Miséria na Cracolândia vira "dinheiro" para perfis no TikTok; entenda
Dono de conta no TikTok chegou a dizer que jogaria moedas aos usuários de drogas caso atingisse 10 mil seguidores
Usuários do TikTok estão viralizando com vídeos que exploram a miséria das pessoas que estão em situação de vulnerabilidade no Centro de São Paulo, na região da Cracolândia. A área, localizada no bairro da Santa Ifigênia, é conhecida como ponto de uso e venda de drogas.
Na rede social chinesa, usuários mostram diversas situações do dia a dia dos usuários de entorpecentes, fazem lives com a movimentação das ruas e arrecadam dinheiro de seguidores com as transmissões ao vivo.
De acordo com o G1, o perfil de ‘Jasmine Carter’ estava realizando transmissões no TikTok sobre a Cracolândia em busca de engajamento e dinheiro — recentemente a plataforma passou a remunerar criadores de conteúdo. Um recurso em lives permite que os espectadores apoiem seus criadores favoritos com presentes virtuais (figurinhas) que podem ser convertidos em reais.
Em um dos conteúdos, o perfil chegou a dizer que jogaria moedas pela janela caso atingisse 10 mil seguidores – a rede social retirou a conta do ar antes que isso ocorresse.
O perfil também estava criando fake news afirmando que havia um auxílio do governo chamado "Bolsa Crack de R$ 700 e pouco".
Usuários exploram vulnerabilidade
Esse não é o único perfil que explora a vulnerabilidade dos usuários de droga. Diversos conteúdos com a hashtag "Cracolândia" são postados diariamente no TikTok e mostram a situação caótica no Centro. "Não é um filme de Zumbi", diz a legenda do vídeo compartilhado pelo perfil "Tenente Josmir". A publicação em mais de 235 mil visualizações
@tenentejosemir
Uma pesquisa realizada pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a pedido da Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas e divulgada no início deste ano mostrou que a estimativa do número de frequentadores da Cracolândia é de 1.343 pessoas, com variações ao longo do dia. Quase 40% deles vivem no local há mais de uma década.
Ao G1, Priscila Akemi Beltrame, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo, disse que é clara a violação aos direitos humanos no conteúdo disseminado pelo perfil na rede social. "A população vulnerável tem direito à privacidade".