Jovens dos anos 2000 têm mais sintomas de depressão e ansiedade que os de 1990
Estudo britânico mostrou que a geração nascida nos anos 2000 apresenta transtornos emocionais mais cedo e por mais tempo do que os nascidos na década de 1990
A geração nascida nos anos 2000 tem sintomas de ansiedade e depressão mais cedo e por mais tempo do que a dos anos 1990, segundo levantamento feito no Reino Unido por uma equipe científica de três universidades diferentes. Foram entrevistados os pais de quase 20 mil participantes de ambas as faixas etárias, com perguntas desde as dificuldades enfrentadas por cada geração às suas habilidades, mostrando sintomas emocionais e físicos de transtornos mentais.
- Adolescentes e tecnologia: como manter essa relação saudável?
- Jovens que ficam online mais de 9 horas por dia podem sentir mais ansiedade
O primeiro grupo compreendeu 10 mil pessoas nascidas entre 1991 e 1992, enquanto o segundo abarcou 18 mil nascidos entre 2000 e 2002. Entre os sintomas registrados pelos cientistas, estavam sentimentos de medo e nervosismo, no quesito mental, e dores de barriga, no aspecto físico.
Segundo os dados, a geração de 1990 conseguiu manter estabilidade emocional até depois do início da adolescência, em média, enquanto a dos anos 2000 começou a ter sintomas emocionais a partir dos 9 anos de idade, com pico nos 14 anos (idade em que diferença geracional também foi a maior) e prevalência em meninas em meados da adolescência.
O estudo não conseguiu definir exatamente o que causou a diferença na incidência de transtornos emocionais entre os jovens de cada geração, mas há algumas sugestões de problemas que podem afetar mais o início da vida nos anos 2000. Para entender melhor a questão, o Canaltech conversou com Henrique Bottura, psiquiatra e diretor clínico do Instituto de Psiquiatria Paulista (IPP).
O que causa a diferença geracional?
Segundo Bottura, um aspecto bastante discutido e cujas consequências são importantes para as gerações mais novas é o avanço tecnológico bastante acentuado das últimas décadas. Os seres humanos estão cada vez mais conectados, e a velocidade com que as informações chegam é cada vez maior e a partir de cada vez mais frentes.
Isso é influenciado e se influencia pelas mudanças rápidas de comportamento, interações sociais (inclusive as feitas em redes sociais) e formação de identidade, em uma taxa muitas vezes mais rápida do que o organismo consegue acompanhar.
Isso concorda com algumas teorias postas pelo estudo, que comenta a influência das tecnologias digitais, questões de imagem corporal, estilo de vida, interações familiares e escolares, pressão acadêmica e aspectos sociais e culturais mais amplos, como as crescentes desigualdades econômicas vistas pelo mundo. Ainda faltam, no entanto, evidências brutas para provar a ligação entre essas mudanças e o aumento de problemas emocionais.
O psiquiatra ainda comenta que os adultos das gerações mais recentes também são bastante influenciados pelas mudanças tecnológicas e parecem estar mais castigados por problemas como depressão e ansiedade. Essas questões enfrentadas pelos responsáveis por crianças e adolescentes também acabam influenciando nas relações com os que são cuidados, especialmente em aspectos sociais e tecnológicos considerados novos.
Como identificar transtornos emocionais nos adolescentes?
Influências geracionais à parte, a adolescência é um período particularmente difícil da vida, quando hábitos e estilo de vida mudam consideravelmente — as mudanças vão dos hormônios e questões corporais à construção da identidade e consolidação dos aspectos mentais.
Nesse sentido, para detectar questões preocupantes, Bottura indica prestar atenção no comportamento: a criança ou adolescente que fica muito isolado apresenta tristeza, não tem vontade de comer, diminui o rendimento na escola e passa a ter dificuldade nas relações interpessoais pode indicar necessidade de ajuda.
O psiquiatra lembra que a atenção e os cuidados não devem ser dados apenas aos que estão sofrendo, mas a todos os adolescentes, pessoas jovens que estão passando por um momento importante de formação e que precisam de apoio para enfrentar os problemas da vida de forma bem-sucedida.
Embora o mais indicado para quem está com muitas dificuldades emocionais seja consultar um psicólogo ou mesmo psiquiatra, a atenção dos pais ou cuidadores é importante, e, muitas vezes, o mais urgente é que os próprios tutores precisem de tratamento.
Como ajudar os jovens a enfrentar problemas emocionais?
Aos jovens não adoecidos, continua o médico, é primordial que exista ordem no sistema familiar, seja ele como for. Entre as atividades importantes, está o estabelecimento de uma rotina, desde os estudos à alimentação, exercícios físicos e lazer, bem como o apoio familiar na hora de falar sobre problemas e a vida social, por mais trivial que pareça.
É preciso criar uma conexão entre pais e filhos, ou entre tutores e cuidados, bem como cultivar amizades e ligações sociais. Adolescentes são indivíduos em crescimento, e a atenção e proteção ajudam muito no desenvolvimento e constituição da identidade.
Sobre a pesquisa britânica, um dos planos é buscar entender quais problemas específicos podem estar impactando a saúde mental das gerações mais novas, descobrindo, também, as diferenças entre diferentes populações, desde etnia a condições socioeconômicas e local de habitação.
Um dos limites, por exemplo, foi o reporte feito pelos pais e cuidadores, que podem ficar menos confiáveis à medida que o adolescente passa a internalizar mais os seus problemas em períodos mais introspectivos da relação familiar.
Fonte: The Lancet Psychiatry
Trending no Canaltech:
- Som da Liberdade | Por que um filme cristão virou alvo de polêmica?
- Samsung lança Galaxy Buds FE com ANC e preço acessível
- 🔥🤑 ECONOMIZE | Galaxy S22 Ultra está muito barato com cupom exclusivo
- Samsung Galaxy S23 FE estreia como novo flagship acessível da marca
- 5 motivos para não comprar o BYD Dolphin
- Galaxy S24 Ultra ganha vídeo comparativo de design com S23 Ultra