Dados sobre exclusão digital evidenciam desafios para grupos vulneráveis
Para pessoas com deficiência, embora exista um avanço perceptível, os dados evidenciam uma realidade nada agradável
Minorias e grupos vulneráveis, como pessoas negras, idosas, com deficiência e com baixo nível de renda enfrentam enormes desafios no acesso à tecnologia e à internet. Durante a pandemia de covid-19, vimos essa desigualdade ser escancarada com prejuízos na educação de crianças e adolescentes e com barreiras de acesso a diversos serviços públicos e privados, por exemplo.
Essa é uma realidade dolorida, mas que precisamos conviver. Até mesmo para refletirmos e promovermos espaços mais acessíveis e inclusivos no ambiente digital. E para nos ajudar, vamos focar em alguns dados importantes e que evidenciam os desafios deste tipo de inclusão.
Somos 149 milhões de usuários de internet no Brasil (81% dos brasileiros), de acordo com a pesquisa TIC Domicílios 2022, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). São números, de fato, incríveis e que crescem ano a ano.
Mas o que interessa aqui, neste momento, são os desconectados. Até outubro de 2022, eram 36 milhões de pessoas e 15 milhões de domicílios sem acesso à internet. O perfil da exclusão digital é principalmente formado por pessoas idosas, pessoas negras e com baixo nível de renda e indivíduos de zonas rurais. Observe alguns desses dados:
- A conectividade dos domicílios é maior na área urbana, sendo 82% das residências com internet, enquanto na área rural o índice é de 68%;
- A faixa etária com menos acesso à internet é de 60 ou mais anos, representando 18 milhões de pessoas;
- Pessoas autodeclaradas negras possuem um percentual maior de falta de conexão: 21 milhões, contra 12 milhões de pessoas brancas;
- Em 2022, uma em cada três pessoas das classes D e E não acessaram a internet.
A exclusão digital também se manifesta na forma de barreiras de acesso. Para pessoas com deficiência, embora exista um avanço perceptível, os dados evidenciam uma realidade nada agradável.
O quinto estudo consecutivo da WebAIM detectou que 96,3% das páginas iniciais dos principais sites ao redor do mundo possuem problemas básicos de acessibilidade. Isso inclui, por exemplo, baixo contraste dos textos, o que dificulta a leitura por pessoas com baixa visão, e falta de descrição de imagens para pessoas cegas.
Por aqui, a realidade não é muito diferente. Pesquisas realizadas desde 2019 pelo Movimento Web Para Todos e pela empresa Big Data Corp mostram que menos de 1% dos sites brasileiros passam em testes mínimos de acessibilidade para pessoas com deficiência.
Esses dados sobre exclusão digital escancaram o caminho longo que ainda temos pela frente. Todos esses grupos sofrem na pele com falta de acesso à informação de qualidade e perdem oportunidades educacionais, de renda e de emprego.
Quer um exemplo prático? O próprio arquivo com apresentação das informações principais da pesquisa TIC Domicílios para a imprensa não tinha descrição de imagens e era inacessível ao programa que eu uso enquanto uma pessoa cega no computador. Tive, então, que recorrer a outras fontes de informação.
Esse é só um dos casos entre milhões. Temos que apoiar e incentivar, mais do que nunca, projetos e políticas para a inclusão digital ampla de grupos vulneráveis. Principalmente em um mundo tomado por inovações relacionadas a mudanças estruturais na sociedade provocadas pela inteligência artificial.
Alfabetização digital, conexão e oferta de tecnologias de qualidade são fundamentais para garantir a cidadania, os direitos básicos e reduzir os riscos e prejuízos da exclusão digital no lazer, na saúde, educação e em outras áreas das nossas vidas.