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Vício: Como saber se uso de Instagram e TikTok é exagerado

Cientistas dizem que dependência não ocorre do dia para noite, mas é um processo contínuo; ansiedade algorítmica é expressão que define como uso das plataformas afeta saúde mental

22 mar 2023 - 10h11
(atualizado às 10h37)
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Foto: Forbes

A expressão "ansiedade algorítmica" tem aparecido em artigos acadêmicos sobre o uso das redes sociais. O conceito tenta descrever as sensações de angústia e esgotamento que surgem da nossa relação com os algoritmos (sistemas de recomendação automatizados) das plataformas digitais, e traz à tona um questionamento importante: eles podem nos prejudicar nossa saúde mental?

Conforme especialistas ouvidos pelo Estadão, a resposta é sim. Do ponto de vista clínico, o psiquiatra Aderbal Vieira Júnior, responsável pelo ambulatório de atendimento do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que a dependência é um dos principais efeitos do algoritmo nos usuários. "O algoritmo é refinado cada vez que você clica em algo, cada vez mais você recebe informação que tem probabilidade maior de você gostar, que fideliza você de algum modo", diz.

Vieira Júnior destaca que essa dependência não é algo que ocorre do dia para noite, mas sim um "processo contínuo". Três sinais, de acordo com ele, podem indicar que o usuário precisa de ajuda de um profissional:

1 - Disfuncionalidade

Quando a pessoa começa a ter prejuízos. "Você começa a atrasar trabalho, deixa de fazer coisas porque está navegando", exemplifica Aderbal. Exemplos comuns são deixar de fazer tarefas da escola, faculdade ou do trabalho.

2 - Sensação de perda de escolha/liberdade

O usuário passa a se sentir preso e não entender porque passou tanto tempo online. "Poxa, eu não queria ficar 40 minutos vendo dancinha no TikTok' ou 'Estou dirigindo, mas tenho de dar aquela olhada no celular pra ver se alguém mais me mandou parabéns'", cita o psiquiatra.

3 - Empobrecimento existencial

Neste estágio, a pessoa percebe que começou a fazer menos coisas que antes lhe davam prazer e eram importantes. "Antes, eu via dancinha no TikTok e fazia mais 30 coisas da vida. Agora, percebo que estou vendo dez vezes mais dancinha e faz um tempão que não saio com um amigo, vou jogar futebol, tomar um sorvete na esquina. Isso foi tomando espaço de outros aspectos na minha vida", alerta o especialista da Unifesp.

Tratamento

Por ora, afirma ele, o tratamento dessa dependência é predominantemente psicoterapêutico, com foco no indivíduo olhar para si e para seus comportamentos. Quando são identificados outros quadros associados, como ansiedade e depressão, pode ser indicado o uso de medicações.

'Sociedade de abusadores'

Vieira Júnior também frisa que identificar situações de abuso e dependência é cada vez mais difícil. "Somos uma população mundial de abusadores de internet", afirma. "Como todo mundo é um pouquinho abusador, você perde contraste, fica difícil identificar o abuso."

O que dizem as redes

O Estadão procurou as empresas responsáveis por YouTube, TikTok, Instagram, Facebook e Twitter.

O TikTok enviou comunicado em que explica uma nova funcionalidade, lançada em 16 de março, que permite retornar a página "Para Você" (For You) às configurações iniciais, caso o usuário perceber que "as recomendações não são mais relevantes ou fornecem pouca variedade temática". Um desafio inerente a qualquer sistema de recomendação, segue a nota da empresa, "é garantir que a gama de conteúdo que aparece ao espectador não seja muito estreita ou repetitiva".

O Instagram informou que Adam Mosseri, seu CEO, já explicou como os algoritmos da rede funcionam em diferentes superfícies, além do "papel que cada um de nós tem na plataforma", diz a nota enviada ao Estadão. "Cada parte do aplicativo (Feed, Explorar, Reels) possui o próprio algoritmo adaptado à maneira como cada pessoa a usa (…) A maneira como você usa o Instagram influencia bastante o conteúdo que aparece ou não na sua tela. Você ajuda a aprimorar a sua experiência simplesmente ao interagir com os perfis e as publicações de que gosta."

A empresa informou que tem uma publicação na qual explica os "sinais" usados para classificar conteúdos (Entenda a classificação e os sinais). A plataforma também diz ter "desenvolvido recursos que ajudam as pessoas a controlar o tempo que passam e o que veem na plataforma".

O Facebook afirmou, em nota, que a empresa acredita ser importante ter transparência sobre como as recomendações baseadas em algoritmos são feitas. "Por isso, trabalhamos para ajudar as pessoas a entender e gerenciar as informações usadas para personalizar sua experiência. Por exemplo, em nossa Central de Ajuda há nossas diretrizes de recomendação e informações sobre o que influencia a ordem das publicações no Feed", disse.

"Projetamos nossos serviços para serem úteis, não viciantes, e tomamos muitas decisões em toda a empresa que refletem isso. As equipes que gerenciam como o Feed funciona não têm metas definidas em torno do aumento do tempo gasto na plataforma, porque queremos ter certeza de que as equipes estão focadas no valor que entregam às pessoas e não apenas no incentivo ao uso", completou.

O YouTube encaminhou um blogpost escrito pelo vice-presidente de Engenharia da plataforma, Cristos Goodrow. Nele, o executivo explica que o sistema de recomendação não se baseia em "fórmula pronta", mas está em "constante evolução". "Aprende diariamente com mais de 80 bilhões de pedacinhos de informação - que chamamos de 'sinais'", afirmou. Os sinais podem ser, conforme o texto, cliques, pesquisas de avaliação, tempo assistindo conteúdo e marcações de "gostei" e "não gostei".

"Mas sabemos que nem todo mundo quer compartilhar esse tipo de informação com o YouTube. Por isso criamos controles que ajudam cada um a decidir quais dados está disposto a fornecer. A qualquer momento é possível pausar, editar ou deletar o histórico de vídeos assistidos e o histórico de pesquisa no YouTube", escreveu.

Procurado, o Twitter não respondeu.

Estadão
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