Mudanças nas políticas de anúncios de criptomoedas no Facebook animam o mercado
Em janeiro de 2018, o YouTube enfrentou problemas com anúncios feitos na plataforma, que eram usados por cibercriminosos para minerar ilegalmente a criptomoeda Monero, sem a anuência dos usuários, que tinham o poder de suas máquinas utilizado para a atividade sem nenhum aviso prévio ou participação nos lucros. Logo que o caso veio a público, o Facebook tomou a polêmica decisão de vetar completamente de suas plataformas publicitárias os anúncios relacionados às criptomoedas, ainda em janeiro. Na época, a publicação que apresentava as mudanças na rede social ao público dizia que as medidas adotadas eram paliativas, prometendo uma solução mais adequada para um futuro próximo.
Quase cinco meses após o veto, a rede social anunciou novas medidas sobre as publicidades voltadas às criptomoedas: a partir de agora, o Facebook receberá o cadastro de empresas anunciantes, responsáveis por enviar documentações que comprovem a licitude de suas atividades com as moedas virtuais, como "as licenças que tenham obtido, se eles negociam em bolsas de valores, além de outros documentos que embasem publicamente seus negócios", explicou uma publicação recente da rede social.
Ursos & Touros
As medidas foram anunciadas num momento em que o mercado das criptos se encontra com os valores marcadamente rebaixados. Em comparação com os valores atingidos pelo Bitcoin na época em que os anúncios do YouTube mineravam moedas digitais de forma ilegal, hoje a rainha das criptomoedas vale menos de um terço do que chegou a valer.
Por mais que a oscilação dos valores de mercado das criptomoedas possa assustar quem tem interesse em investir, especialistas em moedas digitais dizem que pode ser um dos melhores momentos para se aventurar no mercado. É o que afirma Luciano Rolim, coordenador de novos negócios da Atlas Quantum, empresa de atuação global em investimentos com criptomoedas: "Para muitos investidores, é justamente pelo fato de ser um período de baixa que o momento é oportuno para quem acredita no futuro das criptomoedas. Muitas pessoas começam a investir nesse mercado após estudar as suas vantagens e acreditar que as moedas digitais possuem um grande potencial, seja como um meio de troca global e sem intermediários ou como uma reserva de valor digital."
Ele explica que a prática de comprar valores quando eles estão na baixa para segurar as posses e vendê-los quando subir pode não só ser uma forma de lucrar individualmente, como também pode contribuir para um momento de alta das cotações das moedas digitais, uma vez que uma maior procura significa ascenção dos preços de mercado: "Se essas vantagens forem verdadeiras, isso significa que no longo prazo mais pessoas estão usando Bitcoin e outras criptos, aumentando a demanda e o preço delas. Por isso muitos entusiastas adotam a estratégia do "buy and hold" (comprar e segurar), isto é, comprar quando for possível, especialmente em momentos de preço baixo como agora, e esperar no longo prazo para que o preço valorize novamente".
Proteção aos investidores
Na visão do especialista, as medidas tomadas pelo Facebook em janeiro ao vetar totalmente os anúncios de moedas digitais tinha como objetivo proteger os investidores de golpes: "O maior perigo dos anúncios relacionados a criptomoedas, e que fez o Facebook proibi-los durante vários meses, é que muitos deles eram de empresas golpistas que usaram o histórico de sucesso do Bitcoin e outras moedas digitais como uma falsa oportunidade de rendimentos extremamente altos, garantidos e rápidos. No fim das contas, acabavam sendo apenas golpes financeiros que sumiram com o dinheiro dos investidores. Felizmente, é fácil identificar quais empresas são legítimas ou não, porém sempre existe o risco do anúncio aparecer para alguém desavisado e com pouco conhecimento do mercado".
Nessa época, eram comuns os Esquemas de Ponzi, operações fraudulentas semelhantes aos esquemas de pirâmide, nas quais investidores anônimos prometiam lucros exorbitantes para convencer pessoas a investir quantias em seus negócios. Havia quem prometesse até 44% de lucro após apenas 21 dias de investimento. Como alguns pagamentos eram feitos durante os momentos iniciais do golpe, encorajava-se que mais e mais pessoas se interessassem pelo esquema, obtendo lucro até o momento em que a prática se tornasse insustentável. Nesse ponto, os responsáveis pelo esquema simplesmente desapareciam, levando consigo o dinheiro dos investidores. A prática é enquadrada como estelionato no Código Penal Brasileiro.
Anunciantes cadastrados
Segundo Rolim, é esperado que as mudanças nas políticas de publicidade do Facebook ajudem na conexão entre agências de investimento sérias e de boa índole com investidores interessados em se aventurar no mercado das criptos. Além disso, o especialista ressalta a importância da publicidade nas plataformas coordenadas pela rede social, que recebem muita atenção, não apenas no Brasil: "Com a nova política de anúncios, será mais fácil para boas empresas se conectarem com potenciais clientes, especialmente devido à característica dos serviços de criptomoedas serem na maioria das vezes algo 100% digital. Isso auxiliará os criptoempreendedores de qualquer país do mundo onde o Facebook seja uma das principais redes sociais. Várias empresas do Brasil, incluindo a Atlas Quantum, já usaram os anúncios do Facebook para alcançar o seu público investidor, gerando valor para seus clientes e crescendo mais rapidamente", disse Rolim.
Entretanto, ainda cabe ao Facebook provar que suas medidas são justas e eficazes, uma vez que as novas políticas publicitárias requerem a comprovação da licitude das operações pelas agências anunciantes. "O sucesso deste novo modelo depende de como se dará o processo de aprovação e certificação de legalidade do Facebook. Dois pontos que consideramos críticos: a) a velocidade de aprovação e b) se a equipe deles tem a expertise necessária para distinguir adequadamente o que é legítimo e o que não é", defendeu Rolim, que acredita que o novo modelo já é melhor que o veto anteriormente adotado pela plataforma. "Acreditamos que o novo modelo certamente faz muito mais sentido que o anterior. Ao adotar uma postura unilateral de proibição total, o Facebook não só punia empresas boas e honestas, como também prejudicava a si mesmo, ao ignorar um setor cujo valor de mercado chega a algo em torno de 250 bilhões de dólares."
Lucro para todos
Não há dúvidas que o mercado de criptomoedas concentra um potencial de mercado praticamente incalculável. Não sabemos como as moedas digitais vão interagir com os mercados nos próximos anos, dada a descentralização e independência das criptomoedas, mas tudo indica que muita água ainda vai passar por baixo dessa ponte.
Entretanto, as medidas adotadas pela rede social tornam as transações de moedas digitais mais seguras e confiáveis. Na prática, isso significa vantagens para as agências de investimentos em criptos, que podem utilizar a publicidade da plataforma para conectarem-se com investidores em potencial. Também significa mais lucro para o Facebook, que agora possui mais um nicho de anunciantes interessado em veicular suas propagandas nos espaços coordenados pela empresa, com a garantia de promover serviços legais e honestos. Os investidores interessados também saem ganhando, uma vez que podem acessar sem medo os serviços anunciados, sabendo que uma investigação sobre a idoneidade das atuações das companhias anunciantes já fora previamente feita pela plataforma. Todos saem ganhando.
Entretanto, para que o Facebook seja digno de tamanha confiança por parte de seus anunciantes e usuários, é necessário que a verificação das empresas seja feita de forma adequada, bem embasada e em tempo hábil, segundo Luciano Rolim. "Para que dê certo, a equipe do Facebook precisa ser bem qualificada tanto para aprovar ou negar com precisão as empresas que querem anunciar, quanto para fazer isso rapidamente, de forma que companhias que estejam entrando no mercado não sejam prejudicadas pelo tempo de espera. Se tudo der certo, certamente a situação será mais favorável, seja para anunciantes, potenciais clientes, bem como o próprio Facebook".