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O que esperar do tratamento da covid-19 nos próximos anos?

Especialistas apontam atualização de vacinas e antivirais como política de enfrentamento do coronavírus

2 dez 2022 - 05h00
(atualizado às 09h45)
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Especialistas afirmam que uso de máscara em ambientes de aglomeração continua sendo recomendado
Especialistas afirmam que uso de máscara em ambientes de aglomeração continua sendo recomendado
Foto: Poder360

Assim como no resto do mundo, o enfrentamento à covid-19 no Brasil será fruto de adaptações da comunidade médica e das políticas públicas de saúde a novas variantes do vírus. A chegada da sublinhagem BQ.1 ao país — que tornou-se responsável por um novo aumento de casos nos últimos dias — é um dos fatores que justifica essa tendência.

A pandemia se aproxima do terceiro ano e causou mais de 6,63 milhões de mortes no mundo, segundo a plataforma Our World In Data. A população brasileira já recebeu a quarta dose da vacina e existem até mesmo antivirais para o tratamento da doença.

Mas novas variantes têm potencial de escapar da proteção dos imunizantes. Por isso especialistas defendem a importância das doses de reforço e de mais investimento em ciência para responder rapidamente a possíveis novos surtos.

A sublinhagem BQ.1 da Ômicron, versão mais forte do vírus da covid, foi reportada pela primeira vez no Brasil em outubro, no estado do Amazonas. Desde então, se espalhou pelo território nacional e já tem confirmações em estados como o Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Segundo dados mais recentes da Fundação Oswaldo Cruz, 20 estados apresentam sinal de crescimento da doença na tendência de longo prazo. Na maioria dessas regiões, o crescimento está presente na população adulta e nas faixas etárias acima dos 60 anos

Foto: Boasaude Inc. / Boa Saúde

Futuro do combate à covid

Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise — que coleta, analisa, modela e divulga dados de ciência e saúde — diz que o país deveria ter tomado medidas de prevenção quando a nova variante foi detectada. "E mesmo assim já teria sido atrasado, pois estamos testando muito pouco”, defende.

O pesquisador afirma, no entanto, que o número de óbitos não subiu proporcionalmente ao número de casos. 

“Mesmo testando muito menos do que nas outras ondas, estamos vendo um número de óbitos menor em relação aos casos. Dito isso, é importante lembrar que 129 mortes notificadas em um único dia [no caso, 29 de novembro de 2022] por uma doença para a qual existe vacina e que sabemos como reduzir a transmissão não é normal”, explicou Schrarstzhaupt. 

Segundo Robson Reis, infectologista e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP), esse aumento no número de casos não deve trazer impacto no enfrentamento da covid. 

“No entanto, ele traz algumas mensagens: primeiro, reforçar a importância do imunizante e das doses de reforço. Segundo, para os governantes, a mensagem de que é necessário investir na ciência para estarmos atualizados no enfrentamento de futuras pandemias”, avaliou. 

O pesquisador e cientista da Universidade Federal de São Paulo (Unesp) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime Barbosa, acredita que o momento atual já mostra uma diminuição quando comparado com ondas anteriores, como a da Ômicron ou da variante Gama. 

“A covid não vai ser eliminada em um espaço de tempo de curto a médio prazo. Nós teremos que conviver com o vírus, como já estamos convivendo e outros repiques irão acontecer”, afirmou. 

Até o momento, o Brasil tem 87,9% das pessoas elegíveis com pelo menos uma dose da vacina e 80,9% de pessoas totalmente vacinadas (com reforço), segundo o Our World in Data. 

Foto: Poder360

Os próximos medicamentos

Para os pesquisadores, os próximos passos contra o SARS-CoV-2 devem consistir na atualização das vacinas monovalentes para bivalentes — que oferecem proteção contra mais de uma cepa de um vírus. 

Na última semana de novembro, a diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso temporário e emergencial de duas vacinas bivalentes contra covid-19 da empresa Pfizer (Comirnaty). Os medicamentos são para uso como dose de reforço na população a partir de 12 anos. Neste caso, elas protegem contra:  

  • Bivalente BA1 – variante original e Ômicron BA1;
  • Bivalente BA4/BA5 – variante original e Ômicron BA4/BA5.  

Reis destaca ainda a evolução nos tratamentos. O infectologista afirma que as drogas aprovadas para o tratamento do coronavírus (antivirais, anticorpos monoclonais e imunomoduladores) agem inibindo a replicação do vírus, controlando a resposta inflamatória.

Isso é importante para impedir que pacientes evoluam para quadros graves ou para que pacientes com quadros moderados a graves possam reverter esses quadros, diminuindo o risco de internamento em UTI e até mesmo óbito

Segundo ele, “é esperado que no futuro, esses remédios possam, cada vez mais, apresentar uma eficácia maior contra o vírus de uma forma geral — independente das variantes e subvariantes”. 

Um desses medicamentos é o Paxlovid, antiviral aprovado pela Anvisa e o primeiro a ser vendido em farmácias e já foi autorizado para distribuição pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Remédio da Pfizer, Paxlovid, reduz morte de idosos por covid-19, de acordo com estudo israelense (Imagem: Reprodução/Vladimirzotov/Envato Elements)
Remédio da Pfizer, Paxlovid, reduz morte de idosos por covid-19, de acordo com estudo israelense (Imagem: Reprodução/Vladimirzotov/Envato Elements)
Foto: Canaltech

Caminhando para uma endemia?

Barbosa diz que o futuro do combate à covid deve consistir em cinco passos: aumentar a cobertura de dose de reforço; agilizar a compra e distribuição de vacinas bivalentes; intensificar a vacinação de crianças, disponibilizar medicações antivirais no SUS e reforçar o uso de máscara em ambientes de aglomeração. 

A visão é respaldada pela Sociedade Brasileira de Infectologia, que em nota afirmou: “nesse momento, para reduzir o impacto de um possível cenário futuro de aumento de hospitalização e óbito por covid-19 essas medidas são indispensáveis e urgentes”, escreveu a entidade.

Para o especialista, nós já estamos próximos muito perto de a covid-19 ser uma endemia. “Toda preocupação é ficar vigilante quando surgir uma variante com mais transmissibilidade, como é o caso da BQ.1”, disse Barbosa. 

Reis, da EBMSP, avalia que a covid ainda representa um risco real, mas também se tornará uma endemia. “Provavelmente o SARS-CoV-2 vai se comportar como o vírus da influenza (gripe), com vacinas específicas, com uma rede mundial para identificar variantes e adaptar vacinas contra essas cepas”, finalizou. 

Fonte: Redação Byte
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