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Transplante de coração: ciência já testa inteligência artificial e órgãos de animais

Fausto Silva passou por transplante cardíaco em agosto; especialistas comentam avanços recentes e desafios para modernizar procedimento

1 set 2023 - 05h00
(atualizado às 17h31)
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Durante a cirurgia de transplante, o paciente sobrevive com um coração artificial (Imagem: Twenty20photos/Envato)
Durante a cirurgia de transplante, o paciente sobrevive com um coração artificial (Imagem: Twenty20photos/Envato)
Foto: Canaltech

Muitas vezes estigmatizadas como complexas e de risco, as cirurgias do coração usam cada vez mais aparatos tecnológicos para potencializar o sucesso delas. O transplante realizado pelo apresentador Fausto Silva, por exemplo, surpreendeu algumas pessoas por ter sido concluído em cerca de 2h30.

A medicina vem experimentando técnicas e materiais cirúrgicos mais modernos, aparatos mais eficazes na circulação extracorpórea (que substituem o coração no bombear do sangue), evolução na proteção do músculo cardíaco durante a cirurgia e redução nos sangramentos e na necessidade de transfusões de sangue.

De mais experimental, até mesmo uma angioplastia contou com ajuda de uma plataforma de inteligência artificial, e um coração de porco já foi testado em um humano no ano passado. 

Faustão recebeu um transplante cardíaco no dia 27 de agosto, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. O apresentador de 73 anos estava internado desde 5 de agosto por insuficiência cardíaca. 

“Todo esse avanço tem permitido cirurgias mais seguras e com menor tempo cirúrgico, elemento fundamental para que a recuperação se dê de maneira rápida e com menos complicações no pós-operatório”, disse o cardiologista Rafael Franco, coordenador da Cardiologia do Hospital São Luiz Itaim, em São Paulo.

Tecnologias para deixar a cirurgia mais simples

Uma das várias tecnologias incorporadas na cirurgia cardíaca moderna é a do cell saver, um equipamento que diminui o risco de transfusão. Este equipamento coleta o sangue e o filtra para remover contaminantes. Seu uso é indicado para vários tipos de procedimentos invasivos.

“As máquinas de circulação corporal evoluíram bastante, então dão menos problemas hematológicos e a própria UTI também tem evoluído para aumentar o conforto e a segurança dos pacientes”, diz Paulo Pêgo Fernandes, professor de cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). 

A circulação corporal drena o sangue venoso para um reservatório com dois objetivos: oxigenar o sangue e manter a pressão arterial.

Já Rafael Otto Schneidewind, cirurgião cardiovascular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, cita alguns procedimentos menos invasivos, onde não é necessário abrir o peito do paciente.

“As principais tecnologias de cirurgia cardíaca são para a troca de válvula sem cirurgia aberta, que é a TAVI, a troca da válvula aórtica por cateter. Você não precisa mais abrir o peito, você troca ela pela perna”, explica o cirurgião.

Um dos objetivos da TAVI é corrigir a válvula afetada pela estenose aórtica, doença que obstrui essa estrutura cardíaca. A técnica é indicada para pacientes com alto risco de complicação pós-operatória, como idosos ou portadores de comorbidades.

“E a operação minimamente invasiva por vídeo, também. Hoje você pode fazer cirurgia com corte bem menor com o auxílio do vídeo”, explica. 

O especialista cita ainda tecnologias mais recentes que suportam o coração dos pacientes em casos de transplantes. São elas: 

  • ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea): similar a um ventilador mecânico, ele ajuda na circulação e na oxigenação artificiais do sangue por meio de uma máquina ligada ao paciente por cateteres;
  • Ventrículo artificial: aparelho implantado no coração em que um dos ventrículos não funciona bem. Consegue levar mais sangue aos órgãos. Porém, é pouco usado no Brasil devido aos custos. O aparelho custa quase R$ 1 milhão. 

Outra novidade nesta área, diz Schneidewind, é uma máquina que mantém o coração do doador batendo até ser transplantado ao receptor. Apelidado de "coração na caixa", o equipamento chama-se TransMedics Organ Care System e foi testado em Chicago (EUA) no ano passado. Porém, é extremamente caro.

"Tira-re o coração com essa máquina instalada no hospital do doador. Ou seja, esse órgão vem batendo até o hospital que está o receptor e é feito o implante. Praticamente não para o coração em momento nenhum, e com isso você ganha algumas horas para transplantar", explica. 

Procedimentos cirúrgicos se tornam menos complexos com o advento de tecnologias mais modernas
Procedimentos cirúrgicos se tornam menos complexos com o advento de tecnologias mais modernas
Foto: freepik / Flipar

SUS x saúde privada

A disponibilidade dos tratamentos citados muitas vezes é restrita à saúde privada. 

Os médicos entrevistados pelo Byte comentam que alguns hospitais de excelência do SUS, como o InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, em São Paulo), podem oferecer as técnicas mais modernas. Mas nem todos os hospitais da rede pública são contemplados.

“Os dispositivos de assistência ventricular muitas vezes são necessários – incluindo balão intra-aórtico, ECMO e dispositivos de assistência ventricular de longa duração. Esses dispositivos não são encontrados amplamente disponíveis no SUS, encontrando-se apenas em centros de referência, como o Instituto do Coração”, disse Rafael Franco, do Hospital São Luiz.

“Esse tipo de suporte é a grande diferença entre a maioria dos serviços de saúde privada e o SUS”. 

Coração artificial já é uma realidade?

Em 2022, o primeiro transplante de coração artificial completou 40 anos. Desde então, a ciência não tem descansado para buscar mais melhorias em relação aos transplantes.

As pesquisas com corações de porco têm sido aliadas na luta contra a escassez de órgãos nos bancos. Mas, apesar de um caso experimental ter ocorrido em 2022 — onde infelizmente o paciente faleceu dois meses após o procedimento — o uso de coração do animal em humanos ainda não é uma realidade. 

“O coração de porco foi tentado no ano passado, um caso teve algum problema de rejeição. É ainda um método de estudo, não é realidade. Não há centro no mundo que fale em transplantar coração de porco. Mas já é algo estudado há mais de uma década”, explica Rafael Otto Schneidewind, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Médicos durante cirurgia de transplante de coração de porco
Médicos durante cirurgia de transplante de coração de porco
Foto: University of Maryland School of Medicine/Divulgação

Já o coração artificial não tem origem animal. É um aparelho que se comporta como uma bomba para substituir o coração nativo. O implante de corações desse tipo já é uma realidade em humanos, principalmente depois do ano 2000.

“No Brasil, a experiência ainda não é tão grande por questão de custeio. É um equipamento de alto custo que não é coberto nem pelo Sistema Único de Saúde e, habitualmente, também não é coberto pelos convênios”, explica o professor da FMUSP Paulo Pêgo Fernandes.

“Na Alemanha, por exemplo, e nos Estados Unidos, o número de implantes de ventrículos artificiais têm sido maior do que o número de transplantes”, afirmou.

Além disso, o coração artificial tem algumas limitações de uso e indicações específicas. “Um grande limitante deste dispositivo na realidade brasileira é o custo, de fato bastante elevado”, acrescentou Rafael Franco. 

Inteligência artificial no Instituto do Coração

Em março deste ano, o InCor realizou um feito até então inédito na América Latina: a condução de uma angioplastia com o auxílio da inteligência artificial

O paciente Raimundo Aparecido Victor, de 70 anos, passou pela intervenção com sucesso. A inteligência artificial foi usada em três importantes momentos da cirurgia. 

Primeiro, o algoritmo foi capaz de indicar os pontos específicos de calcificação das artérias. Depois, o software calculou o melhor tamanho de stent conforme as obstruções identificadas. 

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Por fim, após a colocação do dispositivo, o algoritmo identificou pontos onde o stent (peça que restaura o fluxo sanguíneo em um canal sanguíneo) não estava expandido adequadamente dentro da artéria, permitindo que os médicos corrigissem o problema.

"Após o implante do stent, nós voltamos a colher as imagens tomográficas dentro das artérias e, usando o algoritmo de inteligência artificial, conseguimos deixá-lo melhor expandido, o que melhora o fluxo sanguíneo e reduz a chance de o paciente voltar a ter uma obstrução", explicou Alexandre Abizaid, diretor do departamento de cardiologia intervencionista do Incor, em entrevista ao Estadão.

Fonte: Redação Byte
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