Novo estudo sobre o uso de cannabis mexeu com a galera no Twitter
A pesquisa investigou se há relação entre uso de maconha na adolescência e psicose na vida adulta
Vira e mexe o uso de cannabis (popularmente conhecido como maconha) causa rebuliço nas redes, e agora o tema está de novo na boca de twitteiros.
O motivo foi a publicação de um estudo observacional que buscou entender se o uso recreativo da planta durante a adolescência estaria ligado a um aumento de risco de sintomas de psicose na vida adulta, e se a cannabis teria uma relação de causa com isso.
Esse, porém, não é o primeiro. Outras pesquisas na literatura já sugeriram essa possível associação entre o uso e o risco para comportamentos de psicose, trazendo preocupações por parte de alguns especialistas.
The data on cannabis use in young people (age 12-18) leading to schizophrenia and psychosis later in life even after cessation of cannabis use, are striking, concerning & lend balance to the idea that cannabis is harmless or better b/c it is "safer than alcohol".
— Andrew D. Huberman, Ph.D. (@hubermanlab) September 21, 2022
O estudo em questão mostra que, apesar de o uso repetido de cannabis na adolescência ter sido associado a pontuações mais altas para o risco de comportamentos psicóticos na idade adulta, não foi encontrado uma relação de causa com a exposição à cannabis, nesse trabalho.
Ainda é uma questão que precisa ser mais estudada, além disso os riscos do uso na adolescência mostrado por outros trabalhos também precisam ser considerados.
Porém, é importante diferenciar o uso de cannabis e o uso de componentes específicos presentes na planta.
Nesse fio, por exemplo, o grupo de pesquisa de neuroproteômica comenta da possibilidade, ainda necessitando de maior investigação, de que alguns componentes da maconha poderiam nos ajudar a achar novos alvos para o tratamento da esquizofrenia, com a importante ressalva abaixo:
... então fumar maconha é um bom tratamento pra esquizofrenia?
Não é bem assim.
A Cannabis sativa (maconha) é uma excelente fonte para novos fármacos. Seus compostos podem sim tratar distúrbios mentais.
Mas o efeito do emprego destes compostos isolados é diferente de fumá-los 😉 pic.twitter.com/Shtdl10Md6
— Lab of Neuroproteomics (@neuroproteomics) April 21, 2021
Existem estudos demonstrando um possível efeito positivo de alguns componentes encontrados na maconha para algumas condições.
Recentemente, uma dessas possibilidades foi noticiada no jornal O Globo:
Cannabis: idoso tem reversão de sintomas do Alzheimer com óleo da planta. https://t.co/bQFkyG5HXU
— Jornal O Globo (@JornalOGlobo) September 26, 2022
O estudo é brasileiro e pioneiro sobre o uso de óleo de cannabis em pessoas com Alzheimer, segundo a reportagem.
O extrato tem como componentes o THC (Tetrahidrocanabinol) e CBD (Canabidiol), ambos encontrados na maconha. Componentes específicos da planta já são usados para tratamento de alguns casos de epilepsia, autismo, Alzheimer e dores crônicas, por exemplo.
Em agosto de 2020, uma pesquisa brasileira conduzida na UFMG trouxe mais evidências desse benefício para alguns casos de epilepsia.
É o que diz Antônio Carlos Pinheiro de Oliveira, professor do departamento de farmacologia, responsável pela pesquisa. Crises de epilepsia podem causar perda de memória, da capacidade de concentração e desencadear problemas psíquicos.
— Mídia NINJA (@MidiaNINJA) August 15, 2020
Porém, ainda precisamos de mais estudos para concluir se um efeito benéfico de fato é observado em outros contextos, como depressão, por exemplo.
Nas redes, existe muita politização no debate do uso de componentes da maconha de forma terapêutica e da legalização do uso, o que muitas vezes torna difícil uma argumentação somente pautada nos dados.
Escrever sobre maconha está sendo o teste supremo de não me deixar levar pelos meus vieses. Com dor no coração precisei abandonar minha crença, mas basta dar uma olhada cética na literatura pra ver que a galera realmente tá emocionada no uso medicinal sem evidências suficientes.
— Chloé Pinheiro (@chloepinheiro) August 2, 2022
Quando se trata de maconha, muitas discussões vêm com o debate de seu uso, seja para fins recreativos, seja para fins medicinais.
É importante que sempre estejamos pautados em boas evidências de estudos robustos para pensar em uma possível terapia para alguma doença ou transtorno. E há discussões político-sociais que devem ser consideradas quando falamos dessa planta e de sua descriminalização.
Em resumo? É polêmico, mas precisamos desse debate - com ciência.