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"Match político": aplicativos de relacionamento podem ajudar em campanha?

Especialista em marketing político analisa estratégia usada por candidato a deputado pelo Mato Grosso do Sul, que apostou no Tinder

1 set 2022 - 05h00
(atualizado às 11h30)
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André Lacerda (PSD) usa o Tinder para fazer campanha política
André Lacerda (PSD) usa o Tinder para fazer campanha política
Foto: Reprodução/Tinder

O advogado André Lacerda, de 27 anos, decidiu disputar o pleito para deputado estadual pelo PSD de Mato Grosso do Sul (MS) nessas eleições, mas escolheu um jeito pouco convencional para a campanha. Entre as redes sociais indicadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como canais oficiais – ele tem um perfil ativo em quase todas – está listado, também, seu perfil no Tinder, o aplicativo de relacionamentos.

É isso mesmo. Lacerda, que define sua campanha como "centrada na tecnologia e na modernização", desenvolveu uma estratégia para "explorar os recursos tecnológicos" e, entre eles, está o aplicativo usado para as pessoas que estão em busca de um parceiro ou parceira.

"A mecânica do funcionamento do Tinder é diferente das demais plataformas. [...] Não tem algoritmo, é randomizado, aleatório. Seu conteúdo é entregue para pessoas além de sua bolha", justifica Lacerda, em entrevista ao Terra.

Ele ainda diz que o recurso é benéfico para campanhas que passem por muitas cidades, já que o aplicativo se baseia em sua localização por GPS para mostrar perfis e possibilitar novos matches

"Em uma mecânica de estratégia que a gente precisa acessar cada vez mais novas pessoas para ofertar as nossas propostas, isso se torna ideal para um candidato, por exemplo", justifica Lacerda sobre a escolha do Tinder.

Em seu perfil, o candidato deixa claro, desde o início, que se trata de uma campanha política e não tem interesse em encontrar um parceiro sexual. Lacerda se descreve no perfil como advogado, católico praticante, gamer e violeiro. Ele também informa ao possível match, antes da conversa, que é fundador da Federação de eSports e Tecnologia do Mato Grosso do Sul (FESPMS) e debatedor de políticas públicas. 

E quando dá match?

O "match político", como Lacerda chama, acontece quando ambos os usuários "se curtem" no aplicativo. Só assim eles terão acesso a um chat privado para conversarem sobre o que quiserem. Quem responde, garante o candidato, é ele mesmo. O assunto, ele também assegura, é focado apenas em suas propostas políticas.

Apesar da estratégia inusitada, Lacerda não é o primeiro a usar uma plataforma de relacionamentos com o objetivo de fazer campanha política. Nas eleições de 2018, o então candidato ao governo do Distrito Federal pelo Novo, Alexandre Guerra, deu o que falar ao usar o Grindr – aplicativo de relacionamento gay – para divulgar seu plano de governo. 

A estratégia parece não ter dado tão certo, afinal, Guerra perdeu as eleições para Ibaneis Rocha (MDB). No primeiro turno, o brasiliense recebeu apenas 4,19% dos votos válidos.

Alexandre Guerra (NOVO), candidato ao governo do DF em 2018, usou o Grindr para fazer campanha política
Alexandre Guerra (NOVO), candidato ao governo do DF em 2018, usou o Grindr para fazer campanha política
Foto: Reprodução/Grindr

Marketing político

Lacerda diz que não consegue mensurar quantos matches deu até o momento, mas que avalia positivamente seus esforços para conversar com cada usuário do aplicativo separadamente. Para o professor de marketing político e sociólogo, Gabriel Rossi, da ESPM, diferentemente do que possa parecer, o esforço de conversar com pessoa por pessoa não garante qualquer efeito prático na campanha.

"Em uma campanha eleitoral, é preciso alcançar bastante pessoas que estejam dentro do grupo que você segmenta", explica Rossi, que cita o período de apenas 45 dias para a campanha destet ano. "É um curto espaço de tempo, não há como alcançar um grupo de pessoas suficientes pelo Tinder".

Para o professor, uma campanha eleitora efetiva nas redes sociais é sustentada por três pilares: opiniões sobre assuntos contemporâneos; histórias de vida e política, e como isso capacita o candidato para resolver os problemas do eleitor; e, por último, as propostas.

"No Tinder, não é possível abordar tudo isso", conclui.

Além desses fatores, Rossi acrescenta que o usuário que pretendia encontrar um romance na plataforma e acaba se deparando com campanha política pode acabar rejeitando aquele conteúdo e o candidato propriamente dito.

"O candidato está indo contra o contexto estabelecido para aquela plataforma, então pode, sim, gerar uma rejeição no usuário", explica o especialista. 

Boa estratégia... para pioneiros

Em contrapartida, a estratégia de André Lacerda pode ser interessante, se for levada em conta a curiosidade que é gerada em torno do tema, segundo o professor Gabriel Rossi. O boca a boca pode ser visto de forma positiva.

"Tanto é que nós estamos aqui falando sobre isso", comenta. "É algo tão inusitado, que as pessoas querem falar. Com isso, ele conseguiu um espaço importante na mídia".

Por outro lado, o mesmo não deve acontecer com os próximos candidatos que se aventurarem pelos aplicativos de relacionamento para fazer campanha política, pois já não terá o mesmo efeito. 

"Resta saber se ele vai atingir o público que ele realmente precisa", pondera.

*Com edição de Estela Marques.

Fonte: Redação Terra
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