Neandertais viviam em pequenos grupos, sugere estudo
Por meio do sequenciamento do DNA de parentes do homem moderno, pesquisadores analisaram a comunidade da espécie que viveu há 54 mil anos
Análise genética de ossos e dentes encontrados em cavernas na Sibéria ajuda a decifrar estrutura social e familiar dos neandertais. Ciência sabe pouco sobre como espécie se agrupava.Restos de ossos e dentes encontrados em duas cavernas da Sibéria estão ajudando os cientistas a decifrar a estrutura social de neandertais. Por meio do sequenciamento do DNA desses parentes do homem moderno, pesquisadores analisaram a vida social de uma comunidade da espécie que viveu há cerca de 54 mil anos.
Para o estudo publicado nesta quarta-feira (19/10), cientistas analisaram o DNA de 13 neandertais, sendo oito adultos e cinco crianças e adolescentes, e descobriram uma rede interconectada de relacionamentos, incluindo um pai e uma filha, e possíveis tia ou avó e sobrinho. A análise mostrou ainda que todos os neandertais eram consanguíneos, o que indica que as comunidades eram compostas por pequenos grupos de parentes próximos com entre 10 e 20 membros.
O estudo conclui ainda que eram as mulheres que migravam para outras comunidades, e os homens tendiam a permanecer onde nasceram. Os cientistas acreditam que ao menos 60% das mulheres vieram de outras comunidades para se juntar às famílias de seus parceiros.
As cavernas eram a base do grupo, que percorria regiões próximas em busca de matérias-primas e alimentos. Além das amostras, foram encontradas nas cavernas de Chagrskaya inúmeras ferramentas de pedra e ossos. A caça de cavalos, bisões e outros animais nos vales dos rios da região forneciam carne e peles para a comunidade, afirmam os pesquisadores.
Um dos maiores estudos genéticos de neandertais
A análise também não detectou nenhuma evidência de cruzamento entre neandertais e o hominídeo de Denisova, cujos restos mortais foram encontrados a 100 quilômetros das cavernas de onde saíram as amostras estudadas.
Publicado na revista especializada Nature, esse é um dos maiores estudos genéticos da população neandertal já realizado. A pesquisa foi conduzida por cientistas do Instituto Max Planck para Antropologia Evolutiva, entre eles, o ganhador do Nobel de Medicina deste ano, Svante Pääbo.
Estudos anteriores revelaram que os neandertais eram mais sofisticados do que se pensava, tendo adotado práticas como a de enterrar os mortos e fabricar ferramentas e ornamentos elaborados. No entanto, pouco se sabe sobre sua estrutura familiar e social.
"Nossas descobertas tornam os neandertais mais relacionáveis, e, de certa maneira, mais humanos. Eles viviam e morriam em pequenos grupos familiares, provavelmente num ambiente extremo. No entanto, eles conseguiram sobreviver por centenas de milhares de anos", afirmou o geneticista populacional Benjamin Peter, coautor do estudo.
Quem eram os neandertais
O neandertal é uma subespécie de humanos arcaicos que se separaram dos humanos modernos entre 315 mil e 800 mil anos atrás. Especialistas acreditam que sua população tenha variado entre 3 mil e 12 mil indivíduos, que se reproduziam, antes de serem extintos há 40 mil anos.
A pequena população tornou a espécie suscetível ao declínio devido a doenças, baixas taxas de fertilidade e competição com outros animais. A causa de sua extinção é um mistério, mas as teorias incluem mudanças climáticas, doenças e a chegada do humano moderno.
Comparados aos humanos modernos, os neandertais tinham um corpo mais robusto e membros mais curtos. Especialistas acreditam que eles eram resistentes e podiam conservar bem o calor corporal para viver em climas frios.
Pesquisas anteriores revelaram que os neandertais cuidavam dos doentes com analgésicos e penicilina feitos de plantas e fungos. Os fósseis da espécie encontrados mostram que entre 79% e 94% deles possuíam alguma lesão traumática. Um estudo indicou que 74% das amostras analisadas mostravam ferimentos causados por ataques de animais.
O primeiro genoma neandertal foi sequenciado há pouco mais de uma década por Pääbo e outros cientistas do Max Planck. Esse trabalho rendeu a Pääbo o atual Nobel. O estudo publicado nesta quarta-feira é uma continuação desse primeiro sequenciamento.
cn/ek (DW, Reuters, DPA, AFP)