Por que a ciência consegue congelar óvulos, mas não órgãos?
Fertilização in Vitro (FIV) já existe há muito tempo, então quais são os motivos para não conseguirmos congelar órgãos?
Cientistas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, conseguiram fazer algo que até então só era visto em filmes: congelaram e descongelaram órgãos de camundongos, de uma forma que é possível usá-los depois para transplantes.
Parece ficção científica, mas na revista Nature Communications, os pesquisadores publicaram que fizeram transplantes de rins “congelados” – essencialmente pelo método de criopreservação – em cinco camundongos. Mesmo com o grupo pequeno, pela técnica experimental, eles foram armazenados por até 100 dias.
A criopreservação é uma técnica que utiliza temperaturas extremamente baixas para preservar materiais biológicos, como células e tecidos, podendo chegar a 196º C negativos. Nesse experimento, a intenção é impedir o deterioramento dos materiais após esse processo, mas é muito difícil.
Por outro lado, a Fertilização in Vitro (FIV) já tem sucesso há anos em congelar e descongelar óvulos e embriões humanos. No fim, a questão fica: por que conseguimos preservar um (por anos, inclusive) e outro não?
Diferenças nos materiais
A diferença está no tamanho e complexidade dos materiais biológicos. Óvulos e embriões são estruturas celulares menores e menos complexas do que um órgão, o que facilita o processo de criopreservação e descongelamento sem causar danos significativos.
Já os órgãos, por serem muito maiores e mais complexos, enfrentam o problema da formação de cristais de gelo (cristalização) durante o processo, o que pode causar lesões graves e irreparáveis às células.
Óvulos são células únicas, onde a formação de cristais de gelo é mais controlada. Além disso, na técnica de vitrificação, que tem altas concentrações de agentes crioprotetores e um resfriamento rápido, evita a cristalização que danificaria a célula.
Além disso, sua composição celular uniforme facilita a penetração dos agentes crioprotetores. O tamanho também ajuda na hora de reduzem o risco de lesões. No fim, há uma taxa de sucesso muito maior na da criopreservação na FIV.
Sucesso do estudo
No estudo da Universidade de Minnesota, uma nova técnica foi utilizada na hora de descongelar o órgão.
de óxido de ferro, em conjunto da solução crioprotetora, foram injetadas no órgão. Ainda, os cientistas usaram pequenas ondas eletromagnéticas para esquentar a estrutura por dentro, evitando a cristalização.
No experimento, os cientistas transplantaram tanto órgãos vitrificados quanto enxertos de rins recém-extraídos. Um rim foi refrigerado a 4°C por 60 horas, mas essa cirurgia falhou e o camundongo foi sacrificado.
Os animais com rins recém-extraídos tiveram melhores resultados, produzindo urina em poucos minutos, enquanto os rins nanoaquecidos demoraram 40 a 45 minutos. Nas duas primeiras semanas após a cirurgia, os rins aquecidos apresentaram mais disfunções metabólicas, mas essa dificuldade foi superada na terceira semana.