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Luísa Motta, do Larica Vegana, faz sucesso na web com comida sem carne

Influencer no interior de São Paulo acumula milhares de visualizações em vídeos de receitas veganas e sem glúten

27 fev 2023 - 05h00
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Luísa Motta é dona do canal do YouTube Larica Vegana
Luísa Motta é dona do canal do YouTube Larica Vegana
Foto: Reprodução

"E aí, seus lariquentos!"

É assim que Luísa Motta, cozinheira e comunicadora social de São José dos Campos, no interior de São Paulo, começa a maioria de seus vídeos no Larica Vegana, canal no YouTube com mais de 500 mil seguidores. 

Luísa acumula milhões de visualizações nas redes sociais preparando receitas 100% livres de crueldade animal há quatro anos. O projeto, que começou como uma atividade paralea aos estudos da faculdade, já deu na criação de e-books e até na criação de uma produtora de conteúdos sobre veganismo.

Desde que começou a produzir vídeos, receber pitacos se tornou rotina. No geral, a cozinheira afirma que lida bem e tenta absorver o melhor dos comentários, considerando sugestões gastronômicas dos seguidores e deixando com que críticos contribuam para o engajamento do canal. 

A influencer acredita que muitas pessoas têm hoje motivos "de sobra" para não serem veganos, que vão desde a falta de informação até a insegurança alimentar em um país onde ao menos 15 milhões de habitantes passam fome, segundo a Organização nas Nações Unidas

Para os que têm acesso a direitos básicos e estão em condição de fazer a escolha, a virada de chave é tirar o "eu" do centro da decisão e entender que o movimento não é sobre parar de gostar de alimentos derivados de animais — muito pelo contrário.

Ela, que ama queijo, criou o Larica Vegana justamente para se reencontrar na cozinha alinhando suas receitas preferidas a um ideal de vida maior que seus gostos pessoais: livrar espécies de sofrimento e opressão sistêmica por parte dos humanos. 

Para quem tem um canal de culinária no YouTube, receber pitaco é rotina. Como você lida com isso?

Luísa Motta: Cozinha é engraçado porque cada um tem seu jeitinho de cozinhar. Se a gente está na casa de um amigo e ele faz um processo diferente do que a gente está acostumado, é inevitável ir lá e falar 'não, faz assim', e na internet isso acontece exponencialmente. 

Eu sempre tento ver pelo lado da aprendizagem: se eu de fato estou fazendo algo errado, que na gastronomia existe um jeito mais certo, eu pego todas as dicas e vou aprendendo a cozinhar junto com a galera. Até porque, quando criei o canal, eu não sabia nada de cozinha. Foi através do Larica Vegana que de fato virei cozinheira e muito veio dessa troca com os seguidores. 

Eu também tento pensar que, sempre que o vídeo causa muito comentário, questionamento e pitaco, gera também engajamento, o que acaba sendo positivo.

Mas é lógico que as coisas podem escalar. Por exemplo, eu fiz um vídeo de ceviche usando a polpa do coco que tomou muito "hate". Ainda mais trabalhando com o veganismo, tem vezes que a galera passa do ponto. 

Existe alguma coisa que você sente falta (mesmo que não envolva diretamente alimentação) na vida não-vegana?

Luísa Motta: Eu sempre vou pensar muito mais nos alimentos mesmo, principalmente porque tenho essa relação com a cozinha. As roupas, skincare, produtos de casa, muita gente deixou essa parte pra fazer depois; ou às vezes já é um vegetariano mas ainda não é vegano porque ainda não abriu mão dessas coisas, mas pra mim foi a parte mais fácil.

O mais difícil mesmo foi largar o queijo e o ovo, principalmente o queijo, pois foram meus alimentos favoritos a vida toda. Inclusive, os queijos veganos, livres de sofrimento animal, também são um dos meus alimentos favoritos.

Eu acho até um pouco ilusório a gente falar que se tornou vegano e não sente falta de nada. Eu confio que muitas pessoas possam não sentir, mas aqui do meu lado eu sinto falta e eu acho que é muito interessante quando você se torna vegano, entender que não é porque você tem vontade de consumir algo que necessariamente você vai consolidar esse consumo.

Exatamente por eu ter essa memória afetiva muito grande com alimentos que vão carne e produtos de origem animal, veio a minha ideia de criar o Larica Vegana, para fazer todas essas comidas em versões 100% livre de crueldade animal e mostrar que nem sempre a gente precisa estar escolhendo entre a nossa vontade e aquilo que a gente acredita. 

Qual a receita que te deu mais trabalho até hoje? Poderia descrever como foi?

Luísa Motta: Existem muitas receitas porque, além do veganismo, aqui a gente faz tudo sem glúten. Então muitas das coisas que as pessoas compram prontas normalmente a gente começa do zero. 

Mas todo ano o que dá muito trabalho pra gente são os vídeos de especial de Natal, porque normalmente a gente faz uma ceia completa, principalmente usando a carne de jaca. O vídeo começa quando a gente vai lá na praça, sobe no pé, pega a jaca e leva pra casa, e ninguém vê você fazendo isso. Depois, vai pro forno, tem toda a limpeza até poder fazer a carne e assim a gente vai começando os pratos com ela. Então carne de jaca pra gente aqui é sempre uma maratona.

Para qual país você gostaria de viajar para conhecer a culinária?

Luísa Motta: De forma geral mesmo, não pensando só no veganismo, o Japão tem uma gastronomia que eu gosto muito, em que eu busco muitas referências.

Focando numa ótica do veganismo, de novidades de mercado e produtos (que é algo que nem priorizamos muito no Larica Vegana, pois focamos nas plantas e nos processos), eu vou em breve pra Alemanha.

Um funcionário do Larica Vegana está morando lá, em uma cidade conhecida como a capital do veganismo no mundo. Então, eu estou louca pra ir lá porque lá tem de tudo: sashimi vegano, a peça de salmão pra você comer cru vegano, muitos industrializados que imitam de pertinho várias coisas que a gente conhece, e eu estou doida pra experimentar um pouquinho desse mundo também.

Qual a sua desculpa favorita que as pessoas usam para "justificar" não largarem da carne e outros alimentos não-veganos?

Luísa Motta: Eu tento não olhar por essa ótica, sabe? Quando a gente fala de veganismo, a gente tem que fazer vários recortes sociais. A gente está falando aqui de uma escolha alimentar, então a gente só pressupõe que alguém pode ter essa escolha a partir do momento que a pessoa tem segurança alimentar, acesso à comida de verdade, acesso à informação, acesso a pequenos produtores orgânicos, à comida sem veneno... e quando a gente fala de um país em que a fome está se alastrando, eu acho que existem motivos de sobra pras pessoas nesse momento não serem veganas.

Mas partindo do pressuposto que a pessoa está numa situação de segurança alimentar, que teve acesso ao conhecimento e tudo isso que a gente queria que fosse pra tudo no nosso país, eu acho que o que mais me choca é as pessoas realmente acharem que o fato delas gostarem de queijo, churrasco ou comida japonesa é motivo suficiente pra você não se tornar vegano. 

Essas pessoas ainda não conseguiram se conectar com a causa, entender que é um movimento político por um grupo de espécies oprimidas, né? A pessoa ainda está se colocando no centro dessa decisão. Se fosse pra eu me tornar vegana quando eu parasse de gostar de queijo, carne ou comida japonesa, eu nunca teria me tornado porque é muito raro a gente parar de gostar.

O que eu fiz foi me reinventar na cozinha, reinventar minha vida, e nessa eu encontrei meu propósito, e eu acho que o ponto é: sempre que a desculpa tem o seu "eu" , o simplesmente "eu gosto", "eu gosto de carne", aí essa pessoa não entendeu ainda o que é o veganismo e não conseguiu se conectar. 

Fonte: Redação Byte
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