Por que ainda não usamos carros voadores?
Viabilidade técnica dos próprios veículos ainda é um desafio; eficiência energética das baterias também precisa ser superada
O desenho animado “Os Jetsons”, lançado nos anos 1960, tinha como um de seus maiores atrativos os carros voadores em vez de andarem sobre rodas. No entanto, um transporte desse tipo ainda não são uma realidade — pelo menos não da forma que pensaram os escritores.
Os veículos elétricos de pouso e decolagem vertical (eVTOL, na sigla em inglês) não são exatamente carros voadores ou ao menos se parecem com jatinhos e helicópteros. Na verdade, são aeronaves que pousam e decolam com funcionalidades parecidas com as usadas em drones.
Várias empresas desenvolvem protótipos de eVTOLs, como a Eve Air Mobility, uma subsidiária da brasileira Embraer e a Gol Linhas Aéreas, que está decidida a entrar no segmento de mobilidade urbana. Em um anúncio, a companhia informou que planeja iniciar sua operação no Brasil em 2025.
Apesar disso, para que os carros voadores sejam uma realidade, vários desafios precisam ser superados, e um deles é a própria viabilidade técnica dos próprios veículos.
eVTOLs e aeronaves convencionais
O que os eVTOLs e os aviões têm em comum é a existência de asas fixas. “Elas conferem mais estabilidade durante o voo e maior autonomia [tempo máximo de voo ou distância máxima percorrida pelo veículo]”, disse o engenheiro eletricista Guilherme Augusto Silva Pereira, do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para a Agência Fapesp.
O fluxo de ar que passa sob as asas ajuda a manter a aeronave por mais tempo no ar, gastando menos energia. Além disso, os veículos elétricos de pouso vertical podem ter fontes híbridas de energia, ou seja, baterias, células fotovoltaicas e células a combustível.
Nas aeronaves como helicópteros e aviões, é usado principalmente querosene de aviação, combustível derivado do petróleo, para mover seus motores.
Por que ainda não usamos carros voadores?
Os carros voadores do futuro possivelmente não serão como você deve estar imaginando. Ou seja, não sairá voando para evitar a avenida congestionada. Em vez disso, funcionarão como taxi-helicópteros, com lugares específicos para pouso e decolagem e condução de motoristas especializados.
Um exemplo disso é o programa de mobilidade aérea urbana da Uber, em que a empresa resolveu investir em um protótipo para transporte aéreo compartilhado com o programa Uber Elevate. O objetivo é iniciar operações comerciais a partir de 2023.
O projeto para os eVTOLs do programa da Uber mostra que os veículos devem voar entre 240 e 320 quilômetros por hora (km/h) em uma altitude que vai variar de 330 a 600 metros. Com isso, uma viagem entre o centro de São Paulo e o de Campinas — uma distância de cerca de 100 km — poderia ser feita em até 18 minutos. Normalmente o trajeto de carro é percorrido em mais de duas horas.
O plano da companhia também diz que uma única recarga de bateria deverá ser capaz de proporcionar autonomia de voo de quase 100 km.
O desafio das baterias
Como os veículos seriam movidos por meio de energia híbrida, além do projeto do veículo em si, a eficiência energética dos eVTOLs é uma das grandes questões que ainda barram os veículos voadores. Essas baterias ainda são pesadas e com pouca eficiência. Para que possam voar por mais tempo gastando menos energia, cientistas ao redor do mundo trabalham para melhorar a aerodinâmica.
Pesquisadores afirmam que o ideal é que as baterias possam ser recarregadas em intervalos curtos de tempo e que tenham a menor massa possível, elevando a capacidade de carga útil do eVTOL.
Os drones, por exemplo, no início dos anos 2000, tinham cerca de 2 kg e tinham autonomia de voo de até dez minutos. Hoje, no entanto, há veículos que voam por até uma hora sem necessidade de recarregar as baterias.