SxSw - O Evento da Diversidade
Nunca havia ido ao SxSw. Na verdade nunca tinha acompanhado nada a respeito deste evento. Estranho em se tratando do maior evento de Interatividade Digital no mundo hoje. Diferente dos outros eventos que costumo frequentar, a maioria de origem técnica ou ligados a gestão de Tecnologia, o SxSw é um evento sem similares, onde o mundo digital, a tecnologia e as relações humanas se misturam em todas as sessões. Para mim que adoro esta mescla de tecnologia e o impacto da mesma em todos os aspectos de nossas vidas, foi um momento especial.
O evento é intenso, são diversos hotéis e mais o centro de convenções de Austin abrigando palestras, workshops, trade shows, debates, além do tradicional lineup de keynotes que abrilhantam o evento. Pode-se andar até 2Km entre um ponto e outro para assistir a uma palestra. E tem muita gente em quase todas. São 6 horários principais de eventos diários, cada um de uma hora com intervalos de 30 minutos entre cada sessão. Um dia típico começa as 09:30hs e vai terminar as 18hs. Aí começa-se a peregrinação cultural pelo centro de Austin que é outra experiência igualmente interessante, principalmente a rua fechada, onde se encontram diversos bares que abrigam bandas que tocam por toda sua extensão. Afora os tipos impagáveis que se encontra pela rua. Mas vamos ao evento em si.
Assisti a exatas 20 sessões, que abrangeram: Conteúdo, Mídia, Publicidade, Wearables, Connected Cars, Negócios (Venture Capitals, Startups, etc), Programas Espaciais, Inteligência Artificial, Inovação, Privacidade e Segurança, o Homem Biônico e por aí vai. Além disto, a visita ao Trade Show foi impagável principalmente no que diz respeito aos estandes reservados ao Japão. Simplesmente fantásticas as invenções ali expostas, mas todas, sem exceção com impacto no dia-a-dia das pessoas e que mexem com a emoção humana. E se quisesse dava também para se inscrever para a próxima viagem a lua em 2018!
Dizer o que mais me chamou atenção com esta diversidade de assuntos é muito difícil, mas vou resumir algumas das coisas que me marcaram:
Em Publicidade eu diria que sem dúvida a quantidade de vezes que ouvi que o foco está em vídeo (apesar de ser considerada uma mídia sem interatividade pelo CEO do Mashable) e Branded Content, a forma de anúncio que mais cresce hoje e a única segundo as pessoas que ouvi que não se torna "annoying" aos clientes, deixando-os no comando da situação entre querer ou não ter contato com aquele tipo de conteúdo que acaba sendo patrocinado por alguma marca.
Estive em duas ou três sessões também que falaram muito sobre prototipação, teste de hipóteses e testes A/B. Esta última ministrada pela Netflix falou muito sobre o que já sabemos, mas é bonito de ver como uma empresa pode abraçar uma forma de fazer as coisas e não arredar pé de sua convicção por entender que a única forma de entender realmente o que se passa com seu negócio é através de seus clientes. E não é com uma ou outra consultoria com uma base de clientes fechada, é sobre sua base de clientes real e sobre aqueles que acabam de se tornar clientes, tendo em vista sempre duas ou três métricas fundamentais para o sucesso do negócio. Isto significa dizer que pelo menos um desenvolvimento sempre será jogado fora em detrimento de outro com melhor resultado. Quando perguntado sobre se as pessoas que tinham o seu desenvolvimento "jogado fora" se sentiam frustradas neste momento a resposta foi ainda mais linda: "Não, simplesmente não, porque todos na Netflix tem a consciência de que o "erro" cometido naquela prova levou a Netflix a entender ainda melhor seus clientes." Palmas!
Em wearables o frenezi maior se deve a chegada do iwatch da Apple e o impacto que isto vai ter no crescimento da indústria. Muitos dispositivos vêm sendo lançados, tive a oportunidade de provar um anel que se comunica via bluetooth através de um aplicativo com qualquer aparelho e que permite ligar e desligar, tocar música, etc. E muitos outros relógios e medidores de performance atlética. A questão colocada aqui é o quanto as pessoas vão adotar estas invenções se elas não forem "fashion". E foram levantadas questões também como: o uso de relógios, pulseiras, etc, não são uma necessidade hoje, já que podem ser supridos por outros elementos como o próprio celular, mas são sim elementos da expressão humana. Enfim…
Na sessão que assisti do órgão do governo americano que trabalha o projeto de Connected Cars, eles estavam convidando as pessoas a fazerem parte da equipe de trabalho. Falta gente para se meter no assunto, que eu considero apaixonante. Eles consideram este o projeto da Internet das Coisas Extremamente Grandes, foi exatamente assim que os caras apresentaram o projeto. Tenho certeza que se tivesse sido apresentado por uns caras bons de speach sairíamos todos apaixonados da sala, mas vendo aqueles dois na minha frente só consegui enxergar um mar de dificuldades para fazerem as coisas acontecer. Dois exemplos que eles citaram: se um carro pudesse "conversar" com outro, poderia detectar que ao fechar o sinal para o outro, este não conseguiria parar em tempo hábil e reduziria a própria velocidade evitando assim a colisão. Ou um ônibus que pudesse se conectar a outro poderia "avisar" a parada de ônibus que o próximo ônibus chegaria em digamos 2 minutos, fazendo com que muitos optassem por aguardar o segundo ônibus e pudessem ir com mais conforto ao seu destino. Imaginem tudo isto acontecendo em tempo real. Fantástico!
Aí me aparece uma sessão chamada "Frontiers of Computacional Thinking - Stephen Wolfram, que quebra todos os paradigmas de programação mostrando uma linguagem sem interpretação de sintaxe, em que qualquer coisa que se digite é considerado um símbolo que no futuro pode ter um significado associado. Significa dizer que você nunca encontrará uma mensagem de "Sintaxe Error" quando digita algo errado. E significa que com comando escritos em linguagem natural resultados aparecem na sua tela (mapas, dados demográficos, listas de cidades, números romanos, etc, etc, etc…) O método usado para isto vou detalhar em outro artigo, mas usa bases de dados Open Source e Inteligência Artificial. Interessantíssimo e eu trouxe na mala a possibilidade de testarmos isto na prática.
A distribuição de conteúdo onde quer que seja e não apenas no seu site usando isto como estratégia base de negócio foi o ponto mais destacado para mim na palestra do CEO do Buzzfeed. Esta é outra que merece um capítulo a parte pela clareza de propósitos demonstrada em toda sua exposiçãoo. Não há dúvidas sobre o que o Buzzfeed é e o que quer ser, o mesmo não se pode dizer do Mashable a julgar pela pouca assertividade nas respostas vindas de seu CEO. E o Google deu uma palhinha também de como faz suas predições de assuntos para cada pessoa no Google Now.
Por fim as palestras não técnicas que mais me impressionaram foram as da Nasa por ver o quão adiantados estamos em alguns campos, enquanto sofremos com nossa má conexão wifi no próprio evento. Mas temos previsão de pousar em Marte até 2030! E sem dúvida o homem biônico me dividiu entre admiração e preocupação. Admiração por ver aquele homem amputado das duas pernas entrar no palco caminhando como se tivesse pernas normais e preocupação por ver durante toda a palestra algo de ufanismo em tudo que foi falado. Mas se pensarmos no avanço deste mecanismo para os que realmente precisam dele e o quanto isto impacta na psique destas pessoas, é realmente uma invenção fantástica.
Posso dizer sem dúvida que o SxSw foi o melhor e mais completo evento que já participei. Não tenho dúvida, todos voltam um pouco diferentes de lá!