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Micróbios podem formar superorganismos que se movimentam e destroem dentes

Cientistas descobriram uma nova simbiose na saliva. A união entre bactérias e fungos ajuda na movimentação e pode gerar apodrecimento nos dentes infantis

11 out 2022 - 22h40
(atualizado em 12/10/2022 às 15h16)
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Micróbios diversos conseguem formar microorganismos que se movem com muito mais facilidade do que sozinhos, descobrem cientistas. A improvável união é, especificamente, entre bactérias e fungos, e pode acontecer nos nossos dentes. O achado aconteceu enquanto eram investigados os micróbios que causam o apodrecimento agressivo dos dentes em crianças.

Notando a presença de uma união entre criaturas sob o microscópio, pesquisadores foram mais a fundo e encontraram aglomerados bactério-fúngicos na saliva, com funções emergentes que podem até mesmo caracterizar a simbiose como um novo superorganismo. Os patógenos em questão eram bactérias normalmente sedentárias — Streptococcus mutans — e leveduras que se esticam pelo corpo — Candida albicans.

Foto: Krzysztof A. Zacharski/CC-BY-4.0 / Canaltech

Simbiose microscópica

Com a ajuda da extensão das extremidades da levedura, as bactérias conseguiam "pular" de um lugar para outro do corpo. Os autores do estudo que descreve o achado, na revista PNAS, o caracterizam como "imprevisível". Já havíamos visto fungos e bactérias colaborando, sim, em biofilmes multicelulares que podem nos causar infecções, mas nosso conhecimento sobre o desenvolvimento de tais comunidades é muito limitado.

Aparentemente, as bactérias conseguem se ligar ao corpo, braços e açúcares exteriores de leveduras fúngicas. Essa rede celular consegue se ligar aos dentes humanos muito melhor do que conseguiria sem o outro elemento simbiótico — normalmente, a bactéria só se movimentaria à mercê do movimento da saliva em nossas bocas. A união também aumenta a resistência a agentes antimicrobianos e à própria escovação.

Algumas bactérias têm "braços", extensões usadas para se movimentar por aí, mas a S. mutans é, normalmente, imóvel. O fungo C. albicans também não possui grande mobilidade, mas consegue estender seu corpo e dar uma espécie de carona às bactérias. Com isso, elas conseguem saltar e se misturar a outros biofilmes próximos.

Ao testar os microorganismos em locais que imitam a textura dos dentes, os cientistas mediam uma velocidade de 40 mícrons por hora, próximo da velocidade de movimento das moléculas que curam ferimentos no corpo humano. Algumas horas depois da ligação entre os patógenos, notou-se o salto de bactérias em substratos a 100 mícrons de distância, cerca de 200 vezes o tamanho de seu corpo.

De acordo com os pesquisadores, não houve reportes de mobilidade em grupo como esse antes. Essa dinâmica fungo-bacteriana levou ao desenvolvimento de superestruturas de biofilme que podem causar danos muito maiores e mais extensos no esmalte do dente. Se pudermos, de alguma forma, impedir essa colaboração, isso pode ajudar a prevenir cavidades dentárias no futuro.

A descoberta, no entanto, vai além da questão dos dentes: ela pode ajudar a explicar o espalhamento de superorganismos similares, que podem inclusive causar doenças infecciosas ou causar contaminação ambiental em grande velocidade. A migração multicelular coletiva abre portas para possibilidades muito intrigantes, segundo os pesquisadores. Talvez a colaboração entre reinos seja muito maior do que imaginávamos.

Fonte: PNAS

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