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Tratamento com vermes reduz risco do diabetes tipo 2 em humanos

Experimento descobre que conviver, por cerca de 2 anos, com os vermes parasitas que causam a doença do "amarelão" pode diminuir o risco do diabetes tipo 2

22 ago 2023 - 20h39
(atualizado em 23/8/2023 às 11h36)
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Até onde você iria e o que faria para cuidar da sua saúde, impedindo um possível caso de diabetes tipo 2? Para os pesquisadores do Instituto Australiano de Saúde e Medicina Tropical, da Universidade James Cook (JCU), vale tentar um tratamento experimental com vermes, que dura dois anos, para melhorar os indicadores metabólicos do organismo.

Foto: CDC/Domínio Público / Canaltech

Apesar de parecer estranho, os pesquisadores australianos induziram infecções prolongadas no intestino pelo parasita Necator americanus em pessoas com idades entre 25 e 50 anos. O verme cilíndrico de 0,5 a 1,5 centímetros de diâmetro provoca a ancilostomíase, também conhecida como amarelão ou doença do Jeca Tatu.

Segundo artigo publicado na revista na revista Nature Communications, conviver com 20 a 40 desses vermes pode fazer mais bem ao organismo do que mal, quando há o risco de surgimento de doenças metabólicas. "Este estudo sugere que a infecção por ancilostomídeos é segura em pessoas com risco de diabetes tipo 2 e associada a uma melhor resistência à insulina", detalham os autores no artigo.

Conviver com 20 vermes no intestino reduz o risco do diabetes tipo 2 (Imagem: Julost/Envato)
Conviver com 20 vermes no intestino reduz o risco do diabetes tipo 2 (Imagem: Julost/Envato)
Foto: Canaltech

Atenção! Fora do contexto de pesquisa clínica e da supervisão de cientistas, com amplo apoio médico em caso de emergências, a indução de infecções parasitárias não é recomendada. Dependendo do estado de saúde do indivíduo, existe o risco de complicações.

O risco de conviver com parasitas vale a pena?

Para ser mais preciso sobre os resultados do tratamento preventivo ainda experimental, os pesquisadores afirmam que ele pode ser benéfico em alguns distúrbios metabólicos. Por exemplo, quando há aumento da resistência à insulina — um precursor do diabetes tipo 2.

Além disso, os receptores dos vermes tinham níveis elevados de citocinas, dentro de uma média benéfica. Estas são pequenas proteínas que desempenham um importante papel na estimulação da resposta imune dos glóbulos brancos. Outro benefício foi a redução no nível de inflamação e a curiosa melhora geral nos indicadores de humor.

Além da reduçãod e risco para o diabetes tipo 2, outros estudos investigam os efeitos da verminose no controle e no tratamento da colite ulcerativa.

Por que a doença do amarelão pode fazer "bem"?

Ainda não se sabe todos os porquês envolvidos nos resultados, mas a pesquisadora Doris Pierce, uma das autoras do estudo, tem algumas hipóteses. "As doenças metabólicas [como a resistência à insulina] são caracterizadas por respostas imunes inflamatórias e um microbioma intestinal alterado", explica, em nota.

Cientistas investigam tratamentos pouco convencionais para impedir o risco do diabetes tipo 2 (Imagem: Twenty20photos/Envato )
Cientistas investigam tratamentos pouco convencionais para impedir o risco do diabetes tipo 2 (Imagem: Twenty20photos/Envato )
Foto: Canaltech

Anteriormente, "estudos com modelos animais indicaram que os ancilostomídeos induzem uma resposta anti-inflamatória em seu hospedeiro para garantir sua própria sobrevivência", acrescenta Pierce. Possivelmente, este mesmo mecanismo foi ativado durante o estudo, com o acréscimo de que os vermes, possivelmente, melhoraram a composição do microbioma.

Efeitos colaterais do tratamento com vermes

Diferente do que pregaria o senso comum, os autores explicam que a terapia com vermes foi tolerável, enquanto demonstrou ser benéfica para o metabolismo, já que reduziu os níveis de resistência à insulina na maioria dos participantes.

Ao longo dos dois anos de pesquisa com 40 voluntários, 17 desistiram, mas apenas três justificaram a saída do estudo por causa do desconforto gastrointestinal relacionado aos parasitas. Independente do motivo e do período de permanência, todos foram vermifugados e curados da doença parasitária após concluírem a participação. Frequentemente, realizaram exames de sangue e de fezes.

Alguns voluntários desistiram da terapia com vermes por causa dos efeitos colaterais (Imagem: Twenty20photos/Envato)
Alguns voluntários desistiram da terapia com vermes por causa dos efeitos colaterais (Imagem: Twenty20photos/Envato)
Foto: Canaltech

Vale observar que a pesquisa foi duplo-cego, ou seja, algumas pessoas receberam um placebo no lugar do parasita, o que aumenta o grau de confiabilidade nos resultados.

Estudos maiores com a terapia dos vermes

Mesmo que os resultados tenham sido positivos, os pesquisadores reconhecem que o tratamento experimental ainda não está pronto para ser replicado em larga escala. Dessa forma, o experimento merece ser encarado mais como uma prova de conceito, como defende Paul Giacomin, da JCU.

"A infecção com ancilostomídeos vivos é segura e parece ter algum tipo de efeito benéfico na saúde metabólica das pessoas, o que esperançosamente será confirmado por futuros ensaios clínicos projetados para confirmar a eficácia e explorar como os ancilostomídeos influenciam o metabolismo", completa Giacomin.

Na contramão da atual pesquisa, um cientista do departamento de zoologia do Museu Nacional de História Natural, nos EUA, já se infectou pelos mesmos vermes. A questão é que, com o experimento, ele buscava acelerar o desenvolvimento de uma vacina contra o amarelão e não encarava a doença como benéfica.

Fonte: Nature Communications e JCU    

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