Silenciar ou deixar de seguir? Veja como usar redes sociais de forma mais saudável
Estratégias podem ser práticas e até filosóficas para limitar danos à saúde mental
Talvez seja um casal feliz, com os pés na areia de uma praia na Grécia durante as férias. Ou aquela família que parece estar sempre fazendo trilha junto, sem ninguém reclamar do sol quente ou do quanto vai demorar para chegar até o carro. Pode ser até mesmo aquela refeição perfeita, empratada com perícia numa noite atarefada da semana.
Essas imagens de contentamento e positividade podem facilmente deixar alguns daqueles que as veem no Instagram, no TikTok ou no Facebook com a impressão de que todos estão aproveitando ao máximo a vida.
O cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy, alertou recentemente que, embora as redes sociais possam ser benéficas para algumas pessoas, as evidências sugerem que elas podem representar um "risco profundo de danos" à saúde mental e ao bem-estar de crianças e adolescentes.
Especialistas em saúde mental dizem que existem estratégias que todos podem usar - algumas práticas, outras mais filosóficas - para interagir nas redes sociais de um modo mais saudável e limitar os danos.
Perceba o que faz você se sentir mal
Dawn Bounds - enfermeira psiquiátrica e de saúde mental que faz parte do quadro de conselheiros da Associação Americana de Psicologia sobre redes sociais e saúde mental do adolescente - disse que a escolha das contas que segue e dos vídeos aos quais assiste é intencional.
Ela gosta de acompanhar perfis de pessoas que promovem a saúde mental e a justiça social, que "me preenchem e me inspiram", disse Dawn, professora da Escola De Enfermagem Sue e Bill Gross da Universidade da Califórnia, em Irvine. Dawn, que é negra, também gosta de conteúdos que lhe fazem rir, como o da conta "Black People and Pets" no Instagram.
Ao mesmo tempo, ela evita vídeos que circulam na internet quando a polícia atira em pessoas desarmadas, o que pode ser traumatizante, afirmou. E, segundo ela, com todos os trolls e pessoas mal-intencionadas online, "não tenho qualquer problema em deixar de seguir, silenciar e bloquear aqueles que não quero ver nas minhas threads".
"Trata-se de fazer a curadoria da experiência para si mesmo e não deixar isso apenas nas mãos dos algoritmos, porque eles não têm necessariamente a melhor das intenções em mente", disse Dawn. "Você é o seu melhor protetor."
Pense no 'porquê' e se aquilo está apenas sugando a vida
Seu uso das redes sociais pode ser excessivo se estiver atrapalhando as demais atividades, como sair, fazer exercícios, conversar com familiares e amigos e, talvez o mais importante, dormir, disse Jacqueline Nesi, professora de psiquiatria e comportamento humano na Universidade Brown.
Ela recomendou uma postura mais "consciente", que envolve "dar um passo para trás e refletir sobre o que estou vendo". Se o conteúdo faz você se sentir mal, disse Jacqueline, simplesmente deixe de seguir ou bloqueie o perfil.
Segundo ela, ter consciência de como usamos as redes sociais é desafiador, porque alguns aplicativos são projetados para serem usados de forma inconsciente, para manter a gente rolando a tela eternamente, vendo vídeos e conteúdos direcionados - vendendo roupas, maquiagem e produtos de bem-estar - que parecem alimentar nossos desejos.
Quando as pessoas pegam seus celulares, pode ser útil ficar "curioso" e se perguntar: "O que me levou a fazer isso?", disse Nina Vasan, professora de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade Stanf
"Estou em busca de conexão porque estou me sentindo sozinho?", disse Nina por e-mail. "Ou estou tentando me distrair de um sentimento difícil?
Ela sugeriu perguntar a si mesmo: "O que eu preciso neste momento? Será que eu poderia atender essa necessidade sem recorrer às redes sociais?".
Tente fazer uma faxina nas redes sociais
Depois de avaliarem por que estão pegando o celular, as pessoas devem deixar de seguir os perfis que fazem com que elas se sintam angustiadas e deprimidas, ou que prejudiquem sua autoestima, disse Nina.
Ao mesmo tempo, elas devem seguir mais contas que as façam se sentir bem, melhorem seu humor e as façam rir. Talvez aquelas com vídeos de receitas simples e ingredientes fáceis de se encontrar ou vídeos relaxantes de piscinas sendo limpas, que conquistaram milhões de visualizações no TikTok.
"Pense nessas ações como fazer uma faxina", disse Nina. "Você pode fazer isso hoje e, depois, deve repetir essa conduta periodicamente, conforme talvez surjam coisas novas no noticiário ou em sua vida que são gatilhos para você", ou à medida que seus gostos mudam.
Considere limitar o tempo de uso e as notificações
Jacqueline recomendou que as pessoas não carreguem o celular no quarto à noite, deixem de usá-lo uma hora antes de dormir e criem o hábito de definir momentos do dia sem tecnologia, deixando seus telefones fora de alcance. Murthy sugeriu não se usar dispositivos durante as refeições em família.
Os especialistas também recomendaram desativar as notificações que aparecem quando uma conta que se segue é atualizada. Além disso, as pessoas podem excluir os aplicativos de redes sociais de seus celulares e acessá-las apenas em seus computadores. Isso pode reduzir as chances de acabar padecendo de um grau sério de FOMO (sigla em inglês para "medo de ficar de fora").
Dawn disse que deletou os aplicativos do Facebook e do Instagram do celular dela depois do filho de 20 anos apagar o Instagram do telefone dele. Isso ajudou a reduzir o tempo que ela desperdiçava na internet. "Fiz isso enquanto estava me candidatando para bolsas", afirmou. "Foi uma tática para manter o foco." / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA