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OpenAI usou quenianos por US$ 2 a hora para deixar ChatGPT menos tóxico

Recrutados pela empresa terceirizada Sama, trabalhadores ajudavam a detectar linguagem tóxica na inteligência artificial

22 mai 2023 - 17h53
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Trabalhadores quenianos trabalhavam filtrando conteúdo tóxico do ChatGOT, da empresa OpenAI
Trabalhadores quenianos trabalhavam filtrando conteúdo tóxico do ChatGOT, da empresa OpenAI
Foto: Poder360

Na busca em tornar o ChatGPT menos tóxico, a empresa OpenAI usou trabalhadores quenianos terceirizados que ganhavam menos de US$ 2 por hora (cerca de R$ 10), segundo uma investigação da revista Time.

Os trabalhadores do Quênia foram recrutados pela Sama, empresa terceirizada da OpenAI, para treinar dados do ChatGPT.

Eles ajudavam a detectar linguagem tóxica na inteligência artificial, como discurso de ódio, de abuso sexual e que continha violência. Para isso, os trabalhadores recebiam de US$ 1,32 a US$ 2 por hora, segundo documentos analisados pela Time.

Ainda de acordo com a revista, o valor era bem abaixo do que a OpenAI pagava à Sama em contrato, o equivalente a US$ 12,50 (R$ 62) por hora.

Os funcionários relataram à Time que seu trabalho incluía ler e ressignificar entre 150 e 250 textos por jornada de trabalho. Cada texto tinha de 100 a 1.000 palavras. 

A importância desse microtrabalho

O trabalho foi vital para a OpenAI. O antecessor do ChatGPT, o GPT-3, já havia mostrado uma capacidade impressionante de encadear frases; mas foi uma venda difícil, já que o aplicativo também costumava deixar escapar comentários violentos, sexistas e racistas. A emprea precisou modernizar a triagem de palavras usadas pelo bot.

O parceiro terceirizado da OpenAI no Quênia era a Sama, uma empresa com sede em São Francisco que emprega trabalhadores no Quênia, Uganda e Índia para rotular dados para clientes do Vale do Silício como Google, Meta e Microsoft. A Sama se comercializa como uma empresa de “IA ética” e afirma ter ajudado a tirar mais de 50 mil pessoas da pobreza.

À Time, os colaboradores afirmaram que ficaram mentalmente abalados pelo trabalho, uma vez que lidavam diretamente com conteúdos ofensivos e de cunho criminal.

Um trabalhador da Sama disse que teve visões recorrentes depois de ler uma descrição gráfica de um homem fazendo sexo com um cachorro na presença de uma criança.

“Isso foi uma tortura”, disse ele. “Você vai ler uma série de declarações como essa durante toda a semana. Quando chega a sexta-feira, você fica perturbado por pensar naquela imagem", contou o homem, que preferiu não se identificar. 

O caso acabou levando a Sama a cancelar todo o trabalho para a OpenAI em fevereiro de 2022, oito meses antes do acordado em contrato. 

O que estava acordado?

Documentos analisados pela Time mostram que a OpenAI assinou três contratos no valor total de cerca de US$ 200 mil com Sama no final de 2021.

Cerca de três dezenas de trabalhadores foram divididos em três equipes, uma com foco em cada assunto. Todos os funcionários entrevistados pela revista afirmaram que ficaram mentalmente abalados pelo trabalho, embora tivessem o direito de participar de sessões com conselheiros de “bem-estar”.

Os trabalhadores disseram que essas sessões eram inúteis e raras devido às altas demandas para serem mais produtivos no trabalho. Dois disseram que só tiveram a opção de participar de sessões em grupo, e um disse que seus pedidos para ver os conselheiros individualmente foram repetidamente negados pela administração da Sama.

Em nota, um porta-voz da Sama disse que era “incorreto” que os funcionários só tivessem acesso a sessões em grupo. Os funcionários tinham direito a sessões individuais e em grupo com “terapeutas de saúde mental profissionalmente treinados e licenciados”, disse o porta-voz. Esses terapeutas estavam acessíveis a qualquer momento, acrescentou.

Em comunicado, a Sama disse ainda que os trabalhadores foram solicitados a rotular 70 passagens de texto por turno de nove horas, não até 250, e que os trabalhadores poderiam ganhar entre US$ 1,46 e US$ 3,74 por hora após impostos.

O porta-voz se recusou a dizer quais cargos renderiam salários no topo dessa faixa. “A taxa de US$ 12,50 para o projeto cobre todos os custos, como despesas de infraestrutura, salário e benefícios para os associados e seus analistas de garantia de qualidade totalmente dedicados e líderes de equipe”, informou o representante da empresa. 

Fonte: Redação Byte
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