Nossa experiência consciente do mundo é só uma memória, diz nova teoria
Pesquisadores de Boston lançam teoria de que experiência consciente é apenas reorganização de memórias anteriores para planejar futuro
Tudo que faz parte da nossa experiência consciente é apenas memória, ainda que nós possamos senti-las como acontecimentos em tempo real. É o que defende um novo artigo da revista Cognitive and Behavioral Neurology, publicado por uma equipe de pesquisadores de Boston.
Em resumo, a teoria tenta explicar que a consciência evoluiu como um sistema de memória. Mas ela não serviria apenas para nos fazer lembrar de eventos passados, já que ela não exerce essa função com precisão – pensemos o quanto a nossa memória é falha e o quanto esquecemos de datas e eventos importantes.
Uma função importante dela seria combinar e reorganizar de forma flexível e criativa memórias de eventos anteriores para planejar o futuro. Portanto, em vez de estarmos sentindo o mundo “em tempo real”, estaríamos experimentando uma memória dessa percepção.
Isso significaria que nosso inconsciente filtra e processa o mundo e muitas vezes toma decisões em uma fração de segundo. Quando nos tornamos conscientes dessas percepções e decisões, estaríamos então vivendo a “memória de decisões e ações tomadas inconscientemente”.
Consciência só do passado?
A consciência, para os autores, serviria para ajudar a unir os eventos em uma narrativa coerente e serial que flui com o tempo em vez de trechos de um sonho desconexo. Além disso, no artigo, os estudiosos defendem que “experimentos realizados com indivíduos que sofreram uma lesão cerebral demonstraram que a consciência não é necessária para realizar uma série de atividades”.
Um dos autores, Andrew Budson, disse: "Nossa teoria é que a consciência se desenvolveu como um sistema de memória que é usado pelo nosso cérebro inconsciente para nos ajudar a imaginar o futuro e planejar de forma flexível e criativa".
E completa: "Não percebemos o mundo, tomamos decisões ou realizamos ações diretamente. Em vez disso, fazemos todas essas coisas inconscientemente e, em seguida, cerca de meio segundo depois, conscientemente, lembramos de fazê-las”.
Ainda que seja “apenas” uma teoria apoiada no alto poder de computação de nossas redes neurais biológicas, ver a consciência por um sistema de memória pode ajudar a ciência a encontrar novas pistas para distúrbios cerebrais, como derrame, epilepsia, demência e outros.
As instituições responsáveis pelo estudo são a Boston Healthcare System, em Boston, Massachusetts; o Alzheimer's Disease Research Center, da Boston University, o Center for Health Humanities, do Massachusetts College of Pharmacy and Health Sciences; e o Departamento de Psicologia e Neurociência, da Boston College.
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