O Abominável Mundo da Interrupção Continua - e seu impacto nos desenvolvedores
É fato que hoje em dia fazemos mais coisas em paralelo. O mundo digital e a evolução do ser humano leva as pessoas a outro patamar de produtividade e contato com a informação. Estamos sempre interagindo com algo ou alguém, comprando ou vendendo algo, nos informando sobre o que está acontecendo, informando alguém sobre algo, nos divertindo, buscando novidades, compartilhando algo…
A Internet e os telefones celulares nos levaram a um patamar jamais visto. São tantas as coisas que temos para fazer que é praticamente voz comum ouvir as pessoas reclamarem que estão "sem tempo". Isto porque a medida que adotamos novas formas de interagir com o mundo, nós assumimos novos compromissos que antes não existiam. Um exemplo simplista: quando comecei a trabalhar, minha caixa de e-mail e meu telefone (fixo) eram os únicos meios de interação e completamente administráveis. Hoje, minha caixa de e-mail é totalmente inadministrável, e por mais seletivo que seja, sempre ficam muitos e-mails para trás, todos os dias. Mas além disto hoje eu preciso: ver os posts e mensagens no Linkedin, atualizar algo no Facebook e ver minha timeline, principalmente ver se não há convite para algum evento, pois agora, só pelo Face…, enviar e receber mensagens pelo Whatsapp, dar uma passada geral pelo Portal do Terra para ver as últimas notícias, ler alguns dos artigos que me interessem mais, e além de tudo isto, trabalhar continuamente na estratégia de Tecnologia da empresa.
Agora vejam a quantidade de coisas que se somaram no meu dia-a-dia nos últimos anos. Coisas que não existiam, coisas que simplesmente eu não precisava fazer. E hoje faço. Além do mais, tudo isto não acontece de forma linear, primeiro faço isto, depois faço aquilo, tudo acontece ao mesmo tempo agora, e quem está interagindo com você espera sempre uma resposta rápida, espera ter a prioridade de sua atenção.
Esta interrupção constante do que estamos fazendo por algo que chega no meio da tarefa faz com que muitos na verdade se tornem menos produtivos e não o contrário. Nem todo mundo tem a capacidade de fazer N coisas em paralelo mantendo a qualidade do seu trabalho. Eu tive que aprender a me policiar e a entender qual o meu limite das tarefas que posso fazer ao mesmo tempo, mantendo a qualidade. Dali para frente minhas respostas passam a ser evasivas, não conclusivas, abreviadas e de péssima qualidade.
Trazendo este fato ao mundo dos desenvolvedores de software estou realmente preocupado. Não há um só desenvolvedor que tenha como única janela aberta a do software no qual está escrevendo seu código. Sabemos que a geração Y e posteriores tem uma forma diferente de trabalhar, mas sabemos também que estas gerações começam a apresentar um problema cada vez mais comum de deficit de atenção. São tantos assuntos a resolver e para interagir ao mesmo tempo, que a atenção ao código que se está desenvolvendo não recebe mais que poucos minutos de 100% de atenção até a próxima interrupção. Talvez por isto algumas empresas que trabalham em setores críticos (aviação, saúde, etc) ainda proíbem veementemente o uso da Internet (ou alguns serviços) em suas empresas.
Enquanto estamos trabalhando no campo da prototipação, teste com poucos clientes, provas de aceitação de produto, testes A/B em ambiente controlado, a falta de atenção não tem maiores consequências, mas quando entramos no campo de aplicações de missão crítica ou produtos já provados que estão evoluindo, ou arquiteturas que necessitem performance e escalabilidade, não se pode correr o risco de que um código mal feito entre em produção, sob pena de consequências que podem arruinar desde um produto até a reputação de uma empresa ou mesmo afetar a vida de uma pessoa de maneira definitiva.
Então, acima de tudo, descubra seu limite, encontre o ponto onde o equilíbrio entre fazer mais de uma tarefa em paralelo e a qualidade se cruzam e não entre na linha descendente da qualidade. Acredite, o mundo pode esperar um momento.
Na Terra da Tecnologia
