Pais devem controlar vida digital dos filhos? Especialistas sugerem equilíbrio
Para especialistas ouvidos pelo Byte, é necessário encontrar um meio termo entre o respeito à privacidade e vigilância respeitosa
O último domingo (13) foi tema de debate e discussão nas redes sociais quando a atriz e empresária Larissa Manoela, de 22 anos, revelou com detalhe a relação profissional e financeira que tinha com os pais, Silvana Taques e Gilberto Elias.
A artista, que começou a carreira aos quatro anos, tinha os pais como administradores de suas finanças e contratos. A reportagem revelou alguns contratos das empresas que a família geria e gerou indagações sobre o controle excessivo do dinheiro de Larissa.
Em entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo, ela conta que precisava pedir Pix aos pais quando precisava pagar coisas supérfluas, como um milho na praia ou um matte.
O controle parental sobre os filhos pode acontecer de várias formas. Não só no lado financeiro, como no caso de Larissa, mas no ambiente online também. Em um cenário de constante evolução das tecnologias, há um debate sobre os limites éticos da supervisão dos pais sobre as atividades online dos jovens.
No Brasil, esse debate é enriquecido pelo arcabouço legal do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que busca garantir a proteção e o desenvolvimento saudável da juventude.
Controle parental no ambiente digital
Existem aplicativos de controle parental que auxiliam os pais na supervisão das ações online de seus filhos. Eles trazem ferramentas como:
- Monitoramento e limites de tempo de uso;
- Determinar que tipos de conteúdos podem ser acessados;
- Bloquear apps e sites indevidos;
- Rastrear histórico de navegação de sites.
Embora possam contribuir para a segurança digital dos menores, a implementação desses apps levanta questionamentos sobre como distinguir monitoramento da falta de privacidade, além do impacto na autonomia e habilidades de tomada de decisão das crianças e adolescentes.
Segundo Maycon Torres, doutor em psicologia e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), é importante que os pais tenham participação na vida digital dos filhos. Mas esse processo deve ser feito com diálogo.
Por outro lado, diz Torres, “se existe um padrão de dificuldade de diálogo, a tendência é que isso gere insegurança e retraimento", avalia.
Maria Mello, coordenadora do programa Criança e Consumo, do Instituto Alana, organização de impacto socioambiental que promove e inspira um mundo melhor para as crianças, disse por e-mail que é sempre importante que as ferramentas de controle parental sejam utilizadas com transparência e que sejam objeto de conversas entre pais e filhos.
Direito digital para crianças
O avanço tecnológico reforçou a importância de preservar a integridade das crianças na era digital, com políticas e estratégias que assegurem um ambiente online seguro e construtivo para o desenvolvimento delas.
A advogada especialista em direito digital e CTO da DataLegal, Camila Studart, explicou ao Byte que não existem limites legais para controle parental no ambiente online. Mas existem leis e regulamentos gerais que abordam questões de proteção da infância e direitos fundamentais, por exemplo, que devem ser aplicados nessas situações.
“Além das obrigações moral e ética, os pais têm, por obrigação legal, o dever de educar, orientar e supervisionar seus filhos, promovendo um ambiente seguro e saudável para o seu desenvolvimento, inclusive online”, avalia.
Para ela, no entanto, há uma geração de crianças e adolescentes submetidos ao abandono digital, que é a negligência sofrida em relação ao uso da internet e outras tecnologias.
“Crianças, desde bebês, e adolescentes, são deixados sem orientação e sem limites em suas atividades online, expondo-as a riscos diversos. Não somente os que envolvem crimes e interações perigosas, mas também abarcando os malefícios neurológicos e emocionais que implicam em prejuízos físico, cognitivo, emocional, afetivo e tantos outros", aponta.
No início deste ano, o Byte revelou um esquema digital de pedofilia com uma tática de usar códigos e atalhos em diversas plataformas e redes sociais para ter acesso a pornografia infantil. Os cibercriminosos também atraíam as crianças vulneráveis para oferecer o conteúdo ilegal. Alguns desses truques chegaram a ser ranqueados no Google.
Como monitorar os filhos de forma saudável
Segundo Torres, a abordagem possível e saudável para os pais talvez seja acompanhar o conteúdo que os filhos consomem na internet.
“Não só fiscalizar, mas que possam participar desse consumo de conteúdo, que possam fazer desse material da internet uma pauta de diálogo na família”, disse o psicólogo.
Maria Mello, do Instituto Alana, diz que essa abordagem vai desde falar sobre o meme do momento a perguntar para os jovens sobre os temas e canais que estão acompanhando.
Além disso, ela aponta, é importante que adultos compartilhem entre si os desafios digitais que vivenciam. Assim a construção sobre as melhores práticas de segurança podem surgir de forma colaborativa.
“Ainda, na medida do possível, é importante que mães e pais eduquem pelo exemplo, evitando o uso excessivo de telas e tecnologias digitais em momentos de convivência familiar e buscando desenvolver um olhar crítico sobre os conteúdos que consomem nas redes, para que possam incentivar os filhos a fazer o mesmo”, disse.
Para Camila Studart, advogada da DataLegal, tudo é questão de balancear o monitoramento.
“É preciso buscar informação e encontrar um equilíbrio entre o respeito à privacidade e a vigilância responsável dos filhos de maneira respeitosa, mantendo-os seguros enquanto desenvolvem sua cidadania digital. Aos pequenos, é importante manter ferramentas de controle parental”, disse.