Poluição do ar contribui para resistência a antibióticos, diz estudo
Se não houver mudanças nas políticas de controle da poluição do ar, a resistência poderá aumentar em até 17% até 2050
Um novo estudo global alerta para a relação entre poluição do ar e resistência a antibióticos, ampliando ainda mais as preocupações sobre a saúde humana em todo o mundo.
A pesquisa, que compreendeu dados de mais de 100 países abrangendo quase duas décadas (2000 a 2018), revela uma relação direta entre o aumento da poluição do ar e a crescente resistência a antibióticos em todos os continentes. As conclusões do estudo foram divulgadas este mês na revista científica Lancet Planetary Health.
- A análise incluiu dados de mais de 11,5 milhões de amostras, de nove patógenos bacterianos (capazes de causar doenças) e 43 tipos de antibióticos;
- Foram avaliados dados antibióticos, saneamento, economia, gastos com saúde, população, educação, clima e poluição do ar;
- Os dados mostraram que cada incremento de 10% na poluição do ar está associado a um aumento de 1,1% na imunidade a antibióticos.
“Nossa análise apresenta fortes evidências de que os níveis crescentes de poluição do ar estão associados ao aumento do risco de resistência a antibióticos”, escreveram pesquisadores da China e do Reino Unido.
A pesquisa
Segundo a pesquisa, os principais impulsionadores ainda são o uso indevido e excessivo de antibióticos, que são usados para tratar infecções. No entanto, as análises sugerem que a problemática é agravada pelos níveis de poluição atmosférica.
Bactérias podem adquirir resistência a antibióticos por meio de alterações genéticas que as tornam mais aptas a sobreviver em presença desses medicamentos, tornando o efeito ineficaz.
O estudo não investigou o por que os dois (poluição do ar e resitência a antibióticos) podem estar ligados, mas as evidências sugerem que o material particulado PM2.5 (partículas de poeira muito finas no ar que têm 2,5 microns ou menos de diâmetro e que são inaláveis) pode conter bactérias resistentes a medicamentos e genes, que podem ser transferidos entre ambientes e inalados diretamente por humanos.
Mais resultados
A análise revela ainda que a resistência a antibióticos tende a aumentar em conjunto com a concentração de partículas PM2,5 no ar, que é composta por partículas microscópicas provenientes de fontes como tráfego rodoviário e processos industriais.
Os resultados também apontam para a possibilidade de que, caso não ocorram mudanças significativas nas políticas de controle da poluição do ar, essa imunidade possa aumentar em até 17% até 2050, contribuindo para um aumento estimado de 840 mil mortes prematuras anualmente ligadas à condição.
Até 2018, a análise indica imunidade à medicamentos resultante da poluição do ar foi associada a cerca de 480 mil mortes prematuras.
Embora o estudo tenha desvendado essa ligação preocupante, os pesquisadores reconhecem a necessidade de mais investigações para entender completamente como os genes resistentes a antibióticos podem ser transportados através da poluição do ar, bem como as implicações específicas em diferentes regiões do mundo.