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Remédios de dose única que fazem efeito por meses podem se tornar realidade

E se ao invés de ir ao médico se vacinar todo mês, você tivesse de ir apenas uma vez a cada 6 meses? Cientistas buscam juntar várias doses em uma só aplicação

28 jun 2023 - 20h55
(atualizado em 29/6/2023 às 10h43)
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Há muito tempo, pesquisadores da área de medicina buscam maneiras de administrar medicamentos de forma regular, de modo a melhorar a adesão ao tratamento pelos pacientes e facilitar a aplicação. Muitos tratamentos longos apresentam baixa adesão, com uma média de 50% dos doentes crônicos seguindo a prescrição. Com pouca regularidade e doses incorretas, a chance do tratamento não funcionar e da saúde piorar é grande.

Em muitos casos, não é uma questão de falta de vontade do paciente, mas sim o fato de que certos remédios, como os comprimidos do tratamento contra o vírus do HIV, precisam ser tomados à risca para funcionar. Alguns medicamentos essenciais, como a insulina, são obscenamente caros em países onde o sistema de saúde não é gratuito. Na pandemia, a falta de uma cadeia de resfriamento para entregar vacinas perecíveis ficou bastante evidente em alguns lugares do mundo. Como resolver o problema?

Remédios de liberação retardada

Em busca de resolver questões como as citadas, bioengenheiros da Universidade Rice, liderados pelo cientista Kevin McHugh, estudam maneiras de administrar medicamentos ao longo do tempo com apenas uma dose de vacina. Micropartículas injetadas no corpo do paciente que podem ser programadas para liberar o conteúdo curativo em diferentes dias e até meses é o sonho da equipe, que foca, no momento, em encontrar o material perfeito para encapsular os medicamentos.

Foto: Wavebreakmedia/Envato Elements / Canaltech

Até agora, as cápsulas microplásticas minúsculas projetadas pelos cientistas vêm sendo feitas do polímero PLGA, que nosso corpo consegue quebrar com segurança. O peso molecular do material é ajustado para cada cápsula, controlando a velocidade de sua erosão e liberação do medicamento. No estudo mais recente sobre a tecnologia, publicado na revista científica Advanced Materials, uma só vacina permitiu a liberação de medicamentos em 10, 15, 17 e 36 dias depois de sua injeção.

Para os pacientes, isso pode ser a diferença entre a vida e a morte. Especialmente afetados são os mais frágeis e idosos, que dependem do transporte por familiares ou cuidadores e podem faltar ao médico por conta de outros problemas de saúde. Perdendo uma visita para aplicação de um remédio importante, é possível que a doença em questão piore e o quadro não possa ser revertido.

Desafios dos comprimidos de liberação prolongada

É difícil ter controle sobre os níveis de remédios no corpo humano. A maioria funciona com picos de ação ao passar no sistema gastrointestinal, como o ibuprofeno ou um antidepressivo, e pílulas de liberação prolongada acabam não apresentando esse pico. Muitas vezes, não é possível simplesmente aumentar a dose para atrasar a próxima, já que alguns medicamentos, como a insulina, têm uma janela terapêutica pequena, sendo perigosos em doses maiores.

Com o avanço de tecnologias terapêuticas, mais medicações biológicas têm surgido, uma categoria que inclui proteínas, hormônios e terapias genéticas. Mais finas do que as moléculas de outros tratamentos, elas raramente são administradas oralmente, mas são muito eficientes. Pesquisas como a da equipe de McHugh trabalham, atualmente, para fazê-las durar mais, o que só foi possível ao descobrir como modificar o polímero PLGA para "selar" os remédios em cápsulas minúsculas — derretendo o material, no caso.

Robôs laboratoriais são utilizados para mergulhar recipientes minúsculos com medicamentos em soluções do polímero, selando cada cápsula com o material. A ideia é automatizar ainda mais o processo, tornando a automação escalonável e barata — impedimentos anteriores ao uso de tecnologias como essa. O processo é chamado de Pulsed, acrônimo em inglês para "Partículas Uniformemente Liquefeitas e Seladas para Encapsular Drogas".

Os cientistas testaram a tecnologia em tubos de ensaio e em camundongos, injetando partículas fluorescentes in vitro e in vivo para verificar se a liberação dos medicamentos seria igual. Tanto na solução salina em temperatura corporal nos tubos de teste quanto nos animais, o tempo foi basicamente o mesmo, o que significa que o corpo humano provavelmente reagirá da mesma forma.

Também foi testado se a carga biológica das micropartículas não "estragava" no interior, junto a um coquetel de estabilizantes químicos, e, em 18 dias, verificou-se que o medicamento seguia 90% ativo. Sucesso.

Ainda há muito a ser feito, no entanto. Diferentes equipes de cientistas buscam criar implantes que liberem doses contínuas de medicamentos sem o pico inicial, essencial para alguns tratamentos, como o de profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP), que precisa manter uma concentração contínua da droga na corrente sanguínea para garantir proteção. Novas tecnologias mostraram uma eficiência de mais de 6 meses com testes em macacos.

Há, também, um limite para quantas micropartículas conseguem ser colocadas em uma injeção — ao nível subcutâneo, isso fica em 1,5 ml. Para medicamentos como os usados em PrEP, não há garantia de espaço para múltiplas doses. O período de extensão da liberação de remédios também precisa ser melhorado. Atualmente, foi possível chegar a um mínimo de 12 horas e um máximo de 36 dias no atraso, mas o objetivo é alcançar uma liberação diária garantida por até 6 meses.

Por fim, os cientistas buscam tornar a micropartícula compatível com mais medicamentos ainda, encontrando polímeros ou substâncias químicas que estabilizem diversas proteínas.

Também é preciso encontrar condições que se beneficiem da tecnologia, que não faz muita diferença se muda a necessidade de uma dose por mês para uma a cada mês e meio — usar doses múltiplas em uma única injeção que trate tumores localizados em áreas difíceis de alcançar no corpo, então, seria ótimo, bem como ajudar pacientes em áreas remotas do mundo. Trata-se, dizem os pesquisadores, de focar nas mudanças possíveis e necessárias.

Fonte: Advanced Materials, Science, Nature Communications via Wired

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