Vamos Fugir: casal de influencers roda o mundo sem largar empregos
Lígia e Ulisses viajam o mundo desde o final de 2021 adequando rotina de viagem ao trabalho remoto em vários países
Você não precisa largar tudo para sair viajando pelo mundo, caso isso tenha passado pela sua cabeça em alguma crise existencial. Pelo menos não foi o que fizeram Lígia e Ulisses, casal de brasileiros que viaja sem parar há mais de um ano enquanto trabalham "normalmente" no perfil de Instagram Vamos Fugir (@vamosfugirblog).
Lígia é jornalista e seu parceiro é engenheiro da computação. Juntos, eles trabalham de maneira remota e já moraram em cinco países diferentes.
Os "nômades digitais", na verdade, já estavam acostumados com a rotina viajante há algum tempo. Antes de iniciarem uma vida sem moradia fixa, que começou há pouco mais de um ano em uma viagem por dez estados do Brasil, eles já tinham morado por cinco anos na Austrália.
Depois de tentativas frustradas de conseguir regulamentar uma cidadania no país, a dupla decidiu que iria conhecer o mundo sem ter que parar de trabalhar para fazer isso.
"O Vamos Fugir nasceu em 2014, como uma plataforma para compartilhar experiências de viagem e encorajar outras pessoas a fugirem das suas bolhas e aprenderem que o mundo é muito maior do que elas imaginam. Desde que começamos a produzir conteúdo, já passamos por 14 países", diz Lígia.
Atualmente, Lígia e Ulisses estão na Tailândia, conhecendo diversas ilhas. Mas não por muito tempo, pois o casal já sonda lugares que podem ser seu próximo destino. Veja a entrevista concedida pelo casal de nômades digitais ao Byte.
Em uma escala de 0 a 10, o quanto o dinheiro é importante para viajar?
Vamos Fugir: Diríamos 5, porque, claro, ele é fundamental em certos pontos, como comprar uma passagem aérea e ter uma reserva de emergência. Mas não é essencial, é possível viajar sem muito dinheiro. Existem plataformas de trabalho voluntário em troca de hospedagem, tem gente que viaja de carona, dá pra cuidar de animais de estimação, entre outros.
Falando da nossa realidade, somos nômades digitais e temos pessoas que pagam pelo nosso trabalho remoto. Então, como precisamos de certa estrutura e conforto para poder trabalhar, eu diria que para gente isso sobe para 7, pois investimos um pouco mais em acomodação, é o principal para nós. Mas é possível viajar com muito menos.
Já passaram perrengue em algum destino? Existe algum lugar que não voltariam?
Vamos Fugir: Tivemos um perrengue bem recente em Chiang Mai, no norte da Tailândia. Peguei [Lígia] uma intoxicação alimentar e fiquei muito mal, desmaiei internada no hospital. Mesmo que a gente fale inglês, numa situação dessas é sempre mais difícil. Fiquei num hospital que tinha uma ala internacional, então deu tudo certo, mas, no dia que cheguei em casa, o Ulysses começou a passar mal. Foi uma semana bem difícil.
O perrengue só não foi maior porque tínhamos seguro saúde na viagem, que cobriu tudo. Isso é uma dica para qualquer viajante.
Em 2013, no nosso primeiro mochilão juntos, íamos pegar um ônibus em La Paz para um trajeto de doze horas. Eu [Ulisses] comecei a ter uma diarreia muito forte na rodoviária e não ia conseguir pegar um ônibus. Um brasileiro nos ouviu conversando e me ofereceu uma "pílula de carvão" que me salvou. Inclusive, me segurou mais do que precisava, fiquei quatro dias sem ir ao banheiro depois.
Apesar dos perrengues, não tem nenhum lugar para o qual não voltaríamos.
O que fazem quando a saudade do Brasil é muito grande?
Vamos Fugir: A gente morou por cinco anos na Austrália, então já foi um imenso aprendizado, foi muito difícil. A gente sente saudade, mas vai aprendendo, e a tecnologia ajuda muito nesse sentido. Ligamos para casa sempre, ao menos dia sim dia não, falar com nossos pais, conversar sobre o dia-a-dia e participar da vida de familiares e amigos de alguma forma.
Também percebemos que um ano longe de casa é o nosso limite, então sempre nos programamos para não ficar viajando por mais tempo que isso sem visitar nossa família e amigos no Brasil.
Qual coisa do Brasil foi mais difícil para abrir mão? E qual não sentem falta?
Vamos Fugir: O requeijão. Não tem na Austrália, não tem aqui na Ásia, você tenta achar alternativas mas não tem. Brincadeiras à parte, não tem mais coisas muito sérias que sentimos falta, fora nossa família e amigos.
Hoje em dia, o mundo é muito globalizado e conseguimos ter acesso à cultura do Brasil em outros lugares. Quando dá saudade de uma comida brasileira, a gente consegue comprar ingredientes ou achar algum restaurante que sirva alguma comida mais próxima.
O que realmente faz falta é o convívio. Na vida de nômade, mesmo que façamos amigos, sempre vai ter a despedida e a pessoa vai se tornar uma amigo virtual. Não sentimos saudade nenhuma da falta de segurança do Brasil, ou pelo menos da sensação de insegurança. Também não sentimos falta da polarização. Não estar no Brasil durante a eleição foi um alívio.
Qual a dica para quem quer trabalhar viajando?
Vamos Fugir: Arranjar um trabalho que possa ser feito de maneira remota é o primeiro passo. Muita gente não entende que ser nômade digital não é uma profissão, é um estilo de vida que pode ser adotado por diferentes tipos de profissionais.
Planejamento também é essencial. Alguns exemplos são: ter seguro de saúde; deixar uma procuração no Brasil caso alguém que você confie tenha que resolver algum problema para você; e ter uma reserva financeira para o caso de uma emergência.
Outra dica é fazer a transição aos poucos. A vida de nômade digital pode parecer galmurosa, mas ela ainda é uma vida. Ainda vai ter o trabalho e outros tipos de dificuldades, e pode ser que algumas pessoas não se adaptem.
Antes de sair viajando, se você já tem um trabalho remoto, tente alugar uma acomodação dentro do Brasil mesmo e faça um período de teste com a rotina de nômade digital antes de se desfazer das coisas fixas que tem. É uma vida com muitas decisões importantes a toda hora, o que pode ser bem desgastante.