Pegadinhas em avião fazem sucesso, mas podem render até prisão
Vídeos de pegadinhas como “falso open bar” e “celebridade no avião” bombam, mas podem virar ações por dano moral e até dar cadeia
Diversas pegadinhas feitas dentro de aviões, em voos comerciais, viralizaram nos últimos meses. No mais conhecido, o influenciador Lucas Monteiro, atualmente com 512 mil seguidores no TikTok, fez passageiros acreditarem que estavam em um voo open bar (com bebida grátis). Mas juristas informaram a uma reportagem do UOL que, dependendo do caso, é possível que passageiros peçam indenização por danos morais e até prisão, em último caso.
Para a sua "trollagem", Monteiro enviou um comunicado falso por meio do AirDrop (serviço da Apple de compartilhamento de arquivos via Wi-Fi), informando que quem gritasse o nome da companhia aérea teria direito a bebidas alcoólicas.
@lucasmonteirosg É só gritar LATAM! 😂✈️ KKKKKKKKKKKK
♬ som original - Lucas Monteiro
Algum tempo depois, ele colocou em prática outra pegadinha. Desta vez, antes de entrar no avião, gravou um áudio como se fosse o piloto anunciando que havia uma celebridade entre os passageiros: Wesley Safadão. Então, ele colocou uma caixa de som no bagageiro superior e, depois da decolagem, deu play. Animados, os passageiros aplaudiram e procuraram o cantor.
Apesar de divertir centenas de milhares de pessoas nas redes sociais, esse tipo de pegadinha tem causado a preocupação de tripulantes e companhias aéreas. O problema é que elas podem causar agitação ou nervosismo excessivo dos passageiros. Houve relato, por exemplo, de discussão com a tripulação devido ao falso open bar.
Ao UOL, os advogados Veridiana Fraga e Renato Franco de Campos, sócios do SFCB Advogados, explicaram que certas pegadinhas são passíveis de danos morais por parte dos enganados. Caso alguém simule uma pane, por exemplo, pode ocorrer um tumulto na aeronave. Os passageiros podem processar a companhia pela bagunça, e o autor da brincadeira pode ser responsabilizado na Justiça.
Já pegadinhas de maior gravidade, que coloquem o avião em perigo ou impeçam sua navegação aérea, segundo os advogados, podem configurar crime, com pena prevista de dois a cinco anos.
Além do pânico a bordo e de possíveis processos, outra preocupação das companhias aéreas é a de que a moda pegue. A audiência e o engajamento desse tipo de conteúdo pode servir como estímulo para que outros influenciadores resolvam fazer pegadinhas cada vez mais dramáticas. A comunicação enganosa, então, pode afetar a confiança dos passageiros na tripulação.
"Você tem cerca de 200 pessoas confinadas em um local fechado e precisa conseguir gerenciar essa situação. Se os passageiros não acreditam nos tripulantes, a situação pode sair de controle", disse ao UOL o piloto Bruno Libio da Silva, diretor de segurança de voo do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas). "Quando você perde essa confiança no profissional da companhia aérea em um ambiente hostil como um avião, fica muito difícil recuperá-la depois."