O que o ChatGPT diz sobre como inteligência artificial pode afetar buscas na internet
Google e Microsoft 'apostam corrida' no desenvolvimento de seus mecanismos de busca de IA
A maneira como pesquisamos e encontramos informações online pode ser revolucionada após os anúncios recentes do Google e da Microsoft sobre a incorporação da inteligência artificial (IA) em seus mecanismos de busca.
Para descobrir como eles funcionam e que diferença podem fazer em nossas vidas, perguntamos à fonte que imaginamos ser a mais apropriada: um chatbot de IA.
"A IA já está mudando a forma como pesquisamos e continuará a fazê-lo no futuro", foi uma resposta dada pelo ChatGPT, desenvolvido pela OpenAI, à BBC.
Uma versão do software que dá vida a esse chatbot em breve ajudará a alimentar o mecanismo de busca Bing, da Microsoft, e o próprio ChatGPT admite que superar o domínio do Google no setor será um desafio.
"O Google é o mecanismo de busca mais usado e é conhecido por fornecer resultados altamente relevantes e precisos", diz o ChatGPT sobre seu rival.
"A partir dos meus dados de treinamento (2021), o Google é o mecanismo de pesquisa mais popular."
A Microsoft espera que uma versão aprimorada da tecnologia IA do ChatGPT, que desde seu lançamento teve 100 milhões de usuários, a ajude a virar o jogo contra seu concorrente.
Como o próprio chatbot admite, seu treinamento está desatualizado há alguns anos, também recorremos a alguns especialistas humanos para descobrir por que a tecnologia é vista como tão revolucionária.
Tecnologia viral
"Uma das razões pelas quais se tornou viral é porque esta é a primeira vez que alguém com um navegador da web pode experimentar a IA. Você conversa com ela e ela responde", disse Michael Wooldridge, professor de ciência da computação da Universidade de Oxford, sobre o ChatGPT.
Ele "hipnotizou" os usuários por sua capacidade de manter conversas naturais, respondendo a consultas em texto e gerando discursos, códigos, músicas e redações.
Foi apelidado de "assassino do Google" por sua capacidade de fornecer respostas completas em vez de links.
Foi a capacidade de sua tecnologia de revolucionar o mecanismo de busca da Microsoft que fez com que os rivais do Google anunciassem sua própria atualização de IA.
A gigante das buscas acaba de anunciar que está testando o Bard, um chatbot concorrente.
O que é inteligência artificial e o que são chatbots?
Pedimos ao ChatGPT para nos dizer o que é um chatbot.
"A conversa entre um chatbot e um usuário humano é normalmente baseada em técnicas de processamento de linguagem natural", diz a ferramenta.
Uma vez integrados nos motores de busca, espera-se que nos forneçam um tipo diferente de resultados quando procuramos respostas online.
"Em vez de receber uma lista de sites, você receberá uma janela para o site, por meio de um sistema que resume o conteúdo para você", diz Beth Singler, professora assistente da Universidade de Zurique.
"É como se outra pessoa estivesse lendo e depois contando a você sobre isso."
Os chatbots são capazes de fazer isso devido à IA e ao aprendizado da máquina.
IA é uma tecnologia que permite que um computador "pense ou aja" absorvendo informações do ambiente e respondendo com base no que aprende.
Ele também "aprende" com os erros e muda a maneira como aborda uma tarefa na próxima vez.
Os chatbots de IA são projetados especificamente para responder a perguntas e encontrar informações.
O Bard e o ChatGPT são baseados em grandes modelos de linguagem, que imitam a arquitetura subjacente do cérebro em forma de computador.
Os modelos são alimentados com informações da internet em um processo que os ensina como gerar respostas a comandos em texto.
"Eles analisam um grande corpo de linguagem e tentam formar conexões entre as palavras. Eles tentam entender qual será a próxima palavra com base na sua pergunta", diz Singler.
O que os mecanismos de busca podem fazer?
"A pesquisa na Web será muito mais como ter uma conversa com um ser humano muito experiente, embora ocasionalmente um pouco equivocado", diz o professor Michael Wooldridge.
As versões aprimoradas do Bing e do mecanismo de buscas do Google usando IA ainda não estão disponíveis para o público geral.
Enquanto esperamos que o Google teste o Bard e a Microsoft lance o novo Bing, temos acesso apenas à versão do ChatGPT que foi alimentada com informações e tem conhecimento atualizado a partir de 2021.
Mas qualquer pessoa que queira experimentar o novo Bing aprimorado por IA pode entrar em uma lista de espera.
Espera-se que o Bing mude os resultados da pesquisa e sintetize as descobertas para responder a consultas complexas em uma janela de chatbot.
Os usuários devem estar disponíveis para interagir com o Bing usando uma interface do chatbox, de acordo com a Microsoft.
O diretor executivo da empresa, Satya Nadell, disse que isso mudaria a natureza da pesquisa online e das interações com muitos outros softwares.
"Esta tecnologia irá remodelar praticamente todas as categorias de software que conhecemos."
Ainda não está claro o quão diferente o Bing e o Bard serão.
O Google disse que em breve integraria a IA capaz de gerar texto e outros conteúdos nos resultados de pesquisa.
"Eles podem ajudar um padeiro local a colaborar no design de um bolo com um cliente, ou um fabricante de brinquedos a sonhar com uma nova criação", disse Prabhakar Raghavan, executivo do Google, durante a recente apresentação da empresa sobre a tecnologia.
Anunciando o lançamento do Bard, Sundar Pichai, executivo-chefe da empresa-mãe do Google, Alphabet, disse que o chatbot seria capaz de sintetizar material para consultas complexas, como descobrir se é mais fácil aprender a tocar violão ou piano.
Quem ensina os chatbots sobre ética e valores?
A professora Beth Singler tem estudado as consequências da IA e da robótica e acompanhado de perto como o ChatGPT foi usado desde seu lançamento.
"Vi alguém pedir ao ChatGPT para produzir um poema elogiando Donald Trump e ele recusou. Mas, quando solicitado a produzir um elogio a Joe Biden, escreveu um poema", diz Singler.
"A IA terá valores definidos pelos criadores do sistema", disse ela.
Mas quão fácil é ensinar a IA sobre ética e valores?
"Não sabemos muito sobre isso porque está sendo desenvolvido a portas fechadas por grandes empresas de tecnologia. Acho que é uma preocupação real", diz Wooldridge.
Ele acredita que as empresas que desenvolvem mecanismos de pesquisa com inteligência artificial precisarão trabalhar no desenvolvimento de filtros para conteúdo impróprio.
"O problema é que você não precisa procurar muito na rede mundial de computadores para encontrar conteúdo tendencioso, tóxico, misógino ou racista, e a IA está apenas refletindo isso."
Quem está ganhando a corrida?
Não apenas Google e Microsoft que estão avançando na corrida da IA.
Na China, o gigante dos mecanismos de busca Baidu anunciou que terminaria de testar o seu próprio ChatGPT, apelidado de Ernie Bot, em março.
"Mas a Microsoft tem um ano de vantagem em relação a todos os outros no lançamento do produto para o público", diz o professor Wooldridge.
Cada consulta feita pelos seus 100 milhões de usuários, ajudou o ChatGPT a aprender novas informações e funcionar melhor.
"Eles têm milhões e milhões de interações registradas, entendendo como as pessoas querem usá-lo e o que querem obter com isso. E eles vão trazer rapidamente essa experiência de volta ao produto", diz Wooldridge.
Mas o Google também tem algumas vantagens, acredita Singler.
"Estamos mais familiarizados com o Google quando se trata de pesquisa na web. Usamos a palavra 'google' de forma quase natural: 'Vou pesquisar no Google'. Então, essa corrida vai ser interessante."
Mas a tecnologia por trás da pesquisa baseada em IA não é barata.
"Toda vez que você conversa com um chatbot, nos bastidores há um computador realmente poderoso atendendo apenas a você", diz o professor Wooldridge.
Ele acredita que pode haver dois modelos de busca na web no futuro.
"Podemos ver uma diferenciação entre a pesquisa premium, que é rica em inteligência artificial, baseada no modelo de assinatura, e o tipo de pesquisa gratuita que temos no momento, que é baseado em anúncios."
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/articles/crgvw7p1qj8o