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Pagamento de transporte público ainda é um atraso

Apesar dos avanços tecnológicos nos modelos de pagamento, pouco evoluímos quando se trata de pagar o transporte público.

2 abr 2022 - 02h00
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Foto: Adobe Stock

Se você concorda que o transporte público deve ser priorizado, propomos um desafio para quem costuma andar de carro: vá de transporte público. Caso não tenha o bilhete de transporte de sua cidade e não costume andar com dinheiro no bolso, terá dificuldades em pagar a viagem. 

Há tecnologias que estão integrando os meios de transporte e ajudando as pessoas, mas ainda estamos atrasados quando o assunto é bilhetagem – a tecnologia de pagamento do transporte público, apesar dos enormes avanços tecnológicos nos meios de pagamentos.

A maioria das cidades brasileiras ainda opera com sistemas antigos, fechados, onde só é possível comprar créditos em bilheterias, muitas vezes sem canais digitais, além da utilização ser restrita apenas aos modais públicos, como ônibus, metrôs e trens, não tendo integração com outros transportes, como bicicletas e táxis. Uma mobilidade conveniente depende da integração da forma de pagamento, tornando tudo mais acessível às pessoas.

Os bilhetes de transporte funcionam como carteiras fechadas, nas quais só é possível colocar e tirar créditos do cartão de formas predefinidas pela autoridade de transporte. Em São Paulo, para recarregar o Bilhete Único, é preciso ir até bilheterias especiais, máquinas de autoatendimento ou utilizar algum aplicativo cadastrado, como o da Quicko.

Embora meios digitais de pagamento sejam cada vez mais usados nas compras, o dinheiro físico ainda é relevante para as transações do transporte. Uma das razões é o grande número de pessoas que utilizam o transporte público e ainda não são bancarizadas ou não têm acesso a cartões de crédito, meios de pagamento preferenciais dos apps.

Mesmo pessoas bancarizadas e com cartão de crédito encontram restrições ao uso das novas tecnologias. É o caso do pagamento por aproximação, de cartões de crédito ou celulares. É uma ferramenta mais rápida e eficiente do que os atuais cartões do transporte, mas que não permite ao usuário o benefício da tarifa integrada entre os modais – ou seja, ao pegar um ônibus após desembarcar do metrô, pagará duas tarifas cheias.

O sistema fechado impõe limitação à política pública de mobilidade, ao ponto que a restrição do pagamento do transporte público apenas com dinheiro físico bloqueia a chance da criação de iniciativas que integrem o uso de bikes às linhas de ônibus e metrô com tarifas mais baixas, estratégia fundamental para tornar a mobilidade mais atraente e incentivar o não uso de carros particulares.

Mais integração, mais mobilidade

Muitas cidades já entenderam que a bilhetagem é a chave para o aumento do uso do transporte público. É o caso de Helsinque, na Finlândia, que adotou o “account based ticketing” (ABT), ou “bilhetagem em conta digital”. Por lá, aplicativos privados, como o Whim, possibilitam ao usuário a compra de pacotes mensais de mobilidade, com créditos em modais públicos - como ônibus -, e privados, caso das bicicletas e táxis.

A liberação para uso do transporte é feita via app, tornando a jornada ainda mais fluida e simples. A autoridade local conduz a política pública de mobilidade e garante que incentivos básicos sejam aplicados por todas as plataformas, que podem desenvolver campanhas próprias aos usuários.

Modernizar o sistema de bilhetagem é fundamental para tornar o transporte mais fácil, conveniente e democrático, além de ser um instrumento para auxiliar a inclusão bancária de parte da população e um estímulo à diversificação dos modais.

A tecnologia para tornar o pagamento do transporte aberto e digital já está disponível. Em tempos de discussões sobre a cidade que queremos, mobilidade e suas formas de pagamento devem estar no topo da lista de prioridades de gestores públicos e legisladores. 

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