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Procuram-se robôs socorristas para ir onde humanos não vão

22 abr 2012 - 16h26
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John Markoff

No caso de um desastre em uma usina nuclear, os socorristas não podem ser humanos; eles têm de ser robôs. Talvez eles não tenham nem mesmo uma aparência humanoide. A agência de pesquisa e desenvolvimento do Pentágono anunciou uma concurso de projetos de robôs especializados em trabalhar em zonas de desastre, operando ferramentas e veículos comuns. E embora tais tarefas possam muito bem inspirar projetos humanoides, especialistas em robótica dizem que também podem levar ao equivalente robótico do Minotauro - uma criatura híbrida que pode ter múltiplos braços e não apenas pernas, mas bandas de rodagem.

Robôs humanoides realizam tarefas em zona de desastre nesta ilustração fornecida pela Darpa, agência de pesquisa e desenvolvimento do Pentágono
Robôs humanoides realizam tarefas em zona de desastre nesta ilustração fornecida pela Darpa, agência de pesquisa e desenvolvimento do Pentágono
Foto: Darpa / The New York Times

Rumores sobre o desafio já atiçaram construtores de robôs profissionais e amadores quanto a possíveis projetos e alianças. Aaron Edsinger, um dos fundadores da Meka Robotics, em São Francisco, declarou estar em contato com colegas especialistas em robótica de todo o país, e estar considerando uma grande variedade de inspirações possíveis. "Análogos a animais como aranhas, macacos, ursos, cangurus e cabras são uma inspiração útil ao considerarmos partes desse desafio", disse ele.

No anúncio da competição, a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa, ou Darpa, lista oito tarefas que o robô vai provavelmente precisar executar - entre elas, conduzir um veículo para um local simulado de desastre, movimentar-se em meio a entulhos, remover escombros de uma porta de entrada, subir uma escada, usar uma ferramenta para quebrar um muro de concreto, encontrar e fechar a válvula de um tubo de escape, e substituir peças, tais como uma bomba de refrigeração.

Segundo Edsinger, o desafio não consiste em completar as tarefas isoladamente, mas em integrá-las em uma única missão. "Acredito que já temos sistemas capazes de executar cada tarefa individual no desafio", disse ele.

A ideia da competição surgiu com o desastre nuclear de Fukushima no Japão, há um ano, disse Gill Pratt, gerente de programa no escritório científico de defesa da Darpa. "Durante as primeiras 24 horas", ele acrescentou, "havia coisas que deveriam ter sido feitas, mas não foram executadas porque envolviam muitos perigos".

A agência não divulgou quanto pretende gastar com o programa, nem o valor do prêmio. Ela está apresentando o programa como um "desafio de robótica", que se distingue de uma série de eventos de "Grande Desafio" que realizou em 2004, 2005 e 2007, com prêmios de 1 milhão e 2 milhões de dólares concedidos em concursos para projetar veículos autônomos capazes de dirigir no deserto e em áreas urbanas.

Equipes corporativas e universitárias vão competir para apresentar os robôs em 2013 e 2015. Os robôs não precisarão ser completamente autônomos, mas serão "vigiados" por operadores humanos, assim como pilotos guiam do solo aviões militares não tripulados.

A competição enfatiza a rápida evolução dos sistemas autônomos em aplicações industriais, militares e domésticas. Pesquisadores da robótica afirmam que esses avanços são em grande parte resultado da queda dos custo de sensores, bem como da evolução das tecnologias de percepção que tornam possível que os robôs se movimentem em ambientes não planejados.

Uma série de robôs humanoides ambiciosos já foi projetada por pesquisadores industriais. O Asimo Honda foi lançado em 2000 e, em 2005, já funcionava por até uma hora com baterias. No ano passado, ele mostrou que conseguia correr até 2,6 quilômetros por hora.

Representantes da Darpa afirmaram esperar que participantes de outros países integrem a competição. Na verdade, o desafio lembra uma proposta feita em novembro por Hirochika Inoue, pai do desenvolvimento dos robôs humanoides no Japão.

Apesar do significativo investimento do Japão em robótica, Inoue observou que o país não possuía robôs capazes de substituir por completo os seres humanos no momento do desastre de Fukushima. "Muitas pessoas queriam que o trabalho fosse feito por robôs", disse ele por e-mail, "mas não tínhamos nos preparado".

Nos Estados Unidos, tanto a General Motors quanto a Boston Dynamics, um pequeno laboratório de pesquisa financiado pelas Forças Armadas, desenvolveram robôs humanoides. O Robonaut 2, da GM, está na Estação Espacial Internacional, onde está sendo testado como assistente de um astronauta. A Boston Dynamics, que chamou atenção por conta de um robô de transporte conhecido como BigDog e, mais recentemente, por um veloz robô de quatro patas chamado Cheetah, tem um robô humanoide chamado Atlas.

Em seu anúncio, a Darpa diz que vai distribuir uma plataforma de teste de hardware com pernas, tronco, braços e cabeça para auxiliar algumas das equipes em suas iniciativas de desenvolvimento. Vários pesquisadores de robôs declararam que uma versão do Atlas, da Boston Dynamics, é um provável candidato para ocupar esse papel, mas Pratt afirmou que sua agência também oferece um simulador de software para possibilitar a mais ampla participação possível no desafio. "Estamos fazendo uma competição o mais aberta possível", disse ele.

De estátuas e golems ao R2-D2

Ao propor um concurso para construir robôs operados remotamente por habilidades humanas, o Ministério da Defesa está mexendo profundamente com a fantasia humana e o medo que remonta pelo menos até a mitologia grega _ em que personagens como Pigmaleão, Dédalo e Hefesto construíam estátuas com qualidades humanas.

E, embora as metas de Desafio de Robôs do Pentágono sejam humanitárias, a mitologia e a literatura tendem a se concentrar sobre as contradições morais e filosóficas de máquinas que podem tanto ajudar os humanos quanto prejudicá-los.

Na Idade Média, o folclore judaico criou o golem, uma criatura antropomórfica que se forma a partir de matéria inanimada - geralmente lama. Em muitos contos, os golems se tornaram violentos.

Não surpreendentemente, foi Leonardo da Vinci quem provavelmente projetou o primeiro robô moderno: um cavaleiro mecânico operado por cabos e roldanas, capaz de ficar em pé, sentar, levantar a viseira e mover os braços. Talvez o motivo militar tenha sido um presságio.

Em 1818, Frankenstein, de Mary Shelley, explorou a temática das máquinas que saem de controle. Contudo, de acordo com as Três Leis da Robótica, de Isaac Asimov, escritas como parte de um conto de 1942, muitos robôs literários são projetados a fim de não prejudicar os seres humanos; lembremos do estranho e adorável par R2-D2 e C-3PO, da saga Guerra nas Estrelas, de George Lucas.

Ainda assim, dado o surgimento de aviões militares não-tripulados que usam softwares de inteligência artificial para executar ataques, parece improvável que a próxima geração de robôs humanoides se mostre tão benevolente.

The New York Times
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