Mudanças no Twitter prejudicam pessoas com deficiência
Encerrar o plano gratuito para desenvolvedores acessarem e utilizarem os dados da plataforma impactou outros aplicativos e serviços
Uma das últimas novidades do Twitter foi encerrar o plano gratuito para desenvolvedores acessarem e utilizarem os dados da plataforma. Na prática, isso significa o fim da compatibilidade de milhares de aplicativos e serviços, incluindo programas usados por pessoas com deficiência, que permitem uma navegação mais amigável na rede social.
Alguns exemplos são os programas Tw Blue e Tweesecake. Com eles, eu e outras pessoas cegas podíamos usar o Twitter de forma muito mais ágil e intuitiva. Era possível ler, interagir e compartilhar publicações com simples comandos de teclado, sem a necessidade de estar com o programa aberto na tela do computador.
Isso quer dizer que uma simples combinação de teclas poderia abrir uma janela para compartilhar e criar tuítes, por exemplo, mesmo que eu estivesse navegando em qualquer site ou algum outro aplicativo. O mesmo acontecia para ler mensagens privadas e publicações de outras pessoas.
Essa é uma perda imensurável para pessoas que, assim como eu, sempre utilizaram a rede social por aplicativos de terceiros. Não só por comodidade, como por facilidade de acesso, usabilidade e praticidade.
Conversei com muitas pessoas com deficiência visual nas últimas semanas. Algumas, inconformadas, pensam em deixar a rede social; outras estão inseguras sobre o futuro ou até pretendem tentar se adaptar às versões oficiais da rede social. Mas todas me disseram que o impacto negativo é grande.
Os valores dos novos planos pagos anunciados pela rede social são completamente fora da realidade e obscenos para desenvolvedores independentes como Tw Blue e Tweesecake.
O mais básico custa 100 dólares mensais e permite o download de apenas 10 mil tuítes por mês. O twitter informa que é destinado para "amadores e estudantes". No mínimo uma desconexão completa da realidade.
Já a nova versão gratuita, segundo a rede social, só permite publicação de tuítes. A anterior, no nível mais básico, permitia download de 500 mil tuítes por mês, só a título de comparação.
Você pode se perguntar: mas o ideal não seria que a própria rede social se preocupasse com acessibilidade? A resposta com certeza é sim e a verdade é que o Twitter se destacou nos últimos anos pelo nível alto e de excelência nessa temática.
Vários recursos foram desenvolvidos, como lembretes para quem não adiciona descrição de imagens para pessoas cegas, legendas para tuítes de voz, entre outros.
O grande problema é a atual postura errática do bilionário Elon Musk, CEO do Twitter desde o final de 2022. As demissões em massa atingiram em cheio a equipe de excelência em acessibilidade, que foi completamente extinta.
Os efeitos práticos já começaram a aparecer: em fevereiro, usuários reclamaram que as legendas automáticas das conversas ao vivo e em áudio do twitter pararam de funcionar sem motivo aparente, de acordo com o portal The Verge.
Todas essas instabilidades, mudanças e posturas equivocadas colocam a prova a capacidade da rede social continuar na vanguarda da acessibilidade, tanto com os aplicativos oficiais como na versão web.
A falta de priorização desses recursos, assim como o fim de programas de computador para acessar e usar o Twitter de forma mais amigável, pode desmobilizar e prejudicar pessoas com deficiência, em especial pessoas cegas e com baixa visão.
O Twitter sempre foi a minha principal rede social desde 2009. Eu, por enquanto, vou tentar permanecer na plataforma. Até quando, ainda é uma incógnita.