Nasa manterá homenagem a James Webb, acusado de perseguir funcionários LGBT+
Webb foi membro de alto escalão no governo norte-americano enquanto funcionários eram perseguidos e demitidos por sua orientação sexual
A Nasa decidiu manter o nome do Telescópio Espacial James Webb em meio a uma investigação histórica sobre perseguições a funcionários LGBT+. James Webb, ex-administrador da agência, que nomeia o equipamento, teria ocupado cargos de alto escalão em um governo que demitia de forma sistêmica funcionários por sua orientação sexual.
Muitos funcionários e cientistas se manifestaram contra a manutenção do nome do administrador no telescópio, considerado um dos projetos mais importantes da Nasa graças a sua tecnologia de ponta e capacidade de realizar descobertas importantes sobre a origem da vida na Terra. O motivo contra os protestos foi a série de casos de exclusão sistêmica de funcionários LGBT+ ocorridos na gestão de Webb.
A Nasa então alocou seu historiador-chefe para investigar a participação individual de Webb no Departamento de Estado na década de 50, período mais agudo na perseguição a funcionários LGBT+, e publicou um relatório com os resultados da pesquisa na última sexta-feira (18).
“O relatório não encontrou evidências de que Webb fosse um líder ou proponente da demissão de funcionários do governo por sua orientação sexual”, disse a Nasa.
“Esta história agora pode se tornar útil para nos ajudar a entender como podemos ser muito, muito melhores hoje”, afirma Brian Odom, historiador da agência. Ele considera a investigação encerrada.
Entenda o caso
Quando Webb estava começando sua carreira no governo dos Estados Unidos, no final da década de 1940, funcionários eram sistematicamente demitidos por causa de sua orientação sexual, em uma campanha incentivada por vários membros proeminentes do Congresso.
Em março de 2021, um grupo de astrônomos publicou um artigo de opinião na revista Scientific American defendendo a alteração. Pouco tempo depois, chegou a elaborar uma petição oficial para a retirada do nome de Webb no telescópio.
Com a pressão da comunidade de astrônomos, a Nasa alocou seu historiador-chefe, Brian Odom, para investigar registros que associassem Webb a práticas discriminatórias. Em setembro do mesmo ano, Bill Nelson, administrador da agência, divulgou um breve comunicado afirmando que não foram encontradas evidências que justificassem a mudança — o que não foi bem recebido pela comunidade científica.
A agência então se empenhou em uma nova investigação, focando na atuação de Webb no Departamento do Estado na década de 50.
O relatório divulgado na semana passada concentra-se em duas reuniões durante junho de 1950. Na primeira, o presidente Harry Truman e Webb discutiram se deveriam cooperar com investigadores do Congresso que buscavam informações sobre funcionários do departamento de estado.
Após essa reunião, Webb se reuniu com o senador Clyde Hoey e vários conselheiros de Truman, para discutir “materiais sobre o assunto” da homossexualidade de funcionários que havia sido preparado por um dos colegas de trabalho de Webb.
“Até o momento, nenhuma evidência disponível liga diretamente o Webb a qualquer ação que surja dessa discussão”, afirma o relatório, já que outros funcionários do Departamento de Estado eram responsáveis pelo acompanhamento.
“Por causa disso, é uma boa conjectura afirmar que Webb desempenhou um papel pequeno no assunto”, diz a Nasa.
O relatório também descreve a demissão em 1963 de Clifford Norton, um funcionário da Nasa, por ser gay. Webb era o administrador da agência na época. Norton processou o governo dos EUA por sua demissão e venceu, em um caso histórico de direitos civis em 1969.
Odom diz que não encontrou nenhuma evidência de que Webb sabia sobre a demissão de Norton e observa que foi a Comissão do Serviço Civil, e não agências como a Nasa, a encarregada de investigar e demitir funcionários LGBT+.