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Ozempic pode ter relação com raros casos de cegueira, segundo estudo

Estudo mostra que as pessoas com diabetes e obesidade que receberam tratamento com Ozempic têm mais chance de neuropatia óptica isquêmica, que leva à cegueira

4 jul 2024 - 18h45
(atualizado às 20h57)
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Um estudo publicado na revista JAMA Ophthalmology na última quarta-feira (3) sugere que a semaglutida —  conhecida pelas marcas Wegovy e Ozempic — pode aumentar os riscos de uma rara lesão do nervo óptico que leva a uma cegueira repentina e incurável.

Foto: pikisuperstar/freepik / Canaltech

De acordo com o material, pessoas com diabetes em uso de semaglutida têm quatro vezes mais probabilidade de serem diagnosticadas com essa doença rara, chamada de neuropatia óptica isquêmica.

Nesse distúrbio, as artérias que fornecem sangue ao nervo óptico ficam bloqueadas. A condição pode levar à perda da visão devido ao nervo óptico ser privado de oxigênio e danificado.

O problema é que, pelo menos por enquanto, a medicina não encontrou um tratamento eficaz para essa condição, que afeta 10 em cada 100 mil pessoas.

Pacientes com lesão do nervo óptico

Os pesquisadores de Harvard observaram dados de 16.827 pacientes no hospital universitário Mass Eye and Ear. Desses, 710 tinham diabetes tipo 2, e 194 faziam tratamento com semaglutida.

Os pesquisadores descobriram que, ao longo de três anos, 8,9% dessas pessoas que tomaram semaglutida apresentaram a neuropatia óptica isquêmica, em comparação com 1,8% que tomaram os outros medicamentos.

O estudo também descobriu que pessoas com sobrepeso ou obesas que receberam prescrição de semaglutida tinham mais de sete vezes mais probabilidade do que aquelas que tomavam outros tipos de medicamentos, uma vez que, ao longo de três anos, 6,7% desse público teve a lesão, em comparação com 0,8% que estavam tomando outros medicamentos.

Estudo mostra que Ozempic pode ter relação com raros casos de cegueira (Imagem: Pavel Danilyuk/Pexels)
Estudo mostra que Ozempic pode ter relação com raros casos de cegueira (Imagem: Pavel Danilyuk/Pexels)
Foto: Canaltech

Isso quer dizer que você vai ficar cego se tomar Ozempic? Não. Os próprios pesquisadores reconhecem a importância de estudar mais sobre o medicamento em uma população maior, para entender mais sobre essa possível relação. 

De qualquer forma, é uma informação que pode ser importante, principalmente para que os médicos considerem essa possibilidade durante a prescrição para pacientes que tenham outros problemas conhecidos do nervo óptico, como glaucoma.

A resposta da Novo Nordisk

Em comunicado à imprensa, a Novo Nordisk (fabricante do Ozempic) diz o seguinte:

A segurança do paciente é uma prioridade máxima para a Novo Nordisk, e levamos muito a sério todos os relatos sobre eventos adversos decorrentes do uso de nossos medicamentos. A neuropatia óptica isquêmica não está listada como uma reação adversa medicamentosa conhecida no resumo das características do produto para as formulações comercializadas de semaglutida (Ozempic e Rybelsus para diabetes tipo 2 e Wegovy para controle de peso) de acordo com os rótulos aprovados.

Um ponto que se deve levar em consideração é que pacientes com diabetes sempre tiveram um risco maior de desenvolver problemas de visão, devido às complicações que a doença pode causar nos vasos sanguíneos e nos nervos dos olhos. Isso só mostra a necessidade de estudar mais a fundo essa possível relação do Ozempic com os casos raros de cegueira.

Além disso, em nota enviada ao Canaltech, a Novo Nordisk afirma que:

A neuropatia ótica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA) não é uma reação adversa ao medicamento para as

formulações comercializadas de semaglutida (Ozempic®, Wegovy®, Rybelsus®) de acordo com as respectivas bulas

aprovadas.

Existem limitações metodológicas fundamentais do estudo que precisam ser consideradas na interpretação dos

resultados:

• Trata-se de um estudo de coorte retrospectivo, de centro único, com alto risco de viés de seleção. Este

estudo não foi desenvolvido para avaliar qualquer potencial relação entre NOIA-NA e a exposição à

semaglutida.

• Na análise, não foram considerados fatores de confusão importantes como o tabagismo, a duração do

diabetes e a morfologia do disco óptico.

• A gravidade dos fatores de confusão não pôde ser devidamente avaliada devido a um pequeno número de

pessoas incluídas com diabetes tipo 2 ou obesidade/sobrepeso expostas à semaglutida (n=169 e n=254,

respetivamente) e a poucos eventos NOIA-NA (n=17 e n= 20, respetivamente). Isto também é refletido nos

amplos intervalos de confiança de 95%, que demonstram uma menor precisão estatística.

• Não existe um código CID-10 (Classificação Internacional de Doenças) para NOIA-NA, o que pode levar a

desafios na codificação exata e identificação de casos relacionados com esta doença. É válido destacar que

40% dos casos codificados como neuropatia ótica isquêmica não eram realmente NOIA-NA, mas, sim,

neuropatia ótica isquêmica de arterite de células gigantes.

• As informações fornecidas na publicação limitam avaliar se as pessoas estavam expostas à semaglutida

quando o evento ocorreu.

A semaglutida também foi analisada em grandes estudos de evidências do mundo real e em programas de

desenvolvimento clínico robustos (SUSTAIN, PIONEER, STEP, SELECT, OASIS) com uma exposição cumulativa, incluindo o uso pós-comercialização de mais de 22 milhões de pacientes-ano. A totalidade dos dados garante o perfil de

segurança da semaglutida.

Fonte: JAMA Ophthalmology, Reuters

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