WhatsApp é aliado do SUS na luta contra a depressão em idosos; entenda
O programa 'Viva a Vida', feito através do WhatsApp, conseguiu apresentar melhorias para idosos atendidos pelo SUS com mais de 60 anos
Um estudo feito em Guarulhos, São Paulo, sugere que o programa Viva a Vida, por meio de mensagens de voz e imagens via WhatsApp, melhora quadros de depressão em idosos
Um estudo realizado em Guarulhos, São Paulo, aponta que o WhatsApp pode ajudar a combater a solidão e melhorar quadros de depressão em idosos. A pesquisa, publicada na Nature Medicine, foi liderada por Marcia Scazufca, professora na pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e pesquisadora científica no Hospital das Clínicas.
No total, 603 idosos participaram do ensaio. Todos eles tinham mais de 60 anos, já sofriam com sintomas de depressão e estavam registrados em uma das 24 Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Sistema Único de Saúde (SUS) da cidade.
Para selecionar os participantes, foi utilizada a ferramenta de triagem PHQ-9 (Patient Health Questionnaire-9, ou Questionário de Saúde do Paciente-9, em português). Esse questionário é amplamente reconhecido e validado para medir a presença e a gravidade dos sintomas depressivos.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos, um de intervenção, com 298 pessoas, e outro de controle, com 309.
O primeiro grupo recebeu do programa Viva a Vida duas vezes por dia, quatro dias por semana, por seis semanas. O segundo grupo recebeu uma única mensagem educacional durante o período. Nenhum dos grupos contou com suporte de profissionais de saúde.
Um ponto que foi considerado pelos pesquisadores foi o baixo índice de letramento digital da população idosa de baixa renda. Por isso, as informações que os participantes do ensaio recebiam eram comunicadas por mensagens de voz ou imagens. As mensagens tinham duração de três minutos de duração e não houve mensagens de texto.
Além disso, houve um cuidado específico para que a linguagem usada nas mensagens fosse de fácil compreensão, inspirada em programas de rádio populares.
"Nas mensagens de áudio, havia dois personagens (Dona Ana e Seu Leo) lendo e comentando cartas enviadas por idosos fictícios participantes do programa", pontua o estudo. "Através dessas cartas, eles compartilhavam histórias sobre suas vidas e sintomas de depressão, e como a intervenção do Viva Vida os ajudou a se sentir melhor."
Detalhes da pesquisa
De acordo com a pesquisa, a média de idade dos participantes era de 65,1 anos, sendo 74,8% mulheres, e 25,2% homens. Dos 603 participantes, 527 (87,4%) seguiram a avaliação.
O grupo que recebeu as mensagens com frequência do programa apresentou uma melhora nos sintomas de depressão de 42,4%. No outro grupo, a melhora foi de somente 32,2%. “Este resultado sugere que a intervenção por mensagens móveis foi eficaz no tratamento de curto prazo da depressão em idosos em áreas com recursos limitados de saúde”, afirma Scazufca, em comunicado à imprensa.
“A diferença de pouco mais de dez pontos entre a melhoria dos participantes do grupo de intervenção e dos participantes do grupo-controle talvez pareça pequena, mas, considerando que o programa ‘Viva a Vida’ tem um custo extremamente baixo e o potencial de alcançar uma enorme faixa da população, esses 10% podem significar milhões de pessoas", ressalta a pesquisadora.
Ela ainda argumenta que o Viva a Vida precisa ser visto como um primeiro passo para ajudar essa população, em conjunto com outras formas de intervenção.
Ainda, o resultado é especialmente significativo em um país de renda baixa e média, onde a população idosa está crescendo rapidamente e os recursos para saúde mental são frequentemente limitados.
O ensaio clínico foi apoiado financeiramente pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).