Meninas em vulnerabilidade têm contato com robótica pela 1ª vez e vencem campeonato
Segunda colocação em competição paranaense garantiu vaga na etapa nacional, que será disputada neste final de semana
Dez meninas de 10 a 16 anos tiveram o primeiro contato com a robótica e seus fundamentos em janeiro deste ano por meio da Associação Beneficente Dikaion em Piraquara, no Paraná. O que era para ser um passatempo logo se tornou assunto sério e, em poucos meses, as meninas conquistaram a primeira medalha em um concurso estadual da área com um projeto inovador.
Moradoras de uma área de vulnerabilidade social de Piraquara, cidade que conta com pouco mais de 100 mil habitantes, todas são alunas da rede pública e nunca imaginaram que conheceriam --e teriam acesso-- às aulas de robótica com equipamentos de última geração.
"Robótica, na minha cabeça, era que nem Transformers. Então, eu não tinha esperanças de fazer ou de gostar, porque somos de escola pública e nunca tínhamos ouvido falar sobre o assunto", diz Maria Eduarda Lima Rodrigues, uma das integrantes do grupo.
Duas vezes por semana, Maria Eduarda se reúne com as outras integrantes do grupo, que são: Anna Luisa Silva Aires de Sousa, Anne Arantes da Luz de Castilhos, Drielly Tiller Gomes, Geovana Luíza Domingues Cardozo, Heloisa de Araujo Correa, Karinny Ester de Paula Fontes, Millena Saboia da Silva, Vitoria Ferreira Szczepanik e Zhanna Victoria Abache Sifuentes.
Juntas, elas têm aulas com quatro professores --Adenir da Rosa Junior, Augusto Ernani Aristides da Silva, Pedro Henrique Alves Bertoldo e Anai da Luz Rodrigues Santos-- que ensinam sobre os princípios da robótica, inovação e tecnologia.
"Fico muito feliz que a gente trabalhe e busque fazer o que transforme a vida dessas pessoas da comunidade", diz Gabriel Ferraz, coordenador do projeto de robótica. "Elas não têm ideia das coisas que estão aprendendo aqui em comparação com alunos da rede pública sem esse acesso".
"Mudou muita coisa na minha vida. A robótica e a competição em geral te transformam em uma pessoa melhor. A gente aprende mais sobre valores importantes e aprende a trabalhar em equipe. Somos, hoje, uma família grande e diferente", declara Maria Eduarda.
Outra aluna que agradece por fazer parte do projeto é Vitoria, que conta que, antes de entrar nas aulas, sequer sabia mexer em um computador. "Aprendi isso e muito mais, fazendo pesquisas para o projeto e lendo leis do Detran". Segundo a estudante, o objetivo era se divertir e aprender. "Ganhar foi muito bom e uma surpresa, mas nós queríamos aproveitar cada minuto da caminhada até lá", explica.
Campeonato
A primeira missão no campeonato First Lego League (FLL) consistia em criar um robô, montado com peças de Lego e motores, que cumprisse determinadas funções na esteira, como andar, pegar e carregar objetos. Elas disputaram com equipes mistas de todo o Parará.
Além da área da robótica, a competição exigia um Projeto de Inovação sobre o assunto Transporte e Logística. Então, juntas, as estudantes desenvolveram em cerca de três meses um baú modular adaptado para o cotidiano de motoboys, com prateleiras, espaço reservado para capas de chuva e documentos pessoais.
"Montamos o baú a partir do problema apresentado pelos motoboys em nossa pesquisa", comenta Vitoria. "Eles reclamavam muito de desorganização, de misturar comida com roupa e objetos pessoais".
Batizado de "Tecbox", o projeto garantiu o segundo lugar no FLL e a classificação para a etapa nacional do campeonato, que acontece neste fim de semana, entre 27 e 29 de maio.
EstroGênias
As meninas fazem parte do Programa EstroGênias, criado pelo Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação em parceria com instituições privadas, que incentiva meninas na área de robótica em 25 equipes de instituições públicas brasileiras.
Elas receberam, no início do ano, conjuntos de blocos da Lego Education, sensores, motores e controlador que permitem a construção de um robô para a solução dos desafios e um dispositivo para programação que possui os requisitos necessários e compatibilidade com os aplicativos de programação. Os equipamentos são usados para aulas de robótica e ciências.
Com os equipamentos em mãos, as meninas decidiram se inscrever para disputar o primeiro campeonato e faturaram a segunda colocação. Agora, elas aguardam por bons resultados na fase nacional.