Jejum e exercício físico combinados aumentam hormônio da saciedade em camundongos
Segundo estudo, realizar jejum algumas vezes por semana, juntamente com exercícios físicos, pode auxiliar contra mudanças inflamatórias
Um estudo com animais conduzido em laboratório na Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, publicado no The Journal of Nutritional Biochemistry, mostrou que realizar jejum algumas vezes por semana, juntamente com exercícios físicos, pode auxiliar na luta contra mudanças inflamatórias, principalmente decorrentes do consumo excessivo de gordura.
Conduzido em camundongos, o estudo focou na análise das mudanças causadas por dietas ricas em gordura saturada (neste caso, a banha de porco) no hipotálamo, uma área cerebral que interliga os sistemas nervoso e endócrino.
A nutricionista Luciana da Costa Oliveira, autora do estudo, explica que o consumo excessivo de gordura provoca inflamação no hipotálamo e desestabiliza a ação da leptina (hormônio produzido pelas células de gordura que controla a fome, a ingestão alimentar e o gasto energético). Esses fatores prejudicam “a regulação das atividades neuronais hipotalâmicas e favorecem o desenvolvimento da obesidade”.
Segundo a pesquisadora, existem estudos propondo que treinamento físico e o jejum intermitente, isoladamente, são eficientes para o controle das atividades hipotalâmicas e neuronais, mas que esta é a primeira vez que se avalia a potencialização desses benefícios com a associação das duas intervenções (jejum e exercício físico).
Em seus estudos, descobriu-se que tanto a prática de exercícios físicos quanto o jejum intermitente, aliado à diminuição do consumo de calorias, foi desenvolvido para a redução do peso corporal obtido mediante uma dieta rica em gordura.
No entanto, realizar apenas uma dessas atividades elevou os "níveis de insulina, leptina, resistina e Tnf-alfa", ao mesmo tempo que prejudica a toxicidade no hipotálamo. “Fazer só jejum intermitente leva a uma resposta diferente do que fazer o jejum intermitente e treinar em jejum.”
Treino em jejum para seres humanos
Luciana afirma que seu estudo tratou de um campo ainda pouco investigado, porém, destacou a eficácia da combinação de estratégias (jejum intermitente e treinamento) no controle da inflamação e na regulação dos hormônios que controlam a fome, como a leptina, por exemplo. Contudo, esses achados são referentes a animais de laboratório.
A suspensão do jejum intermitente em humanos continua sendo um assunto controverso entre cientistas e profissionais de saúde, sem um acordo sobre possíveis vantagens.
Vivian Suen, especialista em metabolismo energético e docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, afirma que a literatura científica tem evidenciado alguns benefícios do jejum. No entanto, os estudos em humanos ainda são escassos, prolongados em um curto intervalo de tempo, com um número limitado de indivíduos estudados e diversos métodos de jejum intermitente.
Segundo a professora, é essencial lembrar que ainda não são conhecidos os efeitos colaterais da prática em humanos a longo prazo, nem se são sustentáveis, o que pode trazer “possível piora da qualidade de vida; a pessoa pode desenvolver padrão alimentar distorcido, apresentar tontura, dor de cabeça, náusea e deficiência nutricional, caso seja realizado a longo prazo.
Jejum intermitente e controle da fome
Para o estudo, um nutricionista alimentou por oito semanas camundongos machos e sedentários de oito semanas (considerados adultos) com uma dieta rica em gordura. Em contrapartida, um segundo grupo de animais recebeu uma dieta balanceada.
Depois desse intervalo, foram selecionados de forma especulativa uma parcela dos animais que se alimentaram com muita gordura e os submeteram a intervenções durante seis semanas: um grupo realizou atividades físicas; outro, manteve um jejum intermitente de 24 horas em dias alternados; e um terceiro grupo fez a combinação de jejum com exercício.
A atividade física desse terceiro grupo era praticada ao final do período de jejum, mas antes de comer novamente (o que seria o “almoço deles”).
“Eles treinaram no final do jejum e isso fez com que eles tivessem respostas mais fortes no controle das vias de inflamação e da resposta dos hormônios”, informa a pesquisadora.
Como resultado, observou-se que, além do aumento de peso, os animais que consumiram uma dieta hiperlipídica apresentaram um cérebro significativamente mais inflamado do que aqueles que consumiram uma dieta equilibrada (com pouca gordura saturada).
Após jejum e exercícios físicos, as análises nos tecidos do hipotálamo revelaram "uma diminuição nas proteínas inflamatórias hipotalâmicas, corrigindo a inflamação causada pela dieta rica em gordura e o aumento de peso".
A pesquisa também apontou que, entre os animais submetidos ao jejum intermitente e ao exercício físico, a pró-opiomelanocortina (POMC), um neurônio hipotalâmico estimulado pela leptina, desempenham um papel crucial no controle da fome e na manutenção do peso corporal.