Meta remove 600 mil posts de ódio nas eleições, mas não foi o bastante
A empresa dona do Facebook e Instagram afirma ter tomado medidas para reduzir a desinformação em suas redes sociais
A Meta, dona do Facebook e do Instagram, revelou nesta segunda-feira (10) que do dia 16 de agosto até o dia 2 de outubro, mais de 600 mil conteúdos foram excluídos das duas redes sociais por descumprimento das políticas contra violência e discurso de ódio. A despeito do número, a companhia de Mark Zuckerberg não foi tão efetiva para impedir que esse tipo de conteúdo chegasse a muitos eleitores.
A empresa diz que combinou análise humana e inteligência artificial para realizar a limpeza. “A escala dos nossos serviços torna extremamente desafiador zerar a incidência de discurso de ódio e de outros conteúdos que vão contra nossas regras”, explicou. Porém, o chamado “aprendizado de máquina” foi essencial para a identificação dos posts, segundo a Meta.
Uma parte dos conteúdos, correspondente a 310 mil postagens, foi retirada por motivos de violência e incitação. Por exemplo, posts que incentivaram pessoas a levar armas de fogo aos locais de votação. A ação também foi proibida pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).
Outra razão para excluir os conteúdos foram os discursos de ódio, nos quais se enquadraram 290 mil posts, dentre os quais estavam ataques à população nordestina. Nesse caso, as postagens foram identificadas no próprio dia 2 de outubro, dia do primeiro turno das eleições, antes mesmo de as apurações dos votos serem finalizadas.
O ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem no Nordeste grande parte de seu eleitorado, e o conteúdo xenofóbico teria vindo, em grande parte, de eleitores do atual presidente e candidato Jair Bolsonaro (PL).
Postagens com datas e horários errados das eleições também foram removidas, pois podiam confundir eleitores e fazer com que pessoas não conseguissem votar. O mesmo valeu para publicações que mostravam os candidatos com o número de votação errado. Esses casos se enquadram na violação da política das plataformas por interferência eleitoral, mas a empresa não detalhou números.
No fim de semana das eleições do primeiro turno, o Facebook também removeu conteúdos com alegações falsas de que as urnas tinham “votos pré-registrados”. Tais acusações já haviam sido contestadas pelo TSE. Uma das medidas de segurança das urnas eletrônicas é a "zerésima", que mostra a quantidade de votos registrados quando elas são abertas (zero para todos).
Caso um conteúdo seja registrado como falso pelas agências de checagem parceiras, as plataformas da Meta também podem reduzir sua circulação.
De acordo com a empresa, o time global de segurança tem mais de 40 mil funcionários e "graças ao aprendizado de máquina, nossa tecnologia nos ajuda a identificar posts com alta probabilidade de violar nossas políticas para reduzir sua distribuição e, se for o caso, removê-los".
Outras ações da Meta
Além da remoção de conteúdos, a Meta também atendeu mais de 4,7 milhões de pessoas por meio do Tira-Dúvidas do TSE no WhatsApp entre 1º de abril e 2 de outubro (85 milhões de mensagens foram trocadas); ampliou de quatro para seis parceiros que atuam na verificação de fatos; criou um canal de comunicação direta com o TSE para receber denúncias; e ativou o Centro de Operações para Eleições, que acelera o tempo de resposta para ameaças.
O Centro de Operações para Eleições conta, segundo a Meta, com "especialistas em inteligência, ciência de dados, políticas públicas, direito, segurança, moderação de conteúdo e engenharia, entre dezenas de outros times".
A empresa também afirmou que rejeitou 135 mil anúncios de publicidade política, pois os anunciantes não haviam concluído o processo de autorização ou não continham o rótulo 'Pago por' ou 'Propaganda Eleitoral’. A Meta diz ainda que realizou mudanças para facilitar o acesso a conteúdos confiáveis.
Não foi o suficiente
Mesmo com todas as explicações da big tech, não foi difícil se deparar com fake news em diversas plataformas nas eleições deste ano, incluindo as da Meta.
Segundo reportagem da BBC, filhos e aliados próximos do presidente Jair Bolsonaro foram peça-chave no compartilhamento a milhões de brasileiros de desinformação sobre perseguição a cristãos durante a campanha eleitoral. Isso aconteceu em grupos de WhatsApp, Telegram e Facebook e páginas em outras redes como Instagram e TikTok.
Já no início do segundo turno, houve na internet trocas de acusações entre as militâncias dos candidatos sobre Bolsonaro frequentar a maçonaria e o suposto apoio de um influenciador satanista a Lula, todas cercadas de muita desinformação.
A Byte em agosto, especialistas defenderam que o cenário de 2022 é totalmente diferente das eleições de 2018 e muito já foi feito, mas que as plataformas sociais ainda estão longe de atacar o cerne do problema.