iPhone ainda é celular de rico? Preço alto no Brasil amplia busca por usados
Alguns usuários preferem modelos mais antigos da Apple, como o iPhone 8 do que um celular atualizado da Samsung; entenda os motivos
Enquanto os smartphones se tornaram uma parte fundamental da vida cotidiana de muitos brasileiros, a questão de se o iPhone ainda é um "celular de rico" no país se tornou um tópico de discussão crescente, devido aos preços altos do aparelho no país.
A diferença técnica entre os aparelhos da linha e os rivais nos primeiros anos da era dos smartphones — entre 2007 e 2012 — tornou a Apple uma gigante e convenceu muita gente a desenbolsar uma grana pelos modelos. Hoje é o inverso; a concorrência não raro sai na frente nas inovações.
Por exemplo, em 2019 a Samsung lançou o Galaxy S10, um modelo com capacidade 5G. O recurso só chegou na Apple com o iPhone 12, no ano seguinte. Além disso, a empresa sul-coreana é líder em celuulares dobráveis, como as linhas Galaxy Z Flip e Galaxy Fold. Até o momento, nenhum iPhone conta com essa vantagem.
Mesmo com a boa concorrência ameaçando, a mítica da Apple no segmento premium segue firme e forte até hoje e a deixa em posição forte até mesmo no Brasil, país cujos iPhones estão entre os mais caros do mundo.
O serviço StatCounter diz que a Samsung é líder de celulares no Brasil, com 37,14% do mercado até agosto deste ano. A Motorola tem 18,81%, e a Apple, 17,81%. As estatísticas são baseadas em dados coletados pela plataforma em sites com mais 5 bilhões de visualizações de página por mês.
Em paralelo, quem ainda é adepto dos modelos da Apple mesmo sem muito dinheiro para investir ajudou a impulsionar o mercado de iPhones usados por aqui.
A Trocafone, empresa brasileira de venda de aparelhos usados, afirma que há quatro iPhones entre os dez smartphones mais vendidos no primeiro semestre. O iPhone 11 está em primeiro; o XR, em segundo; os demais são o iPhone 8 e 8 Plus — estes últimos foram lançados em 2017.
Ao mesmo tempo que a busca por iPhones usados aumenta, concorrentes como a Samsung e Motorola continuam a lançar aparelhos de última geração. Estes operam no sistema Android, produzido pela Google, e que recebe personalizações diferentes em cada fabricante de telefones.
Quem compra iPhone usado?
No universo dos telefones móveis, a preferência pelo iPhone é influenciada por uma série de fatores. Alguns dos principais são o sistema operacional iOS, a qualidade de construção e o ecossistema de apps e programas próprios da Apple.
O iOS é um sistema operacional próprio da empresa e exclusivo para seus telefones. Como a Apple controla toda a cadeia de produção das peças dos iPhones, também é capaz de testar de criar uma experiência mais harmoniosa entre seu software e o hardware, evitando travamentos ou instalações de programas indevidos.
Já o sistema Android é usado em dezenas de marcas de celulares, que por sua vez criam modificações de acrodo com seus interesses e públicos-alvo. Enquanto isso permitiu uma maior popularização — o Android é usado em 71,47% dos aparelhos, contra 27,88% do iOS e 0,65% de outros sistemas — a qualidade dessa experiência varia de acordo com o modelo de celular, a marca e suas atualizações de sistema.
Já a construção do iPhone ocorre principalmente em empresas terceirizadas da Ásia, como a Foxconn mas é supervisionada pela empresa americana com mão de ferro, prezando bastante pela qualidade do produto final.
Por fim, os programas e apps exclusivos da Apple ajudam a fidelizar muitos clientes. Quem já guarda muita coisa no serviço de nuvem iCloud, por exemplo, não consegue levar esse conteúdo para o Google Drive com facilidade, e vice-versa.
O peso do fator preço
No entanto, um elemento que exerce um peso significativo nas escolhas dos consumidores é o custo. Com a chegada do iPhone 14 no ano passado, os preços iniciais variam entre R$ 4.800 e R$ 7.000, números que podem representar um desafio financeiro para muitos brasileiros.
iPhones usados costumam ser significativamente mais baratos do que os modelos mais recentes. Outro ponto é que modelos mais antigos da Apple ainda oferecem um desempenho sólido e uma experiência de usuário de qualidade. Eles podem atender às necessidades da maioria dos consumidores sem a necessidade de gastar muito em um aparelho novo.
O iPhone 8 usado, por exemplo, pode ser encontrado em lojas como Buscapé por R$ 900. O modelo parou de ter seu sistema operacional atualizado neste ano, com a chegada do iOS 17.
Isso torna a marca Apple acessível a um público mais amplo, incluindo aqueles que não podem arcar com o custo de um dispositivo novo.
Segundo a Allu, empresa de assinatura de celulares, o público que prefere iPhone usado é formado por consumidores um pouco mais novos, entre 18 e 26 anos, que estão buscando um smartphone que tenha uma câmera que seja de maior qualidade para as redes sociais.
Pedro Sant'Anna, fundador da Allu, separa os consumidores de iPhones em dois perfis.
“O primeiro é aquele que quer o melhor e mais novo modelo da forma mais barata e com a maior flexibilidade. É um público que quer sempre estar atualizado e com o celular do momento, tanto por tecnologia, quanto por status. Já o segundo público é composto por pessoas que desejam realizar seu sonho de ter um iPhone, porém se preocupa com custo-benefício”, explica.
Para Leticia Bufarah, diretora de marketing da Leapfone, empresa de assinatura de iPhones, o perfil predominante de quem compra ou aluga iPhone usado valoriza o desejo pela marca Apple, além de seu ecossistema e a experiência do iOS.
“Muitos deles podem já ter sido usuários de dispositivos Apple e apreciam a familiaridade com o sistema operacional. Além disso, esses clientes podem estar buscando um iPhone como status ou símbolo de prestígio a um preço mais acessível do que os modelos mais recentes”, disse.
Além disso, diz a executiva, muitos clientes valorizam a câmera e o desempenho sólidos e design dos modelos antigos. “A acessibilidade de serviços e aplicativos exclusivos da Apple pode ser um fator motivador.”
Ainda que a Apple esteja prestes a anunciar o lançamento do iPhone 15, o último lançamento da Apple ainda é um dos mais cobiçados. O iPhone 14 ainda chama bastante atenção dos clientes. Para se ter ideia, na Semana do Consumidor deste ano (entre 11 e 19 de março), o celular foi o mais vendido pela Amazon.
Fatores como status e design também podem influenciar as decisões de quem prefere comprar um iPhone novo.
“Os clientes que compram iPhones novos no Brasil muitas vezes estão dispostos a pagar mais pelo modelo mais recente e desejam ter os recursos mais avançados disponíveis. Eles podem preferir adquirir localmente para obter garantia e suporte diretos da Apple”, afirmou Bufarah.
Já Sant’Anna acredita que os clientes que ainda optam por comprar iPhones novos ainda o fazem por hábito de consumo.
“A maioria deles já o faz há bastante tempo, mas ainda não conhece ou confia em alternativas mais atrativas para obter esse mesmo aparelho”, avalia.
Esse público, diz ele, se divide entre pessoas que viajam frequentemente para fora do país, onde compram esse aparelho novo e trazem sem pagar impostos. e em quem adquire no Brasil aproveitando ao máximo as condições de parcelamento. Estes últimos se preocupam mais com o valor da parcela do que com o preço total pago pelo aparelho.
“O mercado de iPhones usados contribui para que a Apple consiga ter uma fatia ainda maior. Os iPhones novos são acessíveis para uma parcela muito pequena da população. À medida que novos aparelhos são lançados, as gerações anteriores ficam mais acessíveis e faz com que novas pessoas, antes não atendidas, tenham a chance de consumir esses produtos”, diz.
Modelos por assinatura também têm espaço
Os serviços por assinatura de celular são uma tendência crescente. Eles cobram uma taxa mensal fixa em troca de um pacote que inclui o smartphone, internet móvel e, em alguns casos, benefícios como upgrades regulares de aparelhos.
A Allu, que conta com mais de 12 mil assinantes, diz que os modelos de iPhones mais assinados pelos brasileiros são o iPhone 13 (25,2%), iPhone 14 Pro Max (11,3%), iPhone 14 (9%), iPhone 14 Pro (8,3%) e o iPhone 11 (6,5%) — todos esses com 128 GB de armazenamento, a configuração atual mais básica da linha.
De acordo com a startup, a preferência pelo modelo do iPhone 13 deve-se ao melhor custo-benefício do mercado. Ele atrai fàs da Apple que estavam em modelos menos avançados, como o iPhone 8 Plus e o iPhone X.
Outra facilidade para ter um iPhone no Brasil é a oferta por meio de operadores de celular e bancos. Estes últimos oferecem linhas de financiamento, enquanto as teles mantêm os clientes sob contrato por meio dos planos de assinatura.
“Através da assinatura, existe a possibilidade de ter um modelo antes inacessível, quando comprado no varejo, podendo ser parte de um ecossistema exclusivo que só a marca Apple oferece”, disse Bufarah.