O que é o "bufo", droga proibida no Brasil feita de veneno de sapo
Participantes de grupo religioso acusam líderes de administrar droga durante rituais sem informar proibição
O Instituto Xamanismo Sete Raios, grupo religioso que se define como xamânico, está sendo acusado de administrar uma substância psicodélica a participantes de rituais espirituais sem avisar aos envolvidos que a droga é proibida no Brasil.
Trata-se da 5-MeO-DMT, proveniente do veneno do sapo Bufo alvarius. Em entrevista ao portal G1, a advogada Gabriela Augusta Silva contou que teria procurado o grupo para um ritual de cura espiritual após passar por problemas familiares.
- Depois de fazer o uso do veneno, Gabriela perdeu a consciência por 30 minutos;
- Então, começaram as crises de pânico e de ansiedade, surtos psicóticos, problemas respiratórios e pensamentos suicidas;
- A jurista, que vive em Goiânia mas foi a São Paulo na ocasião, só soube do caráter poibido da substância após ir ao médico. Ela chegou a ser internada em um hospital neurológico, passou a frequentar o psiquiatra e tomar remédios controlados.
O que é o "bufo"?
O sapo da espécie Bufo alvarius (hoje chamada de Incilius alvarius), também conhecido como sapo do Rio Colorado ou do Deserto de Sonora, é encontrado nos Estados Unidos e no México. Tornou-se popular nos últimos anos devido às suas características psicoativas, segundo o Instituto Butantan.
Com a coleta ilegal, a espécie corre risco de entrar na lista de animais ameaçados de extinção.
Conhecida popularmente como “bufo”, a substância é secretada pelo animal quando ele é ameaçado, a partir da pressão nas glândulas de sua pele. Ela seca quando é extraída e, depois, é fumada em rituais e cerimônias, liberando o psicodélico 5-MeO-DMT e outras substâncias.
“O consumo de 40 mg da substância já gera um efeito anestésico e, a partir de 100 mg, pode causar alucinações", diz o diretor do Laboratório de Biologia Estrutural do Butantan, Carlos Jared, em um informativo no portal da instituição.
“É evidente que, como se trata do principal instrumento de defesa do animal, o objetivo do veneno é causar danos no predador ou agressor, ou até mesmo matá-lo – como acontece, em maior número, com cães".
Boa parte dos compostos presentes no veneno do Incilius alvarius faz parte de nosso metabolismo cerebral, como a adrenalina e a própria bufotenina.
Nos últimos anos, estudos científicos identificaram níveis elevados de bufotenina na urina de pessoas com esquizofrenia e com Transtorno do Espectro Autista (TEA), segundo o pesquisador.
Uma pesquisa publicada em 2010 apontou uma correlação entre altos níveis de bufotenina e a gravidade do TEA.
A droga está na lista de substâncias proscritas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Material sobre a droga
O grupo Xamanismo Sete Raios disponibiliza, em seu site, informações imprecisas sobre o bufo e a 5-MeO-DMT em seu site, sem fazer qualquer citação à proibição da Anvisa.
"O Bufo alvarius não é uma substância aditiva ou que oferece qualquer risco de dano neurológico ou físico. Muito pelo contrário. Trata-se de uma experiência de efeito terapêutico-espiritual de grande pureza", afirma o material de divulgação.
No texto, é dito que o veneno, ao ser fumado, libera a 5-MeO-DMT, "uma molécula neurotransmissora que alcança rapidamente o cérebro e leva ao estado ampliado de consciência".
Instituto Sete Raios
Além de Gabriela, o G1 teve acesso a outras pessoas que relataram terem participado de rituais com o suposto uso do veneno. A advogada relatou que recebeu um pedido de desculpas de Felipe Rocha, sócio fundador do instituto xamânico, após expor o caso nas redes sociais.
Em um áudio, ele diz que Gabriela não pode perder a confiança e sugere que ela acenda velas e tome um banho de ervas. Além disso, Rocha afirma que o grupo iria reconsiderar o uso da substância em seus rituais.
O grupo Xamanismo Sete Raios é alvo de inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura possível crimes de tráfico de drogas.
A defesa do instituto informou ao G1 que “jamais teve ou tem como objetivo incentivar ou promover o uso social ou terapêutico de substâncias ou, ainda, a substituição de práticas de saúde, tratando-se exclusividade de abordagem de caráter ritualística e religiosa, com finalidades espirituais”.
O instituto também disse que está sendo vítima de perseguição religiosa. “A denunciante claramente está utilizando a estrutura judiciária e os veículos de mídia para empreender uma cruzada pessoal contra uma instituição religiosa, motivada por questões de ordem pessoal e por restrições de crença. No mais, toda e qualquer falsa acusação será tratada devidamente perante à Justiça.
Byte tentou contato com o grupo Xamanismo Sete Raios e a Polícia Civil de São Paulo para saber mais sobre o caso e aguarda o retorno de ambos. Também busca contato com a advogada Gabriela Augusta Silva, mas até o momento ela não foi localizada.