Por que você deve prestar atenção ao novo trigo transgênico no Brasil
A farinha de trigo transgênica já tinha consumo liberado no Brasil, mas, com a nova aprovação, agricultores locais podem plantar sementes
O governo brasileiro aprovou recentemente o plantio e venda de uma variedade de trigo geneticamente modificado chamado HB4. A farinha de trigo proveniente desse transgênico já tinha consumo liberado no Brasil. Mas, com a nova aprovação, agricultores locais podem começar a plantar a própria semente no país.
A semente de trigo HB4 foi criada pela empresa argentina Bioceres. O produto contém o gene HaHB4, retirado da planta de girassol, que torna o trigo mais resistente à seca. Além disso, o HB4 é resistente ao glufosinato de amônio, herbicida empregado na agricultura.
O que são transgênicos?
Produtos transgênicos são organismos modificados geneticamente para ter características específicas. Isso é feito pela inserção de material genético de outras espécies no DNA.
No campo da agricultura, é comum a criação de culturas mais resistentes a doenças, pragas e herbicidas. Enquanto defensores da tecnologia argumentem que eles podem ajudar tornar a agricultura mais eficaz, algumas organizações da sociedade civil têm preocupações sobre os impactos ambientais e de saúde.
Argumentos favoráveis
- A aprovação do trigo HB4 poderia aumentar a produção brasileira de trigo e reduzir a dependência do país em relação às importações de trigo, segundo agricultores;
- O consumo da farinha de trigo transgênico já é liberado no Brasil e em outros países há anos;
- A Abimapi, associação que representa fabricantes de biscoitos, massas, pães e bolos no Brasil, disse que a aprovação do cultivo e comercialização do trigo transgênico no Brasil pode permitir o aumento da oferta interna do cereal, o que poderia reduzir os custos.
Argumentos contrários
- Entidades questionam o processo de aprovação conduzido pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência;
- Segundo opositores, a aprovação pode desrespeitar protocolos de biossegurança dos quais o país é signatário:
- Os estudos considerados pela CTNBio não foram realizados em território brasileiro, e sim argentino;
- Faltam análises sobre impactos socioeconômicos da aprovação, para além de questões de segurança.
- Existem preocupações sobre impacto do trigo transgênico em plantações próximas:
- Plantações não transgênicas podem ser polinizadas pelo produto transgênico, em uma espécie de "contaminação";
- Outros plantios também podem sofrer com o espalhamento de agroquímicos aos quais só os transgênicos são resistentes;
- Por isso, diferentemente do consumo da farinha já pronta, a plantação deveria passar por processos de aprovação específicos, segundo entidades contrárias.
Saiba mais
Embora alguns agricultores vejam a aprovação do HB4 como uma oportunidade de aumentar a produção brasileira, diversas organizações da sociedade civil se opuseram à aprovação e importação de trigo transgênico.
O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Associação Agroecológica Brasileira (ANA), inclusive, chegaram a pedir ao Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) para barrar a liberação e a importação do cereal transgênico, o que não aconteceu.
Eles argumentaram que houve violações no processo de aprovação e falta de estudos sobre os riscos para a saúde e o meio ambiente.
O Brasil é a segunda nação, depois da Argentina, a aprovar uma variedade de trigo para esse propósito. Até então, só importávamos farinha de trigo transgênico de outros países.
O material foi aprovado para consumo humano na Austrália, Nova Zelândia, Indonésia, África do Sul, Colômbia, Nigéria e Estados Unidos. No entanto, esses países não têm autorização para plantar a semente.