Redes sociais ainda fazem pouco para derrotar fake news, dizem analistas
Pesquisadores festejam novas medidas das redes sociais para evitar fake news, mas mantêm as expectativas baixas
A dois meses das eleições federais e estaduais no Brasil, há muita ansiedade sobre se veremos o excesso de fake news eleitorais nas redes sociais e apps de mensagens como o WhatsApp e Telegram. Ao Terra Byte, especialistas defendem que o cenário é totalmente diferente e muito já foi feito, mas que as plataformas sociais ainda estão longe de atacar o cerne do problema.
De um modo geral, as plataformas fizeram desde parcerias com agências de checagem de fatos [veja aqui tudo o que elas têm feito] para marcar conteúdo enganoso até remover ativamente postagens e contas que divulgam mentiras.
No WhatsApp, a Meta, empresa responsável pelo aplicativo (além do Facebook e Instagram), restringiu o número de encaminhamentos, alerta quando mensagens são encaminhadas com frequência e até disponibiliza robôs que tiram dúvidas sobre as eleições.
Mesmo com tantas medidas, a questão não deve ser exterminada, como bem resumiu Ivan Paganotti, professor da pós-graduação de Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo: "É praticamente impossível você conseguir fazer um controle do discurso público. Plataformas não têm essa estrutura e não é nem socialmente desejável que tenham. Elas não foram criadas para isso", afirma.
De acordo com David Nemer, professor da Universidade da Virgínia (EUA) que estuda fake news, as redes sociais hoje estão muito mais preparadas para lidar com desinformação. Para ele, algumas ações recentes das plataformas foram importantes, como a limitação do número de encaminhamentos de mensagens do WhatsApp, o consentimento para a pessoa fazer parte de um grupo, marcar uma mensagem como muito encaminhada e a sugestão do Instagram para o site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como fonte de assuntos eleitorais.
Nem tudo são flores: lives com desinformação ainda estão aí
Porém, ainda estaríamos “muito longe” do ideal. Como exemplo, Nemer diz que as remoções de conteúdo no YouTube e no Facebook estão muito aquém da efetividade esperada. "Volta e meia o Facebook fala que removeu 20 contas inautênticas, 30 páginas… o que é irrelevante considerando o universo do Facebook”, explica.
Na avaliação do pesquisador, as plataformas sabem como diminuir o nível de desinformação, mas têm dúvidas sobre a vontade delas. “O Twitter, por exemplo, sabe as contas que são focos de disseminação. Da mesma forma que o Facebook consegue identificar contas inautênticas”, defende.
É a mesma visão de Guilherme Felitti, cofundador da empresa de análise de tendências de redes sociais Novelo. "Ainda é fácil encontrar conteúdos negacionistas da pandemia no Facebook, no Twitter e no YouTube. As ferramentas anunciadas pelo Facebook para bloquear anúncios que mentem e/ou atacam o sistema eleitoral não funcionam", diz.
Ele exemplifica com o fato de ainda ser fácil encontrar lives do presidente Jair Bolsonaro desinformando sobre "tratamento precoce" na covid. Já o vídeo em que Bolsonaro falou para embaixadores acusando as urnas eletrônicas de serem falhas só foi removido do YouTube após muitas críticas públicas.
"Se jornalistas que não sabem programar e contam com poucos dados conseguem [remover conteúdo inapropriado], as plataformas, dona de muitos dados exclusivos e com alguns dos melhores programadores do mundo, também conseguem. Não o fazem por que não querem", diz Felitti.
TikTok e Telegram: os mistérios deste ano
Para Paganotti, o cenário de 2022 não se compara ao de 2018, porque muita coisa mudou, em relação aos algoritmos das redes sociais, que reduziram o alcance de conteúdos de terceiros.
Ainda assim, ele se preocupa com o que chama de novos atores das redes sociais neste ano. "Há o TikTok, da China, e o Telegram, que veio originalmente da Rússia. Nem sempre a interlocução dessas duas novas plataformas com o governo brasileiro e com o TSE tem ocorrido de forma eficaz. O Telegram, em particular, resistiu em responder intimações da Justiça", lembra.
O professor destaca, porém, que apesar do poder das plataformas, o problema não está unicamente na mão delas. "Elas têm uma grande responsabilidade sobre isso, mas precisam atuar de uma forma conjunta, com outras estratégias, com a educação midiática, a checagem jornalística e mecanismos de intervenção legal".