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Volta às aulas: Brasil pode usar inteligência artificial para melhorar educação?

Alunos usando inteligência artificial têm deixado alguns professores em estado de alerta, mas, segundo especialistas, existe um lado bom

6 fev 2023 - 05h00
(atualizado em 8/2/2023 às 23h01)
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Inteligência artificial pode se tornar aliada de professores
Inteligência artificial pode se tornar aliada de professores
Foto: Unsplash

inteligência artificial é uma das tecnologias que têm alertado educadores, pois, no âmbito educacional, contesta modelos tradicionais de ensino e avaliação. No entanto, poderia o Brasil aproveitar a inovação em meio à volta às aulas?

Para alguns especialistas, sim – mas com cuidado.

Durante as últimas semanas, o centro das atenções foi o ChatGPT, chatbot que formula respostas no estilo "sabe-tudo" por meio de IA. A ferramenta têm sido utilizada por alunos para "colar" em exames, e algumas escolas responderam ao mau uso com o banimento da tecnologia. 

Nesses casos, detectores de plágio por IA poderiam auxiliar na identificação de conteúdos "copiados", mas também não há comprovações sobre a eficácia deles.

Alguns educadores, como Juliana Caetano Neto, pesquisadora em inovação e pós-doutora em educação pela PUC, acreditam que banir o acesso à tecnologia é o pior a se fazer nesse tipo de situação.

"Bloquear contato de uma criança com inteligência artificial é ruim, porque bloqueia a formação de discussões importantes", diz. 

Isso, por outro lado, não quer dizer que certas inovações devam ser enxergadas como "milagres", capazes de trazer qualidade a processos educacionais de forma automática. Novos produtos, como o próprio ChatGPT, devem ser usados pelos professores como complementos, e não como o centro do processo de aprendizagem.

"É preciso se certificar de que tecnologia está sendo usada para complementar o ensino, e não para substituir o papel do professor, que sempre será essencial na jornada do aluno", diz Martin Oyanguren, CEO do Educacional, setor de educação da Positivo Tecnologia.

Por meio de redes sociais, profissionais têm discutido maneiras de tornar o ChatGPT um poderoso assistente de sala, ao invés de um simples infiltrado. Algumas sugestões envolvem resumir textos e fazer perguntas complexas para debater, junto aos alunos, as respostas dadas pelo robô. 

Quando esse tipo de reflexão não acontece, diz Neto, o processo de inserir novas tecnologias nas escolas pode acabar sendo guiado por tendências que nem sempre correspondem ao que é melhor para o aprendizado. 

Professores devem abandonar pensamento "dualista" com tecnologia, diz especialista
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Foto: Unsplash

E como não restringir o uso à "moda do momento"?

A resposta pode parecer até contraditória, segundo Rodrigo Barbosa e Silva, pedagogo e pesquisador no Laboratório de Tecnologias de Aprendizagem Transformativa da Universidade de Columbia, nos EUA.

Na visão do especialista, não faltam problemas e desafios enfrentados pela educação pública brasileira, mas as escolas particulares são as que têm mais a aprender sobre o uso de tecnologias na educação.

Infelizmente, a falta de recursos no setor público é o que "incentiva" um uso proativo e, principalmente, crítico, de tecnologias, ao invés da simples "compra da tecnologia da moda" por parte das escolas particulares.

"Não é motivo de orgulho, mas é uma realidade", afirma Silva. "A educação particular, pela facilidade de comprar tecnologia, acaba caindo na armadilha de se tornar mera consumidora de recursos tecnológicos por motivos mercadológicos, em alguns casos. Isso forma estudantes que se tornarão usuários passivos, que vão só aprender a comprar tecnologias", completa. 

Ele cita "tecnologias construcionistas", como laboratórios de robótica que usam sucata e softwares livres, que podem ser acessados por qualquer um (como é o caso do ChatGPT), como locais em que crianças e docentes têm acesso a equipamentos de "construção digital".

Precisa de dinheiro para inovar na educação?

A OpenAI já anunciou que uma versão "premium" do ChatGPT será vendida a usuários, mas, por enquanto, o uso do chatbot é gratuito, assim como muitas outras interfaces de código aberto disponíveis para o uso em sala de aula.

Porém, o acesso a esse tipo de ferramenta depende de uma estrutura mínima para que os alunos consigam se conectar: computadores, celulares e internet – o que nem sempre é uma realidade.

Dados da última pesquisa TIC Educação, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), mostram que 82% dos professores das redes estaduais e municipais afirmaram que o número insuficiente de computadores por aluno "dificulta muito" na hora de utilizar tecnologias em atividades na escola, contra 49% das redes particulares.

Mais de 70% dos professores da rede estadual também afirmou que uma baixa conexão com a internet é um problema, enquanto pouco mais da metade dos educadores da rede particular possuíam a mesma queixa.

"Não dá pra dizer que não precisa de dinheiro, porque aí desautorizamos o poder público de fazer a parte dele de fornecer infraestrutura, o que é muito importante", diz Juliana Caetano Neto, da PUC.

A retomada de investimentos na área da educação foi uma das bandeiras de campanha de Lula (PT) na disputa pela presidência com o então presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao ganhar as eleições, Lula assumiu um Ministério da Educação com um orçamento para a educação básica 34% menor do que seu adversário, quatro anos antes.

O atual presidente já afirmou que irá recuperar verbas para a pasta. Em suas redes sociais, o ministro Camilo Santana também disse, no dia 11 de janeiro, que medidas em conversas com o presidente envolvem "alfabetização na idade certa, escola em tempo integral e escolas conectadas".

Fonte: Redação Byte
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