Rótulos de comidas mudarão: estudos explicam como açúcar e sal fazem mal
Embalagens ganham novo ícone para ajudar consumidores a evitar produtos que sejam prejudiciais à saúde
A partir de domingo (9), os consumidores terão de ficar de olho em mais uma informação nas embalagens dos alimentos: a lupa que atenta para o excesso de açúcar, gordura saturada e sódio.
A exigência dessa indicação foi determinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2020, que concedeu o prazo de 24 meses para a indústria se adaptar à regulamentação.
Mas será que esse ícone pode mudar o comportamento de consumo desses itens? Para a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a exigência pode gerar uma concorrência saudável.
Basta pensar no caso de uma empresa ter um produto alto em sódio e a concorrência não ter lupa no rótulo por estar em um padrão aceitável. Será natural que a empresa repense o seu processo de produção para não ter imagem negativa junto dos consumidores nesse quesito.
Para os consumidores, o esperado é que os ajustes nos rótulos possam levar a escolhas conscientes.
Riscos de doenças
Há muito se discute os efeitos negativos no corpo humano do consumo acima do recomendado de açúcares, sódio e gorduras saturadas.
Eles estão relacionados às principais doenças crônicas e que levam à morte milhares de pessoas todos os anos.
Um relatório produzido pela Casa Branca e publicado pela revista científica JAMA Network aponta que entre as principais causas de morte e incapacidade nos EUA estão as doenças cardíacas, derrames, câncer e diabetes relacionados a fatores de risco relacionados à dieta, incluindo obesidade, hipertensão e altos níveis de lipídios.
O relatório de 44 páginas da Casa Branca observa que novos dados mostram que 19 estados e dois territórios têm uma prevalência de obesidade igual ou superior a 35%, mais que o dobro de 2018, e que a insegurança alimentar e as doenças relacionadas com a dieta têm um efeito desproporcional em certos grupos.
Por aqui, a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) alerta em seu site que é preciso cuidado porque o consumo excessivo de gordura destrói os neurônios e faz a pessoa querer comer mais. Além disso, o excesso causa problemas cardiovasculares, nas artérias, no cérebro e provoca doenças como diabetes e obesidade.
Ultraprocessados, os grandes vilões
Um estudo de agosto da Universidade Atlântica da Flórida (EUA) com outros colaboradores concluiu que comidas ultraprocessadas, ricas em açúcar, sal e gordura, também pioram a saúde mental. Indivíduos que consomem mais ultraprocessados relataram “pelo menos” depressão leve, além de mais “dias ansiosos” e “mentalmente insalubres”.
No período estudado — que usou dados de três edições da Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição dos EUA, realizadas entre 2007 e 2012 — houve índices mais altos de depressão leve, dias ansiosos e dias mentalmente insalubres para as pessoas que mais consumiam ultraprocessados. Além disso, essas pessoas também apresentaram taxas bem menores de relatos "zero dias" do tipo mentalmente insalubres e ansiosos.
Ação no corpo
As células de gordura estão localizadas sob a pele (região subcutânea) e entre as vísceras. São formadas por triglicerídios (união de três ácidos graxos livres com uma molécula de glicerol) e possuem capacidade de armazenamento, o que faz com que toda a ingestão acima do normal pela pessoa seja armazenada e se multiplique.
O consumo excessivo da gordura saturada de origem animal também pode provocar uma inflamação no hipotálamo (região do cérebro que regula a fome), levando à destruição de neurônios e desorganizando as células. Nesse caso, a gordura deixa de ser depositada apenas nas células adiposas e começa a se instalar também em alguns órgãos, como o fígado e o pâncreas.
Para quem estuda o assunto, o que precisa existir é um equilíbrio no consumo, uma vez que a gordura é um nutriente essencial para o corpo (com importantes minerais, ferro e proteínas), pois funciona como uma reserva de energia e previne doenças, como explica a Associação Brasileira de Nutrologia (Abran). O que é preciso é evitar as gorduras artificiais, presentes em frituras, bolachas e salgadinhos etc.
Vale lembrar que há necessidade do consumo da gordura boa, encontrada em grãos, sementes e carnes, como o peixe.
Açúcar, o vilão que que todos gostam
Outro vilão da saúde é o açúcar, diretamente ligado ao desenvolvimento do diabetes.
Segundo notícia divulgada no site do Hospital Sírio-Libanês, o açúcar branco, refinado, é considerado pobre nutricionalmente e quando consumido além da conta causa uma série de complicações para o organismo, como diabetes, obesidade, cansaço, envelhecimento da pele e até baixa imunidade.
Em nota publicada pela Asbran, no Brasil, o quadro da obesidade infantil aponta que uma a cada três crianças está com sobrepeso. No mundo, aproximadamente 43 milhões de crianças estão obesas e mais de 90 milhões se encontram com sobrepeso. Segundo especialistas, cerca de 80% das crianças obesas se tornarão adultos também obesos.
A entidade relata que para combater este crescimento da obesidade infantil, a Inglaterra adotou medidas para estimular a indústria alimentícia a reduzir o açúcar e as calorias de produtos, e que o Brasil também começa a se mexer, buscando acordos entre governo e indústria de alimentos para reduzir em até 62,4% a quantidade de açúcar de cinco categorias de produtos, como biscoitos, bolos, refrigerantes, achocolatados e iogurtes.
O temido sal
O terceiro componente que entra na mira dos consumidores com o novo rótulo proposto pela Anvisa já é velho conhecido: o sal.
Segundo o site Cardiologia.pro, o sódio está presente de forma natural e em pequena quantidade em diversos alimentos, como frutas, legumes e carnes, em quantidade suficiente para o organismo. Porém, alimentos processados, como enlatados, congelados, preparações instantâneas, embutidos e refrigerantes, são fontes de altas concentrações de sódio.
A ingestão de sódio é maior que a recomendada leva à retenção hídrica, acarretando o aumento do volume sanguíneo dentro dos vasos podendo, resultando no aumento da pressão arterial, aumento do trabalho cardíaco, desencadeando insuficiência cardíaca congestiva e produz extravasamento de líquido para o interstício, causando edema, e para as cavidades serosas e articulares, causando derrame cavitário ou articular.
O rim tem a função de regular a quantidade de sódio e o consumo alto faz com que o órgão trabalhe mais, comprometendo seu funcionamento, além de aumentar o risco de cálculo renal.
Com todos esses riscos, as novas informações das embalagens de alimentos sobre o grau de açúcar, sódio e gorduras tornam-se grandes aliadas da população para prevenir doenças e escolher produtos que possam contribuir para a saúde.