasil. Se você chama São Paulo de Brasil, está razoável. Mas no interior a coisa muda. Não tem qualidade de vida. No interior não funciona. Para melhorar, é preciso “diminuir” o Brasil ou aumentar o investimento. Para ter uma banda, tem que investir no Brasil inteiro. Mas a demanda e o retorno do investimento está nas grandes capitais. Para você ter a mesma qualidade em “Rococó do Norte”, o investimento não compensa pelo pequeno número de usuários. A coisa é puramente financeira. É iniciativa privada.
Em 2008, você foi diretor de tecnologia do Jockey Club de São Paulo? Como chegou lá e qual era seu objetivo?
Eu era sócio do Jockey e fui convidado pelo presidente na época. Eu sou orientado a bits. Queria fazer o monitoramento digital dos cavalos, como na Fórmula 1. Além disso, queria desenvolver um sistema de apostas via aplicativos, mas não deu. O pessoal lá ainda pensa só em cavalo. Como no jornal, quando só pensa no papel e não na notícia.
Qual sua opinião sobre o Marco Civil da internet?
Compare a nossa Constituição e com o tamanho da Constituição americana. É fininha e pontual, enquanto a nossa é uma Bíblia. Baseado nisso, temos que ter Marco Civil porque é muita confusão, a lei é dúbia. Lá não tem exceção.