Antes de reclamar do QR code, saiba os benefícios para pessoas com deficiência
Tecnologia traz diversas vantagens para este público; códigos podem ser utilizados para oferecer versões acessíveis de diferentes conteúdos
Críticas contundentes, ácidas e até bem-humoradas sobre os QR codes se alastram por jornais e redes sociais com frequência. Os alvos normalmente são os cardápios digitais, mas há quem extrapole o desgosto para qualquer implementação dos famosos quadradinhos detectados pela câmera do celular. O que os detratores não levam em conta são os benefícios da tecnologia para pessoas com deficiência.
Os códigos QR podem ser utilizados em diferentes contextos e situações para oferecer versões acessíveis de diferentes conteúdos com recursos como libras (língua brasileira de sinais), audiodescrição e informações em texto, tanto no Brasil como em várias outras partes do mundo. Inovações nessa área também tornaram a tecnologia ainda mais precisa e fácil de ser utilizada.
Quem se opõe ao uso afirma que, pelo menos em bares e restaurantes, oferecer o menu apenas em formato digital exclui pessoas que não usam celular ou não possuem acesso à internet. Com esse argumento eu estou de acordo: é por isso que a tecnologia deve ser complementar e não substituir a versão física.
Outros dizem que o QR code não é acessível a pessoas cegas e com baixa visão e, por este motivo, deve ser completamente abandonado. Essa linha de raciocínio simplesmente não corresponde à realidade.
A tecnologia possui limitações, sim, como a dificuldade de localizar corretamente o código para ser escaneado. Neste caso, basta incluir marcações táteis para uma fácil identificação.
Essa solução já é uma realidade em museus e espaços culturais no Brasil. O conteúdo da exposição pode ser acessado com a câmera do celular, a pessoa com deficiência, então, pode ser incluída por meio da audiodescrição do local e das obras, além da interpretação em libras, no caso da visitação de pessoas surdas.
A mesma lógica vale para outros produtos e serviços. O código QR tem potencial para oferecer um formato alternativo e acessível de um cardápio, por exemplo, até mesmo porque nem todas as pessoas cegas são alfabetizadas em Braille; pode estar presente em caixas de remédio, produtos alimentícios e espaços urbanos.
Existe, inclusive, um movimento para testar a impressão de etiquetas com códigos QR em roupas, para oferecer dicas sobre lavagem, descrições visuais das peças, entre outras informações.
Novo patamar dos códigos QR para inclusão
A startup espanhola NaviLens, em parceria com a Universidade de Alicante, desenvolveu um código mais acessível e preciso para pessoas cegas e com baixa visão. Os adesivos são coloridos e, dependendo do tamanho, podem ser detectados a aproximadamente 15 metros de distância. E o mais interessante é que o celular pode estar em movimento e em qualquer posição.
A versatilidade e facilidade de uso fez com que centenas de adesivos fossem instalados no metrô e nas paradas de ônibus de Barcelona, na estação Jay St, em Nova York, entre outros locais. Os códigos podem, por exemplo, oferecer informações em tempo real sobre a partida dos trens, descrições dos espaços internos, identificação de bilheterias e escadas rolantes.
Mas os adesivos também possuem outras utilidades. Os aplicativos para Android e iOs da NaviLens permitem a criação de códigos para uso pessoal. O usuário então imprime esses adesivos, cola em qualquer objeto, cadastra um nome para cada um deles e os identifica com o celular. O Canal Inclunet demonstra a rotulagem de objetos com o NaviLens na prática.
Todas essas soluções e iniciativas mostram que sentenciar o QR code à morte pode interromper um grande progresso de acessibilidade para pessoas com deficiência.