Poluição e químicos já estão piorando nossos corpos; veja as mudanças
Má qualidade dos alimentos, a poluição ambiental e substâncias presentes nos produtos ao nosso redor são culpados, segundo autor de livro
O corpo humano está sofrendo grandes mudanças — algumas delas para pior — ao longo das décadas, e os culpados são a má qualidade dos alimentos, a poluição ambiental e substâncias presentes nos produtos ao nosso redor. A conclusão é de Leonardo Trasande, especialista em saúde ambiental infantil da NYU Langone Health, em uma reportagem do jornal The New York Post publicada na quinta (23).
Trasande também é autor do livro "Sicker Fatter Poorer" (Mais doente, mais gordo, mais pobre, em português), que investiga como produtos químicos alteram nossos sistemas hormonais e prejudicam nossa saúde de maneiras diversas.
Um dado preocupante do texto é que menos de 1% das mais de 40 mil substâncias químicas usadas em produtos dos EUA foram devidamente testadas quanto à segurança humana, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental do país.
Veja alguns exemplos das mutações que os humanos sofreram de forma geral em 50 anos segundo Trasande, que também se baseia em estudos recentes.
Cérebro: uma dieta com mais alimentos ultraprocessados têm sido associadaa problemas de memória, declínio cognitivo, aumento no risco de demência e ansiedade.
Ainda no cérebro, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts descobriram que a má qualidade do ar afetou as habilidades dos jogadores de xadrez de fazer escolhas críticas no jogo.
Olhos e ouvidos: o betacaroteno em cenouras e outros vegetais faz bem aos dois órgãos, e a ausência dele na dieta também traz prejuízos. Em 2019, um jovem paciente começou a perder sua capacidade de ver e ouvir devido à deficiência de ferro e B12, que por sua vez veio da ausência do nutriente.
Pulmões: estudos recentes ligaram produtos químicos liberados por produtos de limpeza e fogões a gás a males respiratórios como asma ou bronquite.
Fígado: panelas antiaderentes contêm substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil (PFAS), que se acumulam no corpo e no ambiente ao longo do tempo, com potencial de causar doenças endócrinas e câncer de fígado.
Sangue: ftalatos em esmaltes e xampus populares estavam ligados a um aumento de 30% a 63% no risco de diabetes tipo 2, afetando a regulação da glicose no sangue. Esses compostos também estariam presentes em fast food, produtos de cuidados pessoais, embalagens e brinquedos infantis e podem interromper o fluxo de hormônios na corrente sanguínea.
Sistema digestivo: presentes em doces, bolos e até gelo, os corantes alimentares do tipo Red 40, Yellow 5 e Yellow 6 alteram as células do intestino e podem prejudicar a função digestiva, potencialmente levando ao desenvolvimento da doença de Crohn e colite.
Tem mais: o acúmulo de microplásticos no corpo pode desencadear uma resposta imune e ativar a inflamação, o que pode abrir caminho para o crescimento de tumores cancerígenos e doenças metabólicas.
Pênis e testículos: O comprimento médio do pênis ereto dos homens aumentou 24% ao longo de 29 anos, e a tendência seria global. É o que diz um estudo de Michael Eisenberg, médico e professor de urologia na Universidade de Stanford (EUA) publicado na semana passada. É possível que o aumento seja consequência da exposição do homem a poluentes ambientais — como pesticidas ou produtos de higiene — e aumento do sedentarismo.
Ovários e útero: a ciência tem percebido aumento, nos últimos anos, de casos de ciclos menstruais irregulares e puberdade precoce em meninas de até nove meses de idade. Um estudo ligou o fenômeno à presença de ftalatos, parabenos e fenóis em calcinhas. E itens como sabonetes, cosméticos e produtos menstruais também estão ligadas à endometriose e ao câncer de endométrio, disfunção hormonal e infertilidade.
Como evitar?
Como a maioria dessas coisas estão um pouco além do nosso controle, a reportagem diz que alguns hábitos podem ajudar a reduzir a exposição a eles:
- Comer o máximo de comida orgânica possível;
- Não use produtos com PFAS ou ftalatos;
- Abra uma janela de sua casa para recircular o ar.
"Isso não significa que você zera sua exposição, não significa que não haja exposições prejudiciais que restam", disse Trasande ao Post. "Mas esses são passos simples para a melhoria de sua saúde. Então, novamente, há muita esperança e oportunidade de reduzir sua exposição a esses produtos químicos."