'Meu filho fica muito tempo no celular': veja o período ideal por idade e formas de protegê-lo
Especialistas detalham tempo máximo de telas por fase da infância e adolescência e consequências do uso excessivo na aprendizagem
O uso excessivo de celulares e outros dispositivos eletrônicos por crianças e adolescentes tem se tornado uma preocupação crescente para pais e educadores.
Psicóloga e professora do curso de pós-graduação em “Dependências Digitais: saúde mental na era tecnológica” pela Pós Artmed PUC-PR, Edwiges Parra alerta para os riscos do tempo de tela excessivo, que podem variar desde problemas de sono e concentração até o desenvolvimento de dependência digital.
Qual o tempo ideal para cada fase?
- Segundo a especialista, crianças de até 2 anos não devem ter contato algum com celulares;
- Para crianças de 2 a 5 anos, o tempo máximo recomendado é de 1 hora por dia, sempre com supervisão e conteúdo educativo;
- Entre 6 e 10 anos, o limite é de 2 horas diárias, equilibrando o uso com atividades físicas e sociais;
- Já para adolescentes de 11 a 18 anos, o tempo máximo é de 3 horas diárias, priorizando o uso produtivo e evitando telas antes de dormir.
No entanto, Edwiges Parra ressalta que o mais importante não é apenas o tempo, mas a qualidade do conteúdo acessado. Ela enfatiza a importância de incentivar atividades offline, como esportes, cursos presenciais e interação com a natureza, além de monitorar os tipos de conteúdo que crianças e adolescentes consomem.
Como fiscalizar sem invadir a privacidade
A psicóloga sugere que o diálogo seja sempre a melhor abordagem. Ela recomenda estabelecer horários e limites de acesso, monitorar conversas, usar controles parentais e acompanhar os hábitos digitais dos filhos, demonstrando interesse genuíno. O Terra Segurança Digital, com um custo mensal de R$ 4,90, tem alguns desses recursos.
Além disso, criar um contrato com regras de uso pode ajudar a estabelecer responsabilidades.
“Transforme a fiscalização em algo natural, como parte da rotina de pais que se preocupam com o bem-estar dos filhos. Experimente dizer frases como ‘nossa responsabilidade é proteger você dos inimigos invisíveis da internet’ e ‘a internet tem zonas de perigo que você ainda não reconhece’. São formas de o jovem entender que os pais são aliados, e não inimigos." - Edwiges Parra, psicóloga e pedagoga
Ela destaca, ainda, a importância de ensinar os filhos sobre segurança digital, orientando-os a nunca compartilhar dados pessoais, desconfiar de ofertas vantajosas, questionar a veracidade do conteúdo online e evitar encontros com estranhos da internet. “Ensinem-os a evitar também perfis abertos nas redes sociais e o compartilhamento de fotos íntimas.”
Edwiges Parra enfatiza que os pais precisam estar conscientes de que o uso abusivo de telas não se restringe aos jovens, mas também afeta adultos e idosos. Ela destaca a importância de os pais darem o exemplo e se informarem sobre os riscos da internet para orientar seus filhos de forma eficaz.
O papel da escola
Coordenador pedagógico do Colégio Regina Mundi, Alvaro Lima explica que o ambiente de aprendizado ideal para o desenvolvimento infantil e adolescente é aquele que estimula o exercício cerebral ativo.
“O uso excessivo de telas oferece um prazer momentâneo, induzindo a um vício em gratificações rápidas e superficiais, o que pode levar à atrofia do raciocínio. A realidade atual exige que crianças e adolescentes se aprofundem em conhecimentos, um processo que demanda tempo e paciência, qualidades que o tempo de tela excessivo tende a minar.” - Alvaro Lima, coordenador pedagógico
Ainda segundo Lima, estudos recentes demonstram que crianças e adolescentes apresentam crescente dificuldade em manter a concentração em tarefas que exigem paciência, como cálculos e escrita, o que leva à irritabilidade.
O tempo de tela excessivo, ele afirma, também afasta crianças e adolescentes da realidade, imergindo-os em um mundo virtual que impede o desenvolvimento de repertório essencial para o aprendizado.
“Como defendia Immanuel Kant, a experiência vivida é fundamental para a aquisição de conhecimento. Como escrever sobre uma cadeira ou mesa se nunca as viu? É preciso vivenciar o mundo real para criar bagagem e transferir essa experiência para o aprendizado formal", afirma o pedagogo.
O especialista conclui que crianças e adolescentes chegam à escola cada vez mais despreparados, uma vez que a tela assume o papel de raciocinar e direcionar seu foco, privando-os da experiência ativa e da construção de um repertório próprio.