Nuvem no RJ que está no mesmo lugar há 186 anos intriga cientistas
Brasileiros querem desvendar mistério; fenômeno foi identificado em 1836 e atrapalhou construção de um farol ainda no século 19
Uma nuvem tem intrigado cientistas, turistas e residentes da Ilha do Farol, em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, por se formar há quase dois séculos no mesmo lugar. O fenômeno, identificado pela primeira vez em 1836, chegou a atrapalhar a construção de um farol ainda no século 19.
A construção seria projetada para alertar navegantes sobre as condições do clima na região, mas, graças à nuvem, a visibilidade dos navios que passavam pelo local acabaria sendo afetada. O governo acabou construindo um farol em outro ponto de Arraial do Cabo – sem nuvens.
A Marinha brasileira foi a primeira a se debruçar sobre a questão e tentou explicar o porquê na formação do fenômeno natural, que ganhou o nome “Nuvem do Farol”. A mesma dúvida recaiu sobre Fabiana Lima, jornalista e pós graduanda pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O fenômeno foi objeto de sua monografia.
Em uma segunda fase do estudo, cientistas da UFRJ tentam entender como e por que a nuvem aparece.
O meteorologista líder do grupo de pesquisa, Wallace Menezes, explica que ela se forma sempre em dias ensolarados, sendo um sinal de ausência de frentes frias e correntes de umidade. Classificada como “rasa”, a nuvem é pequena e de baixa altura.
Segundo o cientista, ela se forma pois a montanha da ilha acaba forçando o ar para cima, causando uma condensação no chamado “efeito orográfico”. Funciona assim: as gotículas de água, quando entram em contato com o ar do topo (mais frio, devido a uma altura de mais de 300 metros), condensam, formando a nuvem.
O fenômeno, portanto, estaria mais ligada ao relevo da ilha do que suas condições climáticas. Este tipo de nuvem, inclusive, pode ocorrer em muitos lugares com incidência de montanhas, e não só em Arraial do Cabo.
“A Marinha, quando identificou a formação da nuvem em Arraial do Cabo, percebeu que ela sempre aparecia em dias de céu limpo, em ‘bom tempo’. Isso acontece por causa da estabilidade atmosférica, pois a única interferência que o ar sofre é a da montanha, do relevo. Nada mais força o deslocamento do ar para cima, então, o céu fica "aberto", ensolarado, e no entorno da montanha é possível observar a nuvem”, disse Wallace.