Urna eletrônica virou tema de debate inédito nas eleições de 2022
Equipamento é utilizado há mais de 20 anos, mas, em 2022, se tornou o centro das atenções de grupos políticos
O ano de 2022 foi marcado por eleições presidenciais extremamente polarizadas. No epicentro do debate, a urna eletrônica, equipamento usado nas votações brasileiras desde 1996, acabou virando campo de disputa de uma batalha mais ideológica do que técnica.
Em tom de campanha, Jair Bolsonaro (PL) já criticava as urnas meses antes da eleição. Ele, inclusive, chegou a dizer que o resultado do pleito anterior, de 2018, tinha sido fraudado: mesmo saindo ganhador, Bolsonaro insistiu que os resultados foram adulterados para que ele não ganhasse no primeiro turno.
"Era para ter ganho no primeiro turno, se fossem umas eleições limpas no primeiro", afirmou Bolsonaro, em 14 de janeiro.
Ao longo de 2022, a situação só esquentou e as urnas tomaram conta das grandes discussões nacionais. O presidente persistiu no discurso acusatório não só para as máquinas, mas também contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE),ao Supremo Tribunal Federal (STF) e o sistema eleitoral durante todo o tempo.
Enquanto grupos apoiadores de Bolsonaro criticavam, sem provas, a segurança das urnas, setores progressistas (tanto eleitores de Lula como de outros candidatos) defenderam a integridade do equipamento.
Até as Forças Armadas, grupo sobre o qual Bolsonaro tem grande apelo, entraram na história. Elas foram convidadas, ainda em 2021, pelo então presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, para participar do colegiado de fiscalização das eleições. A Defesa sempre ajudou o TSE na logística das votações, mas essa foi a primeira vez que o órgão integrou uma comissão dessa natureza.
Essa participação acabou produzindo algumas faíscas, como questionamentos constantes ao TSE. Em maio, o tribunal chegou a afirmar que as as Forças Armadas confundiam "conceitos" e erram cálculos ao apontar risco de inconformidade em testes de integridades das urnas.
No mesmo mês, as urnas chegaram a ser colocadas à prova em um "teste hacker", com investigadores e peritos da PF simulando ataques aos equipamentos. Não foram encontradas falhas e as urnas passaram no teste, conforme divulgou o TSE.
Críticas às urnas foram para a Justiça
Alguns dos seguidores e simpatizantes das ideias de Bolsonaro que preferiam ataques às urnas acabaram arranjando problemas com a Justiça.
No dia 1º de novembro, a deputada bolsonarista Carla Zambelli teve a sua conta no Twitter suspensa após uma série de postagens questionando o resultado das eleições e defendendo a interdição de rodovias como forma de protesto.
Poucos dias depois, o pocaster Monark também teve seu canal no YouTube retirado do ar após compartilhar um vídeo com falsas acusações de fraude na eleição presidencial.
Após a derrota nas urnas no segundo turno, alguns apoiadores de Bolsonaro esperaram com que o político se pronunciasse afirmando que as urnas teriam sido fraudadas, o que acabou não acontecendo.
O presidente manteve o silêncio e deixou milhares de apoiadores na porta de quartéis e em bloqueios de rodovias, pedindo auditorias de urnas, anulamento da votação e até intervenções militares.
No final de novembro, após ter sido encontrado curtindo um jogo da Copa no Mundo no Catar, Eduardo Bolsonaro (PL) gravou um vídeo a apoiadores afirmando que tinha ido ao país para levar pendrives que "explicavam a situação" do Brasil.
"Nesses pendrives aqui tem vídeos em inglês explicando a situação do Brasil. Eu espero que vocês não creiam que aqui só se fala em Copa do Mundo. Só para lembrar para vocês que a FIFA tem mais membros que as próprias Nações Unidas. A imprensa inteira está aqui", argumentou.
A justificativa não foi bem aceita por críticos do atual e até por alguns apoiadores, contribuindo ainda mais para o arrefecimento da força de movimentos que contestam o resultado das eleições.