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Mandíbula de 45 mil anos pode ser presença humana mais antiga na Europa

Pesquisadores reconstruíram em 3D fóssil de homem de Banyoles, achado em 1887, e compararam com neandertais e Homo sapiens

7 dez 2022 - 16h28
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Este pode ser o fragmento mais antigo de humanos modernos na Europa
Este pode ser o fragmento mais antigo de humanos modernos na Europa
Foto: (Grün et al., J. Hum. Evol., 2006)

Uma equipe internacional de pesquisa realizou uma nova análise de um dos primeiros fósseis humanos descobertos na Espanha. Por mais de um século, ele foi considerado da espécie neandertal. Em vez disso, ele pode representar a presença mais antiga do Homo sapiens já documentada na Europa.

As descobertas do grupo — que inclui cientistas da Universidade de Binghamton e da Universidade Estadual de Nova York — foram publicadas no Journal of Human Evolution.

O fóssil em questão é uma mandíbula antiga descoberta em 1887, durante atividades de extração na cidade de Banyoles, na Espanha, e foi estudado por diferentes pesquisadores ao longo do século passado.

O osso provavelmente data de aproximadamente 45 mil a 65 mil anos atrás, em uma época em que a Europa era ocupada por neandertais, e a maioria dos pesquisadores geralmente o liga a essa espécie.

“A mandíbula foi estudada ao longo do século passado e por muito tempo foi considerada um neandertal com base em sua idade e localização, e no fato de que falta uma das características de diagnóstico do Homo sapiens: um queixo”, disse Brian Keeling, paleantropólogo da Universidade Binghamton, nos EUA.

O maxilar de Banyoles, descoberto na Espanha
O maxilar de Banyoles, descoberto na Espanha
Foto: (Grün et al., J. Hum. Evol ., 2006)

Nova análise

O novo estudo contou com técnicas virtuais, incluindo tomografia computadorizada do fóssil original. Isso foi usado para reconstruir virtualmente as partes ausentes do fóssil e, em seguida, gerar um modelo 3D para ser analisado no computador.

Os autores estudaram expressões de características distintas na mandíbula de Banyoles que são diferentes entre nossa própria espécie, Homo sapiens, e os neandertais, nossos primos evolutivos mais próximos.

Depois, aplicaram uma metodologia conhecida como “morfometria geométrica tridimensional” que analisa as propriedades geométricas da forma do osso. Isso torna possível comparar diretamente a forma geral do homem de Banyoles com os neandertais e o H. sapiens.

As análises mostraram que Banyoles não compartilhava traços neandertais distintos e não se sobrepunha aos neandertais em sua forma geral. 

Embora Banyoles parecesse se encaixar melhor com o Homo sapiens tanto na expressão de suas características individuais quanto em sua forma geral, muitas dessas características também são compartilhadas com espécies humanas anteriores. O fato dificulta uma atribuição imediata ao Homo sapiens, disseram os pesquisadores.

Por exemplo, uma das característica mais intrínseca dos H. sapiens é a presença do queixo, coisa que Banyoles não possui. 

“Fomos confrontados com resultados que nos diziam que Banyoles não é um Neandertal, mas o fato de não ter um queixo nos fez pensar duas vezes antes de atribuí-lo ao Homo sapiens”, disse em um comunicado Rolf Quam, professor de antropologia na Universidade de Binghamton. 

Segundo ele, a presença de um queixo há muito tempo é considerada uma marca registrada de nossa própria espécie.

Possível híbrido?

Ainda de acordo com os pesquisadores, Banyoles também compartilhava características com hominídeos antigos que habitavam a Europa centenas de milhares de anos atrás.

Para dar voz à hipótese, os pesquisadores compararam o osso com o de um humano moderno de cerca de 37 mil a 42 mil anos atrás, cujos restos foram encontrados na Romênia. Este é conhecido por ter características de Neandertal, mas também tem um queixo.

Os resultados da análise de DNA dessa mandíbula mostraram que o gene incluía sequências de um único ancestral neandertal que viveu quatro ou seis gerações antes.

Assim, esses cientistas desenvolveram duas possibilidades para o que a mandíbula de Banyoles pode representar: um membro de uma população desconhecida da nossa espécie que coexistiu com os Neandertais; ou um híbrido entre um membro desse grupo de Homo sapiens e uma espécie humana não Neandertal não identificada. 

Apesar disso, destacam, na época de Banyoles, os únicos fósseis recuperados da Europa são Neandertais, tornando esta última hipótese menos provável. “Se Banyoles é realmente um membro de nossa espécie, este ser humano pré-histórico representaria o primeiro H. sapiens já documentado na Europa”, disse Keeling.

Homo sapiens podem ser caracterizados pelo queixo
Homo sapiens podem ser caracterizados pelo queixo
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Qualquer que seja a espécie a que essa mandíbula pertence, Banyoles claramente não é um neandertal de uma época em que se acreditava que os neandertais eram os únicos ocupantes da Europa, escreveram. 

Os autores concluem que “a situação atual torna Banyoles um candidato principal para DNA antigo ou análises proteômicas, o que pode lançar luz adicional sobre suas afinidades taxonômicas”.

No futuro, os cientistas planejam disponibilizar a tomografia computadorizada e o modelo 3D de Banyoles para que outros pesquisadores incluam em futuras análises comparativas.

Fonte: Redação Byte
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