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"Rugas" da Via Láctea revelaram galáxia devorada pela nossa

Parece que a Via Láctea devorou uma galáxia há menos tempo do que se pensava — e a refeição foi denunciada pelas "rugas" da nossa galáxia

11 jun 2024 - 04h15
(atualizado às 19h15)
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Parece que a Via Láctea devorou uma pequena galáxia há não muito tempo — em escalas astronômicas, claro. Já se sabe que a nossa galáxia colidiu com várias outras ao longo do tempo, mas agora o telescópio europeu Gaia revelou que o impacto mais recente aconteceu bilhões de anos mais tarde do que os cientistas pensavam. 

Foto: NASA / Canaltech

Estas colisões violentas foram essenciais para o crescimento da Via Láctea, mas fizeram com que as galáxias menores acabassem destroçadas pela forte gravidade da nossa. Por outro lado, o processo distribuiu as estrelas da galáxia devorada — hoje, estas estrelas são encontradas no halo que cerca a Via Láctea e em seus braços espirais.

Pois bem, este "canibalismo galáctico" deixou vestígios na forma de "rugas" que ocorrem pelo disco galáctico, afetando várias famílias de estrelas. É aqui que entra o Gaia, lançado para determinar com alta precisão o movimento e a posição de 100 mil estrelas: ao apontar a quantidade destas rugas, o satélite pode reconstituir a história da Via Láctea.

"Ficamos mais enrugados à medida que envelhecemos, mas nosso trabalho revela que o oposto é verdadeiro para a Via Láctea. Ela é uma espécie de 'Benjamin Button cósmico', ficando menos enrugada com o tempo", disse Thomas Donlon, líder da equipe. 

Representação da Via Láctea cercada por seu halo de estrelas; o halo aparece enrugado, sinalizando que houve uma fusão aconteceu recentemente (Imagem: Reprodução/ESA/Gaia/DPAC, T Donlon et al. 2024; Stefan Payne-Wardenaar)
Representação da Via Láctea cercada por seu halo de estrelas; o halo aparece enrugado, sinalizando que houve uma fusão aconteceu recentemente (Imagem: Reprodução/ESA/Gaia/DPAC, T Donlon et al. 2024; Stefan Payne-Wardenaar)
Foto: Canaltech

Ao observar como as rugas se dissiparam ao longo do tempo, os pesquisadores conseguiram determinar quando houve a última grande colisão galáctica. 

Colisão da Via Láctea

As pistas deste processo foram encontradas no halo da Via Láctea, onde estão estrelas com órbitas estranhas que sugerem que sejam restos das galáxias devoradas pela nossa. Muitas delas, inclusive, parecem ser o que sobrou da última Grande Fusão, nome dado à última vez que a Via Láctea colidiu com outra galáxia.

Este evento é conhecido como Gaia-Enceladus, e parece ter recheado a Via Láctea de estrelas em órbitas que as deixam mais perto do centro galáctico. Tal colisão parece ter ocorrido de 8 a 11 bilhões de anos atrás, ou seja, quando a Via Láctea ainda era bebê. Só que Thomas e seus colegas descobriram que estas estrelas estranhas podem ter vindo de algum outro evento, representado no vídeo abaixo:

"Podemos ver como as formas e o número de rugas mudam com o tempo usando essas fusões simuladas. Isso nos permite identificar o momento exato em que a simulação corresponde melhor ao que vemos nos dados reais de Gaia da Via Láctea hoje", explicou Donlon. Foi assim que eles descobriram que as rugas foram causadas por uma galáxia anã colidindo com a Via Láctea há cerca de 2,7 milhões de anos. 

A equipe chamou o evento de Fusão Radial de Virgem. "Para que as rugas sejam tão claras quanto aparecem nos dados do Gaia, elas devem ter se juntado a nós há menos de três bilhões de anos — pelo menos cinco bilhões de anos depois do que se pensava", acrescentou o coautor Heidi Jo Newberg. 

Segundo ele, novas rugas estelares são formadas a cada vez que as estrelas passam pelo centro galáctico. "Se elas tivessem se juntado a nós há oito bilhões de anos, haveria tantas rugas próximas umas das outras que não as veríamos mais como estruturas separadas", finalizou. 

A equipe acredita que a Fusão Radial de Virgem trouxe uma verdadeira família de pequenas galáxias anãs e aglomerados estelares, que teriam chegado à Via Láctea ao mesmo tempo. "Esse resultado — que uma grande parte da Via Láctea só se juntou a nós nos últimos bilhões de anos — é uma grande mudança em relação ao que os astrônomos pensavam até agora", finalizou Thomas.

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.

Fonte: Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, ESA

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